Subdivisão 1 - Pontal das Cachoeiras

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    O ar era extremamente quente! Em uma parte do túnel que tento parar de gritar, tudo era muito quente, o vapor que subia parecia ser exatamente do Inferno, que como percebi, não era um Inferno idealizado dos humanos.

- VOCÊ SABE CAIR EM PÉ? – pergunta Heitor aos gritos.

- NãããÃÃÃÃããOOOoooo – respondo gritando e sem saber ao certo porquê minha voz não tinha força o suficiente.

- ENTÃO APRENDAAAAAA! – ele me solta e vejo algo se aproximando, sim, era o chão e eu tô caindo muito rápido. Heitor se prepara e cai perfeitamente, eu caio de cara no chão, como um crepe de queijo branco derretido.

- Porra, isso machucou! – digo e recebo um tapa na cara. Olho para Heitor rindo, e fico me perguntando o que aconteceu! Percebo que quanto mais eu xingo, mas eu era violentada de maneira diferente.

- Tem areia no seu cabelo e no seu rosto... – ele me avisa e começo a sacudir minha cabeça e limpar meu rosto – Enfim, estamos aqui...

    Olho e ali parecia o paraíso, e não uma subdivisão do Inferno Menor... Areia branca, fina e com poucas conchas, uma cachoeira incrivelmente linda, com águas cristalinas, uma pedreira enorme, coqueiros e palmeiras para além da praia, fazendo um contraste com a grama que começava a partir das árvores.

- Que incrível! – digo sorrindo para Heitor. Ele me olha confuso, como se eu fosse desequilibrada mentalmente.

- Você é que é incrível... – ele diz chegando próximo a mim e me virando para o lado que eu estava de costas – Incrivelmente exótica – ele completa, quando minha fisionomia muda. Atrás de mim, havia uma areia cinza, cheia de pedras, lodo e bichos. A cachoeira tinha uma água barrosa e fedida, a pedreira era lodo puro, as plantas estavam mortas e secas, a grama também. Ossos enfeitavam a grama próxima a uma árvore espinhosa, a única viva por ali.

- Mas... – digo e olho para trás. A paisagem magnifica ainda estava lá.

- A parte bonita serve para cura, quando algum dos espíritos que vivem lá nas trevas se arrepende de coração eles vem aqui, se for verdadeiro o que eles sentem, a água os limpa e alguém do Julgamento vem buscá-los. Caso o contrário, a água o cospe de volta.

- Que terrível! – digo voltando para a direção de Heitor, o vejo sério.

- Já nos notaram... – ele me puxa para o lugar sem vida. Da terra brota três siris, com caras malvadas, indo em nossa direção, logo eles tornam-se pessoas nuas, com olhos pretos e aparência derretida. Corro bem mais rápido que eles, Heitor também. Ele adentra na floresta e eu vou atrás, com muito medo. As árvores secas parecem se mexer e nos seguir, passamos rapidamente por elas, quando me deparo com dois rapazes vestidos de roupas sociais de épocas atrás, época essa que duvido que minha mãe tenha pego. Seus cabelos eram compridos, seus olhos vendados por um pano preto, uma blusa cinza e um suspensório marrom, preso numa calça social da mesma cor. Eles nos encaram e sorriem, seus dentes eram podres, as mãos deles derretiam e onde pingava, lodo ácido corroía. Engulo a seco.

- Vejo que eles já chegaram, irmão...

- Claramente vejo, irmão...

- Vejo luz, irmão...

- Também vejo, irmão...

- A vibração da garota, irmão...

- Podemos comê-la, irmão...

    Não entendo o porquê de tanto "irmão" em suas falas, mas antes que eu possa falar qualquer coisa, os gêmeos abrem a boca, de lá sai um barriu pequeno, eles os abrem com a boca e bebem algo que não percebo o que é, até escorrer pelo canto da boca do rapaz À minha esquerda. Era lodo.

Série Almas No Infinito: Mostre-me Um CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora