Setor 464

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    Chego próximo às portas, na Zona 886, passo a lança para a outra mão e abro minha mão esquerda, onde a flor de lótus brilha, mexo então meu mindinho e Heitor aparece diante de mim, a lança desaparece. Ele estava com um sorriso lindo e bobo na cara, aquilo faz meu rosto esquentar, pois mesmo não querendo ser repetitiva, Heitor era realmente um rapaz muito bonito.

- Finalmente! – ele diz ainda com o sorriso – Eu só não sabia que você controlava o vento... – ele parece pensar – Com ela foi diferente... – ele resmunga baixinho.

- Ela quem? – pergunto e minha voz sai meio ignorante. Ele me olha com um pequeno espanto, mas vira as costas e finge não ouvir minha pergunta. Ele sai andando e eu o sigo, será que falei algo que o deixou magoado? Será que eu não podia saber? Será que era sobre alguém que ele perdeu ali? Minha cabeça começa a pipocar coisas sem sentido até para mim!

- Temos que ir pro Inferno Menor, procurar aqueles idiotas que me fizeram ficar que nem um louco mais uma vez...

- Porque se refere a eles assim?

- Você vai entender quando os ver – ele se vira e pisca para mim. Passamos por várias portas... mas eu não achava a qual ele queria.

- Posso ajudar, Senhor e Senhorita? – uma voz delicada surge ao meu ouvido e me viro para trás. Não havia ninguém, saio correndo e me abraço no braço de Heitor.

- Olá, Clarisse! – ele move a cabeça para cima e eu o acompanho. Uma jovem parda, com olhos violetas, cabelos ruivos e uma asa laranja estava voando calmamente acima de nós. Ela tinha cordões de ouro, braceletes de bronze e um vestido de cetim lilás lindo.

- Uma fada?! – digo, olhando-a impressionada.

- Sim, sou um espírito com asas de borboleta que os humanos chamam carinhosamente de fada... mas Heitor, você aqui é uma surpresa pra mim... – ela o olha ternamente.

- Trabalhos né... diga-me onde fica o setor 464?

- Eu levo você lá! – sua voz é animada e rapidamente ela estala os dedos e nós nos deparamos em frente a uma porta de madeira, com maçaneta de ferro preto, onde lia-se "Inferno Menor" com uma carinha feliz.

- Obrigada, linda fada – Heitor fala sedutor e eu fico com ciúmes.

- Não tente jogar esses truques pra cima de mim, estou aqui há novecentos e quarenta anos e você nunca conseguiu... – ela ri, levando-o a rir também.

- Bom, é aqui que começamos, Emanuelle – ele abre a porta, a fada me dá tchau e ele me empurra para entrar na frente.

    Esqueço-me que Heitor é chato às vezes, porém entro na frente e me deparo com uma pequena cidade. Os habitantes dali me olham estranho, alguns deles tinham marcas em suas faces, do lado direito, como se fosse um círculo, outros eram em outras partes do corpo. Eram marcas de vários tamanhos e de colorações escuras, às vezes cinza, marrom ou preto. Heitor para ao meu lado, ele fecha os olhos como se sentisse algo. Todos naquela cidade se vestiam com roupas sociais, de todas as cores.

- O QUE ESTÁ FAZENDO POR AQUI, MEU GAROTO? – um senhor de uns sessenta anos para ao nosso lado e grita todo feliz, como se fosse uma pessoa com problemas de surdez e dá um tapão nas costas do meu acompanhante. Ele abre os olhos e os revira, olhando pro velho.

- Oi, pai... – ele o cumprimenta.

- Está nesse trabalho de novo? – a voz do homem é melancólica e ele olha-me com uma repulsão, seus olhos eram num verde abacate sinistros.

- É um dos únicos que tenho... com licença, pai! – Heitor começa a me puxar – Manda um beijo pra mamãe! – ele sorri e acena, andando rápido.

- Que lugar é esse? – pergunto.

- O Inferno Menor...

- Sim, mas...

- É uma cidade, não é o Inferno dos humanos... – nós caminhamos em direção a uma floresta – Nessa floresta existem vários setores, os bichos daqui não vão para a cidade, pois eles não têm permissão, mas qualquer um que entre aqui, eles podem devorar... Não ache que será fácil, porque essa cidade só tem esse nome por causa dessa floresta. Ela é chamada de Floresta Roxa, pois todos dentro dela tem sangue roxo... Uma coisa meio maluca...

- E por que seu pai mora aqui?

- Meu pai... Na verdade eu tenho vários pais... e mães também... Eu tive umas quinze reencarnações quando meu espírito foi, digamos, fabricado... Dois dos meus pais vivem aqui... – ele me surpreende contando, acho que não esperava por isso. Não sou capaz de perguntar nada, não sabia que ele já era tão vivido. Era meio que estranho para eu ouvir aquilo, quando eu era só humana, eu só ficava imaginando como era, mas ao mesmo tempo não acreditava em nada. Apenas continuo andando com ele, até pararmos numa cerca com um aviso "Não passe por aqui, sujeito a desaparecer!"

- Criativo... – digo pensando no marketing que isso teria se fosse na Terra.

- Concordo... Vamos! – Heitor passa por umas partes da cerca que estavam violadas e eu vou atrás. Um tambor soa alto e vejo um pé com botas de couro marrom em nossa frente, porém um pé enorme, maior que toda a minha casa.

- JULIAN! – grita Heitor. O pé começa a se mexer, eu não sabia se aquilo era bom ou não. Então aquela coisa começa a se levantar, e um rapaz branco, com olhos negros e um cabelo liso cortado em máquina três aparece. Era um gigante! GIGANTE! O que é que eu estava vendo?!

- Heitor, eu estava dormindo! – diz o rapaz – IIH, VOCÊ VEIO COM ALGUÉM?! – ele grita animado – Espere um pouco! – Julian brilha intensamente e eu fecho os olhos, quando percebo que a luz para, Julian está a minha frente, muito menor que era antes, porém maior até que Heitor – Desculpe os maus modos... Como posso ser útil? – ele se vira para Heitor.

- Código 7899341.2350 – Heitor fala número por número e um ponto e sorri e Julian arregala os olhos e eu não entendo nada.

- Tem certeza? – Julian parece confuso e me olha de relance.

- Perfeitamente...

- Ela os perdeu? – Julian pergunta baixo pensando que eu não ouvi, Heitor balança a cabeça em positivo e seu sorriso desaparece - Como aquela outra? – mais uma vez meu acompanhante balança a cabeça.

- Não muito parecido... – acrescenta Heitor, só que ele encara Julian como se quisesse dizer algo, como se algo fosse segredo.

- Pois bem. – Julian fecha os olhos – Sim, eles estão em lugares distintos da floresta... Dois em cada subdivisão! Cuidado! – Heitor me abraça forte e o chão se abre.

    Começo a gritar, Heitor sorri commeus gritos e penso se eu estou sendo levada para a morte ou estou indo para oInferno mesmo!

Série Almas No Infinito: Mostre-me Um CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora