REINO DO SENHOR DA LUZ

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Daenerys observou o ambiente a sua volta. Ela não conseguia ver nada. Estava cega? A escuridão era tão opressiva, que sufocava. Então era isso, o fim da linha. Tudo pelo que lutou, o caminho que trilhou, foi para chegar até ali. O nada. Jogada em um buraco escuro onde passaria sozinha a eternidade. Ela conseguiu sentir a umidade descendo pelo seu rosto. Lágrimas. Que patético. Do que adiantava se lamentar agora, já que ela se colocou naquela posição ao entregar a sua confiança em quem não deveria.

Ela não soube dizer ao certo quanto tempo tinha se passado. Ficou apenas parada lá, se lembrando de cada momento da sua vida. A infância com Viserys,  na casa de porta vermelha com pé de limão do lado de fora da janela. Seu casamento com Drogo. O nascimento dos dragões. Em qual ponto ela errou? Provavelmente quando não executou Tyrion Lannister na primeira oportunidade que teve. Foi ingenuidade sua pensar que ele se colocaria ao lado dela, uma Targeryan, contra sua própria família.

Nunca haverá laço mais forte que o de sangue. Por isso sua família sempre casou-se entre si. Apenas um dragão pode amar outro, diziam. Ela pensou que Jon era um dragão também, que iria voar ao seu lado e construiriam juntos um império maior até que Valiria. Eles acabariam com a escravidão, o poder da nobreza, e a opressão que havia sobre as massas. Em seu reino, os homens seriam trabalhadores, as mulheres felizes com flores em suas janelas. E as crianças livres e sorridentes, não viveriam com fome ou preocupações. Ela sonhava com esse lugar todas as noites. Sobre o mundo que iria moldar e as oportunidades que iria criar.

Agora seu legado serie de cinzas. E tudo que ela construiu se reduziu a tragédia. Quando estava em kings Landing, em cima de Drogon, ela lembrou da visão que a assombrava há sete anos, do trono de ferro em cinzas. Lá naquela hora, com o coração sangrando, ela soube o que teria que fazer. O seu novo mundo não seria construído se as pessoas não a temessem. Ela teria que ser o pior que havia. Maior que ganância, pior que a violência, mais forte que o poder. Os lordes não iriam simplesmente aceitar se sentar ao lado de um camponês e de uma confeiteira em uma mesa de conselho, e aceitar que a voz deles valiam tanto quanto a de qualquer um lá.

Foi inocência e ignorância achar que conseguiria construir um mundo melhor através de acordos. O povo pagou por isso. E no final, ela também. Agora pagaria pela eternidade pelo mal que cometeu. Tudo que fez de bom seria apagado e esquecido. Ficaria conhecida como a rainha Louca. E o seu povo, que tanto amava, ficariam sem ninguém para guia-los.

Ao pensar em seu povo a dor que sentia aumentou exponencialmente. Imaginar todos voltando a escravidão. Crianças sendo vendidas e abatidas como animais. Seus Dothraki voltando a selvageria, a pilhagem e aos estupros. Isso pra ela era seu pior castigo. De todos os castigos que os deuses poderiam lhe infligir, a dor do seu povo era a mais cruel. Eles eram tudo pra ela, sua família, o motivo pelo qual sempre lutou, assim que adquiriu forças para saber o que era lutar.

Os deuses. Onde eles estavam? Não havia nada aqui. Apenas o infinito vazio. Ela não conseguia lembrar a ultima vez que fez uma prece. Nunca foi de acreditar em algo que não fosse pessoas ou ações. Um deus parecia algo tão inatingível, quando tinha tantas coisas ao seu redor para se preocupar.

_ Senhor da luz? Você está aqui em algum lugar? Pode me ouvir? Eu poderia usar alguma iluminação aqui. – Passou-se algum tempo, sem nenhuma resposta. Que tolice, não havia ninguém ali. E se tivesse ele a estava ignorando. Esse pensamento a fez ficar mais possessa ainda sobre a situação que se encontrava. – Meu nome é Daenerys ​Targaryen, eu sou mãe dos dragões e quebradora das correntes. Se alguém está ai, eu comando que se apresente.

No meio da escuridão, ela ouviu uma risada masculina. Não era de ninguém conhecido, e carregava um poder atemporal que fez os pelos dos seus braços arrepiarem. Ultimamente ela não tinha medo de jogar com o perigo, de enfrentar inimigos e lutar. Aqui, agora, sozinha nesse vazio, o dragão temeu.

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