CAPÍTULO 12- Uma luz no fim do túnel

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O túnel estava escuro e a única luz que se via nele era a de duas lamparinas próximas ao rosto de dois homens que andavam como em sincronia em largos passos,um deles estava a frente mostrando o caminho para o de trás,que por sua vez graças ao espaço apertado junto das úmidas paredes de tijolos e o calor do fogo que saia dos pequenos cubos de vidro e ferro que carregavam fazia o ambiente ficar extremamente abafado e quente, suor caia de sua testa e entrava em sua boca, o sabor era salgado, a pessoa em questão cuspiu em direção a um canto cheio de lodo e começou a falar para o homem que estava a sua frente:
- Quanto tempo falta para chegarmos?
- não sei, acho que estamos perto.
- espero, acho até uma boa ideia fazer uma sala de reunião em um lugar subterrâneo mas não é nada conveniente.
- É, podíamos ter usado a sala de reuniões real mas Audrir insistiu para que fosse aqui, ele disse que seria mais privado.
- Não acho que tudo isso seja necessário, se não me engano nós só vamos acertar os detalhes da nossa viagem a Sorthein.
- pode parecer simples mas ouvi falar de rumores de um espião de Nirdir, Audrir quer evitar ao máximo eles saberem a nossa rota, eles poderiam tentar nós roubar enquanto dormimos.
- Mas o que eles poderiam querer tan... Ah! A espada.
Disse ele olhando para a espada em seu quadril, alguns resquícios de luz escapavam pelo canto de sua bainha,uma luz azul pálida como a da lua.
- sim, ter uma segunda arma divina seria bem vantajoso para eles.
-segunda?
- Nirdir já tem o arco de Pelenor.
- hum, o arco de mil flechas.
- Em Virne uma vez eu conheci um homem já velho que lutou na guerra das pedras há 50 anos ( foi uma guerra contra Nirdir pelo domínio da ilha das pedras), ele descreveu o poder do arco como um mar de flechas que cobria o sol, só posso imaginar o terror disso, de olhar para o céu e saber que você vai morrer naquele lugar em meio a sangue e pedras.
- e esse homem? Como ele escapou?
- ah, ele , ele se escondeu embaixo de um dos cadáveres,a maioria das flechas acertaram a pessoa de cima mas uma acabou perfurando seu joelho e depois disso ele não pode mais servir, eu pessoalmente acho que ele gostou, assim ele poderia voltar para casa.
- é, a guerra acaba com todos e mesmo que você saia vivo parece que falta algo.
- você já chegou a lutar na guerra Sor?
- Eu? não , mas o meu pai ele lutou na guerra das três cabeças( uma guerra entre os três filhos do rei para decidir quem chegaria ao trono) ele morreu lá, algum soldado raso atirou uma flecha nele.
- Me desculpe, não queria ter que... Você sabe te fazer lembrar dessas coisas.
- Não tem problema na verdade, isso já faz muito , muito tempo.
Ele suspirou, um suspiro pesado carregado de sentimentos que ele próprio não sabia descrever, os pensamentos de sua infância, de sua irmã e de todos que conhecera vieram na sua mente, os deuses deram-lhe além de tudo uma boa memória para lembrar de tudo o que tinha acontecido, ele agora olhava para o fogo que ardia em sua lamparina, o fogo que cintilava vermelho e laranja, que se movia suave como uma dançarina, aquilo o fascinava e ele se perdia em suas memória se lembrando dos velhos tempos de quando ele podi...
- Mirdrem!
-Oque!?
Ele se virou rapidamente para frente como se tivesse acordado de um breve sonho.
- chegamos.
Mirdrem agora podia ver finalmente uma porta no fim do túnel, a porta de madeira escura deixava passar pelo seus cantos pequeno feixes de luz que mostrava que já tinham pessoas na sala.
- pelo menos não fomos os primeiros a chegar.
- Espero que tenha valido a pena caminhar por esse túnel sem fim.
Disse Mirdrem enquanto passava a lamparina para a mão esquerda e com a mão direita agora livre secava o seu rosto com o tecido de suas roupas.
A medida que se aproximavam conseguiam ouvir pequenos resquícios de barulho, como de pessoas falando, os barulhos foram se transformando em palavras, e palavras em frases até que eles podiam ouvir toda a conversa, uma voz que parecia a de Almer falava:
- Audrir, não está demorando muito para começarmos?
- Está, mas é só esperar,ainda falta Mirdrem e Alengar eles já devem estar chegando.
- Chegariam mais rápido se não fosse você e essa sua ideia de um espião.
- Não é só uma ideia eu tenho fontes confiáveis!
A voz de Audrir ficou séria pela primeira vez naquela conversa.
- Nirdir não poderia conseguir se infiltrar aqui.
- Você sabe bem que conseguiriam!
- só o que eu sei é que estamos perdendo tempo considerável aqui.
- Pela sua conduta, eu devia considera-lo parte disso sor Alm..
Toc.toc.toc
Três batidas foram ouvidas vindas da porta de madeita, todos na sala ficaram em silêncio e dirigiram seus olhares em direção a ela, o silêncio reinava até Almer dizer num tom de ordenança:
- você, vai ver quem são!
O barulho de passos de metal ressoaram pela sala, a pessoa se aproximava cada vez mais da porta, ele tirou a espada da bainha e disse próximo a fechadura em uma voz seca:
- quem são?
- Quem fala é Alengar, e atrás de mim está Mirdrem.
- Sim, eu não falei que eles iriam chegar. Soldado abra a porta.
Mirdrem e Alengar ouviram Audrir falar isso pelo abafado som que saia da porta, e logo após, o barulho de trancas de ferro, a porta então se abriu e a forte luz ofuscou os olhos de ambos, Mirdrem começou a fechar e abrir os olhos para conseguir enxergar direito, até que oque era antes apenas um forte raio de luz foi tornando forma de diversas pessoas sobre uma mesa de madeira,todos acomodados em uma sala de uns 16 metros quadrados, os seus rostos refletiam a cor amarela do fogo das lamparinas presas nas paredes e todos estavam olhando para as duas pessoas que tinham acabado de entrar.
- pelo menos não fomos os últimos. disse Mirdrem fazendo um aceno para que o soldado que abrira a porta a fechasse, o som da porta sendo fechada e trancada foi o único naquele momento já que todos estavam invariavelmente quietos, esse silêncio estava ao ponto de ser constrangedor quando Audrir estendeu a mão sobre a mesa, onde agora Mirdrem podia ver que tinha um grande mapa de landloc estirado sobre ela, e falasse para todos ali presentes:
- Agora que todos chegaram,vamos começar, Mirdrem e Alengar podem ficar ali no canto direito da mesa.
Disse ele apontando para onde estava Mirthus, Mirdrem virou o seu rosto para lá e fez um aceno para ele que foi retribuído, os dois que até então estavam de pé na frente da porta se mexeram a longos passos na direção que Audrir falara,Mirdrem agora estava na parte da mesa que correspondia ao norte de landloc, Audrir estava no sul junto de Almer e tartus, por fim no leste no meio dos cavaleiros estava Licius que mantinha as roupas extravagantes e ficava com a mão no queixo enquanto observava o mapa.
Mirdrem que já estava cansado de segurar aquela lamparina a colocou em cima da mesa em algum lugar que seria a vila de heltir, o som mais uma vez recuou pela sala, todos viraram a suas cabeças em sua direção mas logo recuaram, Audrir então continuou:
- Vamos nos apressar para que isso não tome mais tempo que o nescessário, sor Almer qual é a ideia central do trajeto?
- Certo, nos basicamente temos que sair daqui- ele apontou para a marcação de vila tempestade- e ir para aqui- ele pressionou o dedo indicador na região que marcava as montanhas do sul onde se localizava Sorthein.
Almer fez uma pausa para que todos absorvessem as suas palavras.
- A questão é, se vamos por terra ou por rio.
- E quais são as vantagens e desvantagens de cada opção?
Disse Licius que ainda olhava pensativo para o mapa.
- Se formos por terra a viajem vai ser mais fácil, passaríamos por dezenas de feudos e vilas no caminho, o maior problema seria contornar a floresta de senmir mas isso é algo que com tempo conseguimos, exatamente essa é a questão, tempo, ir por terra demoraria quase o dobro do que ir por rio e como sabem
- tempo não é o que mais temos.
Disse Audrir completando a frase de Almer que continuou:
- Em contrapartida por rio a situação é diferente, o Listren nasce nas montanhas do sul, seria praticamente uma viagem em linha reta.
- Mas então qual seria desvantagem?
Dessa vez quem falou foi Licius, que mesmo entrando agora nessa empreitada parecia ser o que estava mais cauteloso, Mirdrem que só estava em um canto da mesa observando os fatos não podia deixar de notar isso, o motivo dele se juntar permanecia um mistério, mesmo que Mirdrem tivesse uma breve ideia do que fosse ele não podia deixar de pergunta-lo, mesmo assim isso seria algo que deveria deixar para mais tarde porque agora ele tinha que lidar com a discussão que acontecia em sua frente, Almer tinha acabado de explicar as desvantagens de ir por rio, que consistia em basicamente duas coisas, a primeira seria que eles não teriam quase nenhuma parada para abastecer as provisões salvo uma vila pesqueira relativamente grande se comparada com as outras , mas isso era fácil de contornar e as pessoas não estavam discutindo por que tinham medo de comer menos em sua viagem, o que elas realmente tinham medo era de uma criatura que vivia no caminho para Sorthein, esse ser é de uma espécie que descende dos dragões, o seu tamanho ultrapassa o de casas e alguns prédios baixos e são conhecidos como os pais da aves, o seu corpo é coberto de penas e sua pele é feita de um coro duro e resistente, eles são chamados nos contos antigos de Drirks e infestam as montanhas do sul vivendo perto de rios e lagos, geralmente se alimentam de peixes mas por serem animais extremamente territoriais matam qualquer umque se aproximar com suas garras do tamanhos de espadas e tão afiadas quanto, seguir pelo rio significava ter que passar por eles,e isso ninguém queria,mas o que levava a discussão acontecer era o fator do tempo.
- Ninguém vê um Drirk a séculos, não tem porque termos medo deles!!
Disse um soldado
- Mas é porque ninguém vai para aquele lugar a séculos.
Disse outro
- chega!!
Disse Audrir
Todos naquele momento se silenciaram, foi como se o que era antes um tornado se transformara em uma leve brisa de verão, aos poucos todos foram se acalmando e ele continuou:
- pensei um pouco aqui e cheguei a conclusão que o melhor seria se nos irmos por rio!
Uma pausa foi feita e todos começaram a romper em reclamações e gritos, o único que ficava longe da discussão era Mirdrem que continuava em seu canto observando em silencio, Audrir vendo aquilo levantou a sua mão direita e bateu com força na mesa, o estrondo foi ouvido por todos na sala, eles pararam quietos e a única coisa que podia ser ouvida era Audrir dando um longo suspiro e continuando:
- Olha, todos vocês que aceitaram vir aqui sabiam que corriam riscos! o mundo está em risco aqui! Então se forem ficar gritando e reclamando abram a maldita porta e saíam!!
Ele fez uma pausa e continuou num tom mais ameno:
- Nos vamos pelo rio, temos que poupar tempo, é inevitável, mas mesmo que encontremos um Drirk eu tenho certeza que vamos conseguir mata-lo, um Drirk não é um deus, e por acaso nós temos alguém que já matou um.
Mirdrem sentiu toda a responsabilidade vindo em sua direção, mas dessa vez ao invés de fugir igual fizera outras vezes ele pegou o cabo de sua espada e com um leve sorriso no rosto ele disse:
- Podem deixar comigo.
Aos poucos as pessoas se acalmaram e foram acertadas algumas coisas a mais como a quantidade de suprimentos que levariam e essas coisas, assim se seguiu por mais alguns minutos até que às lamparinas uma por uma foram levadas e as pessoas saindo, Mirdrem pegou a sua e por fim saiu daquela sala escura e quente rumo ao túnel também escuro e quente junto de Audrir.
O calor penetrava seus poros e o suor encharcava sua mãos, Mirdrem tentou secar algumas vezes mais parecia que cada vez que fazia isso mais suor vinha em seu lugar, por fim desistiu e resolveu esperar aquela rede de corredores subterrâneos acabar para que pudesse finalmente contemplar a bela noite que se estendia pela fortaleza de centrir, pois a tarde tinha sido agradável e ele esperava que a noite também fosse, em contrapartida o túnel era o oposto disso e a única semelhança que poderia ter com uma noite refrescante era a escuridão que ele já estava habituado, Mirdrem só conseguia ver a sua lamparina e a de Audrir que estava a sua frente, ele olhou para trás mas a única coisa que viu foi pontos luminosos pertencentes a Alengar e tartus que estavam atrás, vendo o silêncio que os cercava Audrir falou:
- Sabe esse túnel? é mais velho que vila tempestade, era pertencente ao palácio de um nobre na época em que landloc era dividida em cinco reinos, mas a uns 600 anos quando construíram a fortaleza de centrir a mando do rei loctis eles acharam essa rede de túneis e desde aquele momento as pessoas usam essas salas para fazer reuniões secretas.
- Mas se não me engano, o motivo para a nossa reunião se enquadrar nessa área é porque você desconfia de um espião. É verdade?
- Sim.
- Como você sabe disso?
- Licius, ele chegou para mim hoje a tarde e falou que um dos informantes dele achou uma série de cartas que foram trocadas com alguém do alto escalão do exército de Nirdir, suspeito que estão atrás de Renmir.
- Tem alguma ideia de quem poderia ser? Digamos alguma pista?
- Não faço ideia, o melhor que posso fazer agora é me precaver, tentei deixar o mínimo possível de pessoas saberem dos nossos planos mas mesmo assim Almer parece que não me escutou e trouxe todo o grupinho dele para participar.
Audrir sibilou algum xingamento inaudível enquanto trocava a lamparina de mão, Mirdrem continuava atrás e torcia para que logo chegassem a saída, vendo que isso não acontecia ele resolveu continuar a conversa:
- E esse tal de Almer, o que você sabe dele?
- ah, ele? Quase nada, e esse é o meu problema, o sujeito surgiu aqui a uns 2 anos e desde o dia em que chegou não sai de perto do rei, rapidamente conseguiu um posto alto e todas essas coisas que eu batalhei a minha vida toda para conseguir.
- hum, mas se não me engano você é um gaester isso não facilita as coisas?
- Quem dera, diferente do que muitos pensam o cargo de cavaleiro real não é hereditário, assim que um morre é feito um grande tornei para saber quem vai ser o próximo , nós os gaester só conseguimos o cargo porque somos bons no que fazemos.
- Ah, não queria duvidar da sua habilidade, eu só não sabia de como as coisas funcionavam agora, no meu tempo esse cargo era hereditário tanto que quando o meu pai morreu ofereceram para mim.
- desculpe a pergunta mas porquê você não aceitou?
-ah, era porque eu era muito menino naquela época e tinha coisas mais importantes para fazer.
- Eu, eu entendo como é isso.
Os dois ficaram em silêncio e continuaram a andar, até que chegaram a uma escada de madeira que subia em linha reta para cima, Audrir então ficou seus olhos no objeto de madeira a sua frente e falou com enorme satisfação:
- chegamos!
Mirdrem então chegou mais para frente para conseguir ver e quando a luz da sua lamparina mostrou uma bela escada de madeira ele deu um suspiro de alívio e disse:
-finalmente, não via a hora de sair desse lugar.
- Agora é hora de subirmos.
Mirdrem e Audrir prenderam a suas lamparinas no quadril e um por um subiram as escadas até chegar no que seria um alçapão, Audrir que estava em cima ergueu a sua mão direita e o abriu, Mirdrem veio logo depois e saiu pelo alçapão para o que seria uma adega, diversos barris de vinho estavam espalhados por toda a extensão do local e mesmo que ainda não estivessem do lado de fora,Mirdrem já estava se sentindo bem melhor do que dentro do buraco ao qual saíram, pouco tempo depois subiram Alengar e tartus, eles conversaram um pouco e se despediram porque tanto Tartus quanto Alengar tinham as suas próprias casas, sobrando só Midrem e Audrir eles por fim saíram da adega e ele pode pela primeira vez na noite sentir o vento batendo em seu rosto e pode se sentir muito mais relaxado,da li em diante a noite se seguiu nos conformes, Mirdrem seguiu para o palácio de lethon onde passaria a noite, o palácio era dividido em três principais regiões cada qual pertencente a uma família importante da nobreza, e claro a família gaester estava entre elas,Quando entraram Audrir perguntou se Mirdrem estava com fome ele recusou e disse que só queria dormir, então Audrir chamou uma das empregadas e pediu para que ela lhe mostrasse aonde ficava o quarto de visitas, no caminho passou por algumas salas e vários corredores muito decorados com vasos e quadros que davam para vários quartos até que por fim chegou ao seu, o quarto era muito bem decorado, as paredes todas tinham detalhes em ouro e a cama, que sem dúvidas foi o que mais chamou sua atenção, era toda feita de penas e coberta com seda e um grande diesel de linho fino a cobria, outra coisa que chamou sua atenção foi uma escrivaninha com tinta, papel e uma pequena luminária, a mesa parecia ser de uma madeira de muita qualidade então Mirdrem pegou a espada que estava em seu quadril e a colocou em cima dela, as suas roupas ele tirou e apoiou na cadeira ,por fim apagou a luz e foi deitar naquela cama que ficava rente a uma grande janela aonde entrava a luz da lua, a cama o abraçava e o travesseiro o confortava, Mirdrem dormiu e não sonhou e isso foi a primeira vez que aconteceu em quase um século, o descanso foi mais que merecido já que essa foi a última vez ele teve um sono tão bom assim.

** Muito obrigado por ler o capítulo 12 e espero que tenham gostado, esse foi um capítulo que não aconteceu muito coisa mas sim que muita coisa foi dita então se gostarem por favor votem não custa nada é só clicar naquela estrela e se puderem também comentem porque me faz bem feliz, no mais até o próximo capítulo**

MIRDREM - o matador de deusesOnde histórias criam vida. Descubra agora