A culpa foi minha

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   Mal podia acreditar.

  Quando minha chefe me ligou, dizendo que tinha sido a escolhida para acompanhar a viagem, só faltei explodir de felicidade. Seria um passo gigantesco para minha carreira.

  Ah, esqueci de me apresentar. Meu nome é Helena, tenho 18 anos, e sou redatora na revista MegaTeen. Sou a redatora mais jovem da empresa; entrei há dois meses, e ainda nem concluí o ensino médio. É uma revista adolescente, e muitos têm preconceito com conteúdo voltado ao público mais jovem, mas tenho que começar de algum lugar, né?

  Voltando aos fatos, deixe-me explicar. A revista veio com uma oportunidade incrível: acompanhar a Seleção Brasileira Feminina de Futebol na Copa do Mundo mais televisionada da história. Resolvi me candidatar, e consegui a vaga. Normalmente escrevo sobre comportamento e empoderamento feminino, esse tipo de coisa, então essa viagem iria gerar um material valioso. 

  Quando me dei conta, estava num avião, indo em direção à França, para acompanhar de perto toda a rotina das meninas (que já estavam lá há alguns dias, inclusive. Chegaríamos a tempo apenas do último jogo da fase de grupos, pois a verba não era muito grande). Sou levada de carro, junto com outros membros da imprensa, para o hotel, o mesmo que a seleção ficaria. Não consegui conter um sorriso quando me dei conta de que as três pessoas da equipe eram todas mulheres. 

  - Helena, Jade, temos um problema - fala Lia, uma das mulheres da imprensa. - só podemos fazer check-in daqui a três horas.

  Jade bufa.

  - Calma, gente. - digo - Vamos matar tempo por aqui mesmo. Vai passar rápido. 

  As meninas sentam nos sofás da recepção, mas não consigo; estou animada demais. Pego meu celular e decido dar uma volta pelo hotel. 

  O lugar é lindo de morrer. Quatro estrelas, a recepção é toda feita em mármore branco. Uma verdadeira maravilha aos olhos. Ando mais um pouco, e encontro uma área externa, com restaurante e uma parte com piscinas. Pena que estou a trabalho. 

  Passeio por mais um tempinho, e quando olho no relógio, só se passaram trinta minutos. Decido então revisar algumas matérias que já estavam prontas, já que além das especiais da viagem, teria que entregar também as do meu calendário normal. 

  Pego meu celular e vou a procura dos arquivos, enquanto me dirijo a uma das cadeiras na área da piscina. Péssima ideia. Sem olhar direito para onde estou indo, esbarro com força em alguém,  e meu celular voa longe. Como se não bastasse isso, me desequilibro no piso molhado e quase caio no chão, se não tivessem me segurado.

  - Me desculpa, minha culpa! - digo, sem pensar no fato de que seria pouco provável que a pessoa falasse português. 

  Olho para  ver quem está me segurando. Uma moça, mais ou menos da minha altura e com cabelo curtinho, me olha com um ar confuso. 

  - Ahn... desculpa, eu não falo português - ela diz, em italiano, me ajudando a ficar em pé. Devo ter feito uma cara de quem não estava entendendo, pois ela em seguida pergunta - Do you speak english? (Você sabe falar inglês?)

  - Sim, eu falo. - respondo, em inglês - e tinha pedido desculpas por ter esbarrado em você. Foi minha culpa.

  Ela sorri. Que sorriso lindo, penso. 

  - Foi minha culpa também, não se preocupe... qual o seu nome?

  - Helena - digo - o seu?

  - Manuela - ela me encara, me deixando meio desconcertada - aquele ali era o seu celular? 

  Olho para onde ela aponta. Meu celular novinho em folha, agora com a tela quebrada e todo encharcado. Minhas matérias.

  - Merda. 

   Vou até ele e o pego. Aperto o botão de ligar, mas nada acontece. Solto um suspiro de frustração.

  - Conseguiu ligar? - Manuela pergunta.

  - Ainda não. Mas vou ter que dar um jeito, senão estou muito ferrada. - solto uma risada nervosa.

  Ela meio que ri junto.

  - Tenho uma ideia que acho que vai ajudar. Vem comigo. 

  Levemente contrariada, a sigo pelo hotel. Entramos no restaurante, e fomos até o balcão. Manuela diz algo em francês para o atendente, que rapidamente entra na cozinha.

  - Temos uma poliglota aqui, hein. - brinco - quantas línguas você fala?

  Ela ri, enquanto nos sentamos no balcão do bar. O restaurante está vazio a essa hora; ainda é muito cedo. 

  - Bom, eu falo italiano, que é minha língua natal. - ela passa a mão pelos cabelos, tirando do rosto - e também falo inglês, francês e arranho um pouquinho de espanhol. 

  Arregalo os olhos, mostrando minha admiração. 

  - É meio que necessário para o meu trabalho, principalmente o inglês. E graças a Deus eu tenho facilidade de aprender. - explica.

  - Nossa, eu só sei português e inglês, e olhe lá. - ela ri.

  - É de Portugal? - pergunta, e falo que não. - Brasil, então? - faço que sim. - O que veio fazer na França?

  - Estou a trabalho - paro por um instante, ponderando se devo dar mais detalhes - Acompanhando a seleção de futebol feminino do meu país. Elas estão nesse hotel.

  Manuela faz uma expressão estranha. Ela passa os dedos pela barra da manga do casaco, como se estivesse nervosa.

  - Jornalista esportiva? - pergunta.

  - Jornalista, sim. Mas minha especialidade não é esporte. - olho para as minhas mão e sorrio - gosto muito de futebol, mas confesso que o futebol feminino é um meio novo para mim. Você gosta?

  Ela sorri.

  - Você não acreditaria no quanto eu gosto. - ela limpa a garganta. - mas não me surpreende que seja novo para você. Para todo mundo, na realidade.

  - Exatamente! - começo a me empolgar - é muito pouco valorizado. Fiz uma leve pesquisa para esse trabalho, tenho muito mais para estudar ainda, mas a diferença de reconhecimento entre o masculino e feminino são muito evidentes.

  - Eu entendo demais o que você está falando. - ela diz.

  - Entende? - ela faz que sim - Você trabalha com o que?

  Antes que ela pudesse responder, o atendente volta com uma tigela a cheia de arroz cru. Manuela me diz para mergulhar meu celular no arroz e deixar por algumas horas, que voltaria a funcionar. 

  - Eu tenho que ir. - ela diz - A gente se vê por aí? 

  Faço que sim com a cabeça, e ela anda até a porta.

  - Manuela? - chamo, e ela se vira. - Muito obrigada. Pelo celular. Salvou minha vida, juro.

  Ela abre um sorriso.

  - Não foi nada. Boa sorte na sua pesquisa. - diz, e sai do restaurante.


***

Oi gente! Espero que estejam gostando até aqui. Quanto tempo será que a Helena vai levar para descobrir quem realmente é Manuela? Deixe aqui nos comentários! Ah, e não se esqueça de favoritar, para eu poder continuar atualizando.









The Journalist - Manuela GiuglianoOnde histórias criam vida. Descubra agora