Capítulo 23 - Parte I

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23 - I

Eu vejo que ela não tá nada bem

ETHAN ANDERSON


          O sinal da quarta para quinta aula toca, me libertando de mais uma escravidão estudantil inútil. Até ter saído da sala do professor Truman após uma insuportável explicação sobre os pontos cardeais e a invenção das bússolas, haviam motivos para o meu humor estar em níveis tão negativos quanto a temperatura da Antártida. Tudo se resumia a uma mísera palavra, tédio.

 No entanto, ao passar em frente a porta aberta do professor Wagner de história, o que dominou o meu corpo foi uma coisa diferente de tédio ao notar que, mesmo após o sinal, a Mila continuava sentada na cadeira que fazia dupla com Logan Morin.

 Os dois conversavam como se tivessem assunto para uma década, mas o fato de o Morin estar com a expressão igual a de uma pessoa recebendo a notícia de que o seu bichinho de estimação morreu é refresco para os meus nervos em chamas.

— Espionando a concorrência, Ethan? — Thomas pergunta ao aparecer de algum canto do corredor.

— Cala a merda da boca. — Peço, não sendo nada educado.

 A mesma educação foi embora e se perdeu no instante em que comecei a assistir a cena da Mila e daquele cara conversando. Estou tendo problemas para pensar de maneira racional desde que fiquei ciente da merda de favor que ela aceitou dar de bom grado ao imbecil do Logan. Ao que parece, enquanto eu ganho todos os seus nãos, ele ganha um sim e de brinde um abraço. Eles mal se conhecem e já estão se abraçando, enquanto eu me esforço a dois meses inteiros e ela ainda questiona a droga de um beijo na bochecha. 

 Se dá para perceber a injustiça disso? Com toda a certeza.

 Mas não é só isso que desperta a minha indignação. O fato dela nem questionar se ele está ou não a usando é a chave principal para um acesso silencioso de revolta. Na minha sábia opinião, Logan só quer uma vingança fria por eu ter dormido com a ex-namorada dele. E no que depender de mim, esse otário não vai conseguir, já que ele ficar com a Mila implica comigo estagnado sendo apenas um colega ou um amigo, seja lá o nome que ela deu para nossa minúscula relação.

Ficar congelado em uma zona perigosa, sem nenhuma demonstração de sentimentos da parte dela a não ser um abraço que não significou nada além de "fazer pelos outros o que não fazem por mim", é o auge dos meus piores pesadelos com uma garota. É frustrante.

— Se sentindo ameaçado? Que dó da sua masculinidade frágil, com medo de perder a garota. Tô morrendo de pena, se quiser um ombro amigo para chorar. — Ele fala tudo com a voz de alguém conversando com um filhote de cachorro fofo. O que me faz respirar fundo para não acabar com os meus nervos queimados de raiva.

— Falou o cara que passou a noite em um bar chorando pelo pé na bunda que levou da ex-namorada. — Respondo em provocação.

— Não precisa me lembrar disso. — Diz, como se ainda estivesse magoado pela Baron.

 É tão estúpido se deixar ficar mal por uma garota. Mais estúpido ainda é a coincidência dos meus dois melhores amigos ficarem mal pela mesma garota.

— Eu avisei que Luísa Baron não valia a pena.

— Também não precisa me lembrar disso.

 Quando começo a achar que tanto a Mila quanto o Logan foram colados na cadeira, eles levantam. Ela está usando uma daquelas tocas de pompom que a deixam fofa e um casaco roxo escuro que usa mais do que os casacos das outras cores. Engulo em seco quando ela me lança um sorriso tímido ao caminhar na minha direção.

Era Amor Ou Uma Aposta?Onde histórias criam vida. Descubra agora