Capítulo 18 - I

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Capítulo 18 - I: Duas versões de uma história.

MILA BROWN

— Eu desisto, pra mim já chega. É impossível encontrar o maldito valor de x. — Ele reclama de novo, jogando com raiva o lápis sobre a folha ameaçada pelas diversas vezes que as contas ali foram apagadas.

 Me seguro para não rir do seu drama com a matéria.

— Pensei que você fosse incrível em tudo que fazia. — Digo sem tirar a atenção que estava dando para a questão de número sete.

— Matemática não está na minha lista de coisas em que eu sou bom. Me ajuda, por favor. Você parece entender a lógica maluca dessa mistura de números e símbolos.

— Se eu te ajudar você me deixa em paz?

 Com as sobrancelhas arqueadas, olho para o garoto loiro sentado na cadeira a minha frente. O olhar de canto para trás e o sorriso presunçoso estampado no rosto me entregam a sua resposta, ele não vai me dar o espaço que eu quero.

 Me afastar dele está cada vez mais difícil com todas as aulas que estamos frequentando na mesma classe. As maneiras que eu busco de me manter longe parecem falhar miseravelmente me obrigando a me equilibrar em uma corda bamba com medo de cair no seu papo furado. Porque é assim que eu estou me sentindo ao lado do Ethan, a cada momento que estamos juntos e uma borboletinha consegue se libertar do casulo dentro do meu contra a minha vontade, mais distante eu me vejo do lado seguro e livre de sentimentos indesejados.

— Não posso prometer nada. Mas se você não me explicar eu não vou parar de te pedir. — Me alerta com o semblante sério que me faz prever os próximos minutos se a minha resposta for um grande não.

— Tudo bem. — Ele sorri como se estudar matemática fosse o mais empolgante dos projetos. — Mas se não prestar atenção quem vai desistir sou eu, e não estou brincando. Em qual questão você está? — Minha voz soa autoritária, mas não o suficiente para desmanchar o sorriso carimbado no rosto dele.

— Na primeira. — Sua resposta é pouco receosa. Minhas sobrancelhas se levantam em descrença por ele ter passados os últimos trinta minutos sem conseguir algum tipo de progresso.

— Ainda?

— A culpa não é minha se essas contas foram criadas por gênios matemáticos que querem nos obrigar a aprender as coisas inúteis que eles descobriram. —  Se justifica, girando o corpo na cadeira para colocar o caderno em cima da minha mesa. — Agora me explica como que se chega nesse resultado.

— Não é tão difícil quanto parece. — Digo, engolindo a bola que se formou no alto da minha garganta quando o seu braço ficou por cima do meu e seus dedos começaram a fazer o movimento de pequenos círculos na minha pele. É preciso fechar os olhos com força para deixar em segundo plano o gelo que inicialmente se fez presente na minha barriga e se espalhou pelas minhas costas. Minha mão parece mole quando vou pegar a lapiseira e os números que escrevo no papel ficam totalmente trêmulos.

 Conforme eu vou ensinando o passo a passo para se chegar no resultado final reparo que o foco dele não está no cálculo que ocupa metade da página. Ele nem faz questão de fingir prestar atenção na folha quadriculada quando pego os seus olhos azuis presos em mim. Ao invés disso, Ethan apenas mantém os lábios esticados fazendo a raiva circular junto com o meu sangue por ele sempre estar com esse maldito sorriso bonito no rosto que deixa as minhas bochechas queimando e meu estômago parecendo uma centrifuga que dá diversas voltas.

— Você não está prestando atenção. — Recrimino sem disfarçar o quanto estou brava por ter passado os últimos três minutos aparentemente falando com a parede ao meu lado.

Era Amor Ou Uma Aposta?Onde histórias criam vida. Descubra agora