Minha Mãe

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    Heitor vira a maçaneta de uma das portas, abrindo-a. Ele vai primeiro e eu o sigo, sinto os outros olharem tudo ao redor, eu também faço isso. Eu estava no hospital, numa cama, em coma. Em pé ao meu lado, estava minha mãe, ela segurava a minha mão, não tinha lágrimas nos olhos, apenas um olhar tristonho... O que será que ela estava pensando? Ela suspira alto no momento que a vejo ficar arrepiada.

- Emanuelle... – ela diz fracamente ainda olhando para meu corpo – Então é isso... – ela solta a minha mão, pondo-a delicadamente na cama.

- Mari... – diz Heitor, sua voz carregada de sentimento. O que estava acontecendo ali?

- Eu vou voltar, mãe! Prometo! – digo, mesmo sabendo que ela não podia me ouvir. Surpreendentemente ela olha em nossa direção, parecia com um olhar mortal, uma mistura de raiva e petulância, nunca a vi de tal modo... e olha que quando minha mãe estava brava ela ficava assustadora!

- Emanuelle, escute bem o que eu falo para você, acredite em si mesma, você vai sair dessa! Afinal, você é minha filha e carrega o nome dele! Sobreviva, Emanuelle! – sua voz firme me faz arregalar os olhos. Ela podia me ver? Ela sabia que eu estava ali? Ela conseguia ver os outros? As perguntas flutuavam na minha cabeça, o que ela sentia? Por que ela estava falando aquilo?

    Alguém abre a porta, era meu irmão, Raphael, ele estava um pouco mais magro, mas estava abatido, seu olhar triste me corta o coração.

- Papai acabou de ligar... Pediu para você esperar só mais um pouco que ele está chegando! – ele diz.

- Tudo bem, meu amor... – ela o abraça carinhosamente, seu rosto muda drasticamente, parecia uma outra mulher, calma, serena, amigável, fofa... Nada parecida com aquele olhar guerreiro que ela tinha há pouco tempo!

- Ela vai ficar bem, né? – pergunta ele. Sinto sua voz insegura, sinto meu peito doer de tanto que via aquilo... me doía.

- Claro que vai... Ela é tua irmã, não se esqueça disso! – ela sorri para ele.

- Eu te amo, mãe... – ele diz repentinamente. Lágrimas surgem em seus olhos, sei que ele deve se sentir culpado, afinal era ele quem estava dirigindo o Jeep naquele maldito dia que fomos para aquela festa!

- Obrigada por ser meu filho, Raphael... – ela diz. Ela nem percebe a porta se abrir, era Enzo. Ele fica olhando os dois, sorri fracamente, depois olha para meu corpo.

- Posso participar? – ele pergunta.

- Mas é claro, meu amor! – minha mãe olha para ele estendendo a mão, ele se junta ao abraço. Seus olhos cada vez mais intensos, também estavam abatidos, até mesmo com olheiras! Não queria mais os ver daquele jeito.

- Está na hora... – diz Heitor, olho para ele, vejo seus olhos vermelhos, parecia que até mesmo ele estava brigando com as lágrimas que teimavam em querer descer...

- Ok... – digo e uma porta surge, antes que eu vire as costas olho mais uma vez para eles, eu queria fazer parte daquela cena! Olho uma última vez para minha mãe, aquele olhar forte volta e antes que Heitor me puxasse para ir de volta àquele lugar, vejo-a balbuciar uma única palavra:

    "Volte!"

Série Almas No Infinito: Mostre-me Um CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora