Amores

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Acordo numa manhã ensolarada. Minha mãe estava abrindo meu guarda- roupa em silêncio para não me acordar, mas foi em vão.

- Bom dia! - digo a ela. Quando ela se vira surpresa de em pleno sábado eu acordar cedo, solto beijinhos. Ela sorri.

- Bom dia, meu amor - ela vem ao meu encontro e me dá um beijo na testa, seus olhos verdes, seu cabelo negro e uma pele muito bem cuidada, nem faz parecer que ela já tinha trinta e nove anos de idade - Hoje vou doar sangue... vem comigo?

- Na campanha? - penso ponderando a dor.

- Sim - seus olhos pareciam cintilar, no seu olho esquerdo, uma pintinha tinha sua cor negra e formato redondo. Seria um sinal de que minha mãe era mais especial? Não sabia ao certo, porém eu herdei a mesma pintinha, no mesmo lado do olho que ela.

- Te espero então... na sala de jantar, pode ser?

- Claro! - ela sai me dando um beijo na testa. Ouço a voz dela do lado de fora falando com meu irmão. Sempre suave, sempre uma mãe maravilhosa... ela sempre era ela mesma, uma mãe cuidadosa e forte. Lembro-me da sua história, de como se formou em Psicologia e como ela batalhou por tudo na vida. Ela era minha inspiração.

Isso me faz lembrar do sonho que estive tendo, logo após as duas horas da manhã, horário que ficava conversando com Kaique sobre várias coisas, ele sabia muito sobre tudo, era realmente esperto, mas não entendia porque uma pessoa como ele, que sempre fora criado com tudo que queria, fazia questão de voltar para casa bêbado, com garotas bêbadas ou drogadas. Literalmente, eu não entendia... Sim, sinto algo em meu peito, era ciúme dele! Só minha melhor amiga, quase uma irmã de mãe diferente para mim, sabia que eu gostava dele... Além de meus irmãos, é claro! Meus pais não sabiam de nada, eu tinha vergonha de que eles soubessem de algo! Meus pais sempre foram tranquilos, mas será que aprovariam? Sabe, Kaique era gentil e educado quando queria, teve uma ótima criação, mas sempre estava bebendo ou fumando perto da escola e minha mãe via tudo... isso poderia passar uma má impressão para eles! Suspiro... sei que me desviei do que estava pensando... isso sempre acontecia comigo. Sorrio para o teto, onde me deparo com um pôster do anime Hotarubi No Mori E, olhando para o personagem Gin, eu penso em espíritos... SIM! Era esse o sonho.

Lembro-me de alguém me chamando pelo nome, dizendo para eu ter cuidado, lembro-me de um rapaz muito pálido, não conseguia ver sua face direito, parecia borrada, ele falava para eu falar com minha mãe... Lembro de ver um machado atrás dele, como se cortasse algo que iria pegá-lo... que sonho estranho! Ou eram minhas paranoias que estavam fazendo efeito?! Estico minhas mãos e pego meu celular em cima do criado mudo, ao lado de minha cama. Mando bom dia para Michele, ela me responde no mesmo instante, com uma carinha de corações no final, que fofa!

Levanto-me e me olho no espelho, meu cabelo ondulado todo bagunçado fazia meu rosto não ser tão oval, minha pele parda me lembrava mais a minha avó do que o meu pai, minha estatura de 1,59 me fazia mais alta que minha mãe e quase da altura de meu pai. Mas esses olhos... Eu não os entendia! Meus olhos nasceram num tom azul bem claro, com meus dois anos de idade ficou num tom cinza, aos três anos mudou para um verde bandeira intenso e aos cinco anos ficou amarelo, porém, perto da pupila, era azul com tons marrons e na borda estava no tom verde limão. Contudo haviam dias e dias... hoje ele estava mais amarelo que ontem... e só Deus sabe que cor ele estará amanhã. Minha mãe diz que isso é por causa do meu pai... como se ela não tivesse uma genética complicada! Sorrio pensando nisso. Vou pentear meu cabelo, sua raiz lisa faz o pente escorregar, mas a ponta enrolada faz meu cabelo tecer e dar alguns nós. Depois de passar um pouco pela dor, pego minhas roupas e vou para o banho.

***

Saio com o cabelo molhado e vestindo uma regata branca, calça preta e meu All Star clássico. Assim que começo a descer as escadas da casa, deparo-me com as cópias mais perfeitas: meus irmãos. Eles eram gêmeos idênticos, porém havia uma pequena diferença que quase ninguém via, o mais velho, Enzo, possuía olhos azuis que em sua pupila era de um marrom intenso. Enquanto o do meio, Raphael, tinha olhos verdes, e em volta de sua pupila era num tom amarelo. Eu era a mais nova, com dezessete anos, os gêmeos eram dois anos mais velhos que eu. Meu pai estava pegando os biscoitos que minha mãe passou requeijão, seus olhos cor de mel com fundos em dégradé entre verde limão e marrom bem claro davam um contraste perfeito em sua pele morena. Seu cabelo era cacheado e ele cortava
quase como num moicano, ele estava com quarenta anos e com um espírito de vinte, assim como minha mãe.

Série Almas No Infinito: Mostre-me Um CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora