O final de semana foi silencioso dentro de casa. Papi estava o tempo todo ocupado em seu escritório e mami não havia saído de seu consultório. Aparentemente seus clientes estavam dando mais trabalho do que ela imaginava.
Eu tentava a todo custo me concentrar na leitura de Dom Casmurro, mas parecia que pensamentos surgiam a todo o momento e eu não conseguia me concentrar em uma única página por completo. O hóspede do quarto da frente era um grande motivo para isso acontecer.
Falando nele, tinha sumido. Confesso que sentia falta dele alguns momentos, mas dentro do quarto ele ficou e não ouvi saindo durante o resto da noite e nem durante o dia de sábado.
Gertrudes estava preocupada. Não sei o que esse garoto tinha feito com ela para que ela gostasse tanto dele a ponto de perguntar a todo minuto e falar dele sempre que me via. Até que ela não aguentou e em meio ao meu almoço sagrado decidiu que iria até o quarto dele, mas sem sucesso, não foi atendida.
— Você poderia tentar conversar com ele e ver se ele come alguma coisinha, né, Babi? — disse ela pegando uma bandeja.
— Ger, não me mete nessa — revirei os olhos. — Se ele não falou com você, quem diria comigo?
— Você poderia ao menos tentar?
Eu não conseguia negar nada a ela e por isso peguei a bandeja com o prato de comida bem saudável que ela havia feito e subi as escadas em direção ao quarto dele. Bati duas vezes e nada.
— Você bem que poderia ser um pouco legal e abrir a porta, né? — parei sobre um dos pés e nenhuma resposta. — A Ger tá bem preocupada.
Até que parei de falar e tentei girar a maçaneta, que estava incrivelmente aberta. Ele nunca deixava aberta. Algo errado estava acontecendo, por isso entrei no quarto que estava completamente escuro. Com as mãos, procurei a mesa do quarto e deixei ali em cima a bandeja.
Por conta do silêncio, conseguia ouvir a respiração de Gael vindo da cama e então ao invés de ligar a luz, abri uma parte da cortina.
Ele estava deitado de bruços, aparentemente muito coberto para um dia que não estava muito frio. Me aproximei e toquei suas costas, vendo que sua temperatura estava muito elevada.
— O que foi, boneca? — sua voz estava rouca e eu me assustei.
— Você está muito quente.
— As meninas costumam dizer isso — ele riu sínico e eu bufei.
— É sério, o que você tem? Está trancado aqui desde ontem à tarde, não está comendo — sentei-me na ponta da cama e ele se remexeu para olhar para mim. — A Ger está bem preocupada.
— Só não estou muito disposto — ele abriu um sorriso tímido. Seus olhos estavam inchados de sono, assim como seu rosto estava marcado do travesseiro.
— Quando eu ficava assim, mami sempre me levava ao médico — falei ficando em pé. — Eu vou te levar no médico. Me ajude!
— Médico? — ele jogou-se mais uma vez na cama. — Não mesmo, Bárbara.
Liguei a luz e peguei uma camisa que estava jogada em cima da cadeira do computador. Andei até a cama e o puxei pela mão. Em meio a reclamações ele ficou sentado e eu passei a blusa pela sua cabeça e os braços com sua ajuda.
— Suas calças? — perguntei olhando em minha volta e encontrando uma calça de moletom no canto. — Acho que você pode vestir sozinho.
— Boneca, sem chance de irmos ao hospital — ele disse. — Não tem nada de mais, beleza? Eu só...
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Declínios de Uma Adolescente Rica [COMPLETA]
RomanceBabi vive sua vida muito bem, obrigada. Porém ela não imagina que em questão de dias tudo pode virar de ponta cabeça em sua vida tão perfeita e organizada, detalhista e luxuosa. Seus pais que tanto eram seu porto seguro, simplesmente estão esconden...