WESTEROS

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O tempo gelado a envolvia, tinha esquecido como era sentir o frio. Mas agora o vento chicoteava em sua pele, e bagunçava seus cabelos, os lançando para trás. Voando em cima do seu dragão, rumo a terra onde só conheceu dor e sofrimento.

Pensava ter encontrado o amor. Pensava ter chegado em casa. Mas era uma ilusão. Uma mentira. Aquele lugar nunca foi e nunca seria seu lar. O lugar de uma rainha não era um pedaço de terra. Era um povo. Era com aqueles que acreditavam nela e a amavam. Daqui pra frente, estaria com eles, onde quer que estivessem.

Faltava pouco agora. Ela sabia o que iria encontrar. Com quem teria que lidar. Mas eles, eles teriam uma grande surpresa. Os inimigos se jubilavam com sua morte, e ameaçavam seu povo que ficou para trás. Inaceitável. Uma ofensa. E por isso, e pelos crimes que cometeram contra ela, iriam pagar.

Era tempo de deixar a inocência para trás. Sonhos de infância, de um mundo perfeito com um forte cavaleiro ao seu lado. Foram esses sonhos que levaram a sua destruição. As pessoas a quem ajudou aqui, a julgaram e condenaram sem nunca lhe dar uma chance, nem quando estava arriscando a vida lutando por eles. E aquele que a devia proteger, ficar ao seu lado, foi o que executou sua sentença.
Em poucos minutos Daenerys avistou Kings Landing. Na baia estavam chegando os navios que vieram com ela de Essos. Os segundos filhos. As mulheres e os jovens dothraki que haviam ficado para trás quando seus homens vieram lutar por ela em Westeros. Alguns navios com pessoas comuns de Meereen, que quiseram vir também.

Não haveria guerra agora. Haveria um acerto de contas. E então ela faria o que nasceu para fazer. Iria reinar. Sendo assim todos que quiseram acompanha-la foram permitidos. As pessoas traziam prosperidade. Eles vieram construir uma vida aqui. As terras em Essos eram áridas e inférteis. Aqui, eles teriam oportunidades que nunca sonharam antes.

Alguns imaculados os esperavam na costa. Verme cinzento os tinha avisado que ela estava chegando. Era estranho pensar que em meio a tudo que esses homens passaram, todas as torturas, humilhações e crueldades, eles eram homens de fé. Tinham fé nela, a mãe dos dragões, uma rainha que começou do nada.

Daenerys pousou na baia, e esperou as pessoas desembarcarem. Queria conversar com alguém, saber em que pé estavam as coisas, antes de ir enfrentar seus inimigos. Um imaculado se aproximou dela, e ajoelhou em frente a ela.

_ Minha rainha, por favor, nos perdoe, nós falhamos com vossa graça.

_ Se levante. -  ela retrucou – Vocês não fizeram nada de errado. Não pensem nem por um segundo que o aconteceu foi culpa de vocês. Isso é um comando. Agora me ponha a par de como as coisas estão aqui.

Com os olhos marejados, eles concordou.

_ Desde o seu assassinato minha rainha, essa terra virou um caos. Os dothraki queriam sair e trucidar o continente inteiro para te vingar. Verme cinzento foi quem não permitiu. Yara Greyjoy e Dorne ficaram ao nosso lado. Mas logo exércitos vindo do norte chegaram aos portões, liderados pelas irmãs Stark. Ameaçaram tomar a cidade se não recuássemos e entregassem seu assassino. Elas querem legitimar o traidor como herdeiro dessa terra.

_ É claro que elas querem. E como ele é uma marionete sem vontade própria, não ia demorar muito para Sansa Stark tomar controle de Westeros. Onde ele está?

_ Verme cinzento já o levou para poço do dragão. Junto com o anão, que tenta convencer cada guarda do turno a solta-lo. Ele promete ouro e terras, e diz que um Lannister sempre paga suas dividas. É irritante.

Daenerys deu um meio sorriso, apenas o curvar da lateral da boca. Era engraçado que depois de um tempo, até as pessoas mais espertas costumam ficar previsíveis. Logo logo, Tyrion Lannister estaria fazendo seus joguinhos no inferno.

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Logo depois de ajeitar seu povo, Daenerys se preparou para enfrentar as pessoas que um dia sentaram ao seu lado na mesa. Ela pensando em construir uma aliança, eles a querendo ver longe e morta.

Alguns dos seus aliados insistiram em ir com ela. Enquanto a rainha chegaria por céu, em sua besta alada, eles iriam por terra. Cercariam poço do Dragão. Era mais um gesto do que qualquer coisa. Ela não precisava deles lá, mas eles queriam ir mesmo assim, em uma forma de apoio a ela. Para que nunca se sentisse só novamente.

A medida que se aproximava de poço do dragão, ela sentiu Drogon tencionar debaixo dela. Ele não estava confortável em leva-la para perto daquelas pessoas. Eram só ele e ela no mundo agora. Seus outros filhos estavam mortos, esperando por eles em outro reino com seu futuro marido. Mas demoraria um bom tempo até que se encontrassem de novo. Até lá, eles viveriam um pelo outro. Seu povo podia ser sua alma, sua mente, sua razão. Mas seu amado filho sempre seria seu coração. Em seu mais sombrio pensamento, no seu mais escuro desejo, ele estaria lá por ela. Pois só um dragão pode realmente entender outro.

_ Calma meu amor. – ela sussurrou. – Ficaremos lado a lado todo o tempo. Até o fim.

Drogon começou a descer e logo pousou na entrada do poço. Ela olhou para o rosto de cada um ali. Verme cinzento, seu leal comandante e amigo, mal contendo a emoção.  Yara, sem acreditar no que os seus olhos viam. E a face de puro terror no rosto de seus inimigos. Os lordes pareciam que iam vomitar. As irmãs stark estavam pálidas, e olhavam uma para a outra. Tyrion não tinha expressão nenhuma, sabia que sua hora tinha chegado, e nada que fizesse ou fala-se ia livra-lo disso. Já Jon, mal conseguia reconhece-lo, ele caiu de joelhos no chão, como se a força lhe faltasse no corpo. Será que se arrependia? Não que isso importasse agora.

Daenerys desceu do seu dragão, ficando em frente a sua cabeça. Mas logo drogon se posicionou e colocou as patas na frente, fazendo com que suas garras formassem um trono para sua mãe. E Daenerys se sentou entre elas.

Ela nunca esteve tão bonita. Ou tão letal. Olhando com altivez o rosto dos lordes e ladys de Westeros, ela disse:
_ Podemos começar?

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