10. Hospital.

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O final de semana foi silencioso dentro de casa. Papi estava o tempo todo ocupado em seu escritório e mami não havia saído de seu consultório. Aparentemente seus clientes estavam dando mais trabalho do que ela imaginava.

Eu tentava a todo custo me concentrar na leitura de Dom Casmurro, mas parecia que pensamentos surgiam a todo o momento e eu não conseguia me concentrar em uma única página por completo. O hóspede do quarto da frente era um grande motivo para isso acontecer.

Falando nele, tinha sumido. Confesso que sentia falta dele alguns momentos, mas dentro do quarto ele ficou e não ouvi saindo durante o resto da noite e nem durante o dia de sábado.

Gertrudes estava preocupada. Não sei o que esse garoto tinha feito com ela para que ela gostasse tanto dele a ponto de perguntar a todo minuto e falar dele sempre que me via. Até que ela não aguentou e em meio ao meu almoço sagrado decidiu que iria até o quarto dele, mas sem sucesso, não foi atendida.

— Você poderia tentar conversar com ele e ver se ele come alguma coisinha, né, Babi? — disse ela pegando uma bandeja.

— Ger, não me mete nessa — revirei os olhos. — Se ele não falou com você, quem diria comigo?

— Você poderia ao menos tentar?

Eu não conseguia negar nada a ela e por isso peguei a bandeja com o prato de comida bem saudável que ela havia feito e subi as escadas em direção ao quarto dele. Bati duas vezes e nada.

— Você bem que poderia ser um pouco legal e abrir a porta, né? — parei sobre um dos pés e nenhuma resposta. — A Ger tá bem preocupada.

Até que parei de falar e tentei girar a maçaneta, que estava incrivelmente aberta. Ele nunca deixava aberta. Algo errado estava acontecendo, por isso entrei no quarto que estava completamente escuro. Com as mãos, procurei a mesa do quarto e deixei ali em cima a bandeja.

Por conta do silêncio, conseguia ouvir a respiração de Gael vindo da cama e então ao invés de ligar a luz, abri uma parte da cortina.

Ele estava deitado de bruços, aparentemente muito coberto para um dia que não estava muito frio. Me aproximei e toquei suas costas, vendo que sua temperatura estava muito elevada.

— O que foi, boneca? — sua voz estava rouca e eu me assustei.

— Você está muito quente.

— As meninas costumam dizer isso — ele riu sínico e eu bufei.

— É sério, o que você tem? Está trancado aqui desde ontem à tarde, não está comendo — sentei-me na ponta da cama e ele se remexeu para olhar para mim. — A Ger está bem preocupada.

— Só não estou muito disposto — ele abriu um sorriso tímido. Seus olhos estavam inchados de sono, assim como seu rosto estava marcado do travesseiro.

— Quando eu ficava assim, mami sempre me levava ao médico — falei ficando em pé. — Eu vou te levar no médico. Me ajude!

— Médico? — ele jogou-se mais uma vez na cama. — Não mesmo, Bárbara.

Liguei a luz e peguei uma camisa que estava jogada em cima da cadeira do computador. Andei até a cama e o puxei pela mão. Em meio a reclamações ele ficou sentado e eu passei a blusa pela sua cabeça e os braços com sua ajuda.

— Suas calças? — perguntei olhando em minha volta e encontrando uma calça de moletom no canto. — Acho que você pode vestir sozinho.

Boneca, sem chance de irmos ao hospital — ele disse. — Não tem nada de mais, beleza? Eu só...

Declínios de Uma Adolescente Rica [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora