CAPITULO 14 - Os pecados de Mirdrem

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O rio Listren seguia seu rumo naquele manhã e junto dele o barco onde se encontrava Mirdren, as águas que antes era azuis como o céu tomaram agora uma coloração cinza e fria assim como o local que estavam agora , na verdade Mirdren não sabia onde estavam, ele olhava para os lados no convés em busca de alguma resposta mas só via a cor cinza, não sabia se era do céu ou rio, então desistiu e se entregou ao calor da bebida que estava em mãos, estava frio e a bebida quente e isso era um bom motivo para bebe-la, Mirdrem a levou a boca e apreciou o sabor suave que proporcionava, ele olhou o líquido por cima do copo, a sua face refletia e ele podia a enxergar bem, ela continuava igual assim como fora nos últimos 200 anos ,a sua mente também continuava a mesma, ele até queria parecer um velho sábio mas sabia que não conseguiria.
- Oi, Mirdren não é?
Alguém chamava seu nome ele virou a cabeça e viu almer se inclinando sobre a madeira ao seu lado, os dois fitavam a vastidão do rio .
- sim, você seria sir Almer?
- certamente, percebi que não tivemos muitas oportunidades de conversar, queria saber como andam as coisas.
- vão bem obrigado por perguntar. -fico feliz em saber, por acaso você sabe onde estamos agora?
- Eu estava me perguntando isso.
- É dificil saber com precisão, o rio Listren é muito grande, mas se eu tivesse que chutar seria que estamos próximos do lago de Mir.
- Isso fica perto ou longe do nosso objetivo?
- Muito perto eu diria, ele tem esse nome porque é lá que moram Drirks.
- Mas se não me engano Mir foi um cavaleiro que matou um dragão não um Drirk.
- Drirks são parentes dos dragões.
- Dragões, hum, falando assim não parece grande coisa, mesmo assim estamos indo até o fim do mundo pra isso.
- sim, a questão é que muitas pessoas tem uma visão deturpada deles, por milhares de anos nós falamos deles como monstros brutos , mas a questão que eles são inteligentes, muito mais que nós e menos controláveis, foi por isso que aconteceu a guerra, eles queriam ser livres sem depender de deuses.
- então porque eles os criaram?
- Mirlen, ela era bondosa de mais e resolveu criar seres que estivessem no mesmo patamar deles que podiam conversar e se divertir em pé de igualdade, mas foi aí que percebeu uma coisa eles também podiam lutar, com isso Elrin filha de Mirlen, a mais sabia dos deuses chegou a seu tio,perthis e o alertou sobre isso.
- hum,você me parece saber muito de história pra um cavaleiro.
- Gosto de estudar no meu tempo livre, principalmente sobre a era dos dragões.
- Imagino que deve saber muito sobre a chama sagrada.
- Só o básico assim como todos que leram o livro da história verdadeira, então não vou lhe incomodar.
- Eu não me importaria em ouvir, não conheço os detalhes.
-Não me diga que você nunca leu o livro da história verdadeira?
Mirdren bebeu mais um gole e disse em um tom leve:
- só umas partes, nunca foi meu forte estudar história.
- já que é assim eu posso falar, foi dristen o ferreiro dos deuses, depois da guerra, os dragões foram presos em grandes jaulas feitas de hintrir( um metal que nunca se quebra) e foi aí que  ele criou uma grande bacia de ouro onde dela ardia um fogo que nunca se apagava, e  nesse local  Mirlen, a mesmo Deusa que os criou teve que sela-los dentro do fogo eternamente.
- muito interessante, mas algo me chamou a atenção.
- o que seria?
- se o fogo foi criado para nunca se apagar então qual é o propósito disso?
Mirdrem levantou a mão quase como se apontasse pra todo o barco.
- ai chega a parte interessante
Almer deu um leve sorriso mostrando seus dentes amarelos e continuou.
- A pessoa responsável por manter o fogo aceso pra sempre era Fristen, o deus do fogo....- ouvindo esse nome o coração de Mirdren bateu rápido e ele só queria poder sair daquele lugar, mesmo assim tentou manter a compostura e deixou Almer continuar- isso continuou até você o matar.
Mirdren arregalou os olhos e sua cabeça passava por um redemoinho de ideias, a bebida em seu copo tremulava quase como se quisesse escapar, uniu o resto de força que lhe restava olhou pra Almer que ainda estava apreciando a vista do rio      deserto e perguntou:
- o...o que você quer dizer? O que eu teria a ver com isso, nunca fiz nada assim.
Soou como um mentira, era uma mentira.
Almer sorriu mais uma vez, não de felicidade e disse:
- Calma, não quis lhe ofender estava apenas brincando.
Ele parou e olhou para Mirdren com olhos sério e afiados como de uma águia, isso durou rápido, mas não o suficiente para que Mirdren não notasse.
- Então como estava dizendo foi com a morte de Fristen onde começou a decadência dos deuses, depois de sua morte o fogo chorou e engoliu tudo e todos em seu caminho, cidades foram queimadas, pessoas mortas e ...
- O que você veio fazer aqui?
Mirdren o interrompeu em um tom ríspido e seco, não queria que ele continuasse a falar e se ele não parasse sentia que iria dar um soco em alguém, nunca se considerou alguém violento, no mínimo não a ponto de gostar disso, mas naquele momento não duvidava que poderia fazer isso.
- Vim apenas para ajudar e queria que você e eu nos déssemos bem.
Almer então saiu e junto dele a chance de Mirdrem dar um soco em alguém.
Por fim ele acabou dando um pequeno chute na madeira do navio, estava irritado mas esperava que ninguém tivesse visto isso, olhou de volta para o rio na esperança de achar paz em meio às suas águas cinzas, Mirdren desejara que aquele conversa nunca tivesse acontecido mas tinha que concordar que aprendeu duas coisas valiosas naquele momento a primeira era que não gostava de Almer e a segunda era que tudo aquilo mais uma vez era sua culpa, ele ainda estava com o copo em mãos e bebeu mais um gole daquela bebida.
A noite estava escura e fria, Mirdren naquele momento estava em seu quarto, ele ficava perto de uma dispensa e não era muito espaçoso mas ele no mínimo agradecia pelo fato de ter um quarto, o vento batia na janela perto da cama e Mirdrem conseguia ouvir o som da água batendo no casco, para muitos aquilo poderia ser um incomodo mas ele até gostava disso, o acalmava, fechou os olhos e se deixou levar pelo sons, ele precisava disso depois do que acontecerá a tarde, ficou assim um tempo até ouvir um som estranho TOC TOC parecia que alguém estava batendo na porta.
- posso entrar?
Alguém estava batendo na porta.
- Sim.
Ela se abriu aos poucos, às vezes oscilava pelo movimento do barco mas no fim abriu mostrando a figura de um homem que Mirdren já conhecia, era Audrir ele usava uma roupa de peles marrons sobre o corpo para aquecer.
- só vim ver como estava.
- obrigado, vou bem.
- certo , nos devemos chagar amanhã de manhã no lago de Mir.
- pensei que já estávamos nele.
- na verdade não , estamos ainda no bom e velho rio listren.
Disse Audrir enquanto se sentava na cadeira do lado da cama onde Mirdren estava.
- por acaso sabe porque ele tem esse nome?
- o que, o rio Listren?
- Não estava falando do lago de Mir.
- já sei, me falaram mais cedo.
- quem foi?
- Almer.
Mirdren se pegou lembrando daquela conversa, apertou um pouco os punhos e deu um leve suspiro pra se acalmar.
- Vi vocês conversando mais cedo, foi boa?
- Tão boa chega queria que nunca tivesse acontecido.
Mirdren deu um leve sorriso pra tentar tirar a tensão do rosto, Audrir também.
- Ele por acaso te falou sobre aquilo?
- Ao que você está se referindo?
- Não se ele não te falou então não tem proble...
- eu estou nessa desde que você bateu na minha cabana em petris, eu mereço saber!
Mirdren falou aquilo em um tom duro , não aceitaria mais pessoas tentando fazer ele de bobo.
- tá, tá , a questão é que o nosso problema não é só saber aonde a chama sagrada está, é...- ele deu um suspiro- caso ela esteja se apagando não sabemos como ascende-la de novo.
Mirdren ficou um tempo quieto pra digerir aquilo e falou:
- Então porque estamos fazendo isso? sendo que nem sabemos algo tão básico, porque não me falou antes?
- É simples, se eu tivesse falado você poderia não ter concordado em vir ,aí teríamos mais do que dois problemas.
Mirdren mais uma vez suspirou.
- É faz sentido,não adianta ficar bravo por isso agora.
- É.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, Audrir começou a olhar pelo quarto até que em uma pequena escrivaninha viu um copo de metal.
- esse copo não é da vila de grender?
Mirdren se virou para olhar pra direção que Audrir estava apontando.
- esse? Sim eu peguei de lá junto com algumas garrafas daquela bebida que deram para nós.
- vejo que apreciou o tempo que paramos em Grender.
- Pra mim foi o ponto alto da viajem deu pra parar e aproveitar um pouco a terra firme, além do mais ela me lembrava de petris.
- nos paramos lá para abastecer nossas provisões, foi a uns dois dias se não me engano.
- É , mas não chegamos a passar um noite.
- é que o tempo não está muito do nosso lado.
Dizendo isso Audrir se levantou da cadeira e desejou uma boa noite para Mirdren.
Ele mais uma vez estava sozinho naquele quarto, não achava isso ruim, já estava com sono mesmo, então se deitou na cama e agarrou as cobertas, o sono logo tomou seu corpo e o envolveu como uma bela melodia, então ele dormiu.
Mirdren estava em algum lugar que não conhecia,coisa que pra ele já não era mais novidade, além do mais não via quase nada e logo associou isso a forte luz do local, aos poucos os seus olhos foram se acostumando e conseguia ver com mais nitidez, estava em um salão diferente de tudo o que já vira , era feito todo de uma pedra indescritívelmente bonita , tinha alguns tons de verdes mas se olhado por outro ângulo poderia jurar que também era azul, o local era imenso ele não conseguia ver nem o fim nem o começo do local, parecia que um mundo inteiro poderia caber ali, mas mais interessante que isso era a mulher a sua frente sentado em um trono de ouro, era sem dúvida a  mulher mais bonita que já vira, sua pele era branca como leite e seu cabelo preto como carvão, em seus cabelos tinha uma coroa em formato de pequenas flores todas unidas, na  sua mão direita estava um livro grosso como o tronco de uma árvore e do lado da mão direita repousava o que parecia uma coruja, a mulher estava de olhos fechados, Mirdren não podia evitar olhar pra ela e disse.
- Quem é você?
A mulher abriu os olhos de repente, tinha olhos amarelos que pareciam que viam tudo e todos , ela fechou o livro em um só estrondo que ecoava por todo o local , olhou pra Mirdrem e disse:
- sou Elrin, a deusa da sabedoria.
  Mirdrem estava estranhamente tranquilo diante daquela situação.
- eu sou...
- Mirdrem o matador de deuses
- vejo que me conhece.
- todos te conhecem.
- Fico honrado.
- não deveria, você matou um deus... você matou Fristen!
Mirdrem conseguia ver a expressão de raiva no rosto de Elrin, ela então suspirou, tentou manter a compostura  e voltou a falar.
- desde que isso aconteceu às coisas pioraram e chama começou a apagar, se os dragões voltaram o mundo está acabado, os deuses...os deuses não estão tão fortes quanto antes.
Mirdrem digeriu aquelas palavras e disse algo que já queria ter dito a muito tempo.
- Você acha que eu gostei de mata-lo? Acha que me senti bem? Fiz porque era necessário, vocês é que não fazem nada e nem parece que pretendem mudar isso dessa vez!
  A voz de Mirdrem conseguia ser ouvida por todo o salão.
- não é tão simples quanto você pensa,no momento não conseguimos nem sair daqui o únicos dois que podem é Dristen mas não sabemos onde ele está e o outro ,ele é complicado.
Ela então se levantou e começou a descer toda a escadaria até onde Mirdrem estava.
-  não deixe a chama sagrada se apagar.
- como pode esperar isso de mim sendo que nem sei como fazer isso.
- Certo, então vou lhe falar o único jeito de acende-la é se um deus se sacrificar.
Mirdrem arregalou os olhos e uma expressão de surpresa tomou seu rosto, os dois ficaram em silêncio tempo o suficiente para que as palavras adquirirem mais peso e Elrin agora ficasse na sua frente.
- então venho lhe pedir- ela se ajoelha- Mirdrem filho de fristen por favor nos ajude.
Ele estava em pé as luzes que ele não sabia de onde vinham refletiam pelo seu corpo.
- Fristen não é meu pai , meu pai foi o homem que me criou desde criança,ele foi só alguém que teve um caso com minha mãe e a engravidou e numa bela noite de verão saiu porque é isso que vocês fazem, sim , eu vou impedir que ela se apague mas não pense que é por vocês.
- É o suficiente.
Mirdrem sentiu a cabeça girar, o salão  gigantesco e cheio de luz se tornou um quarto de madeira perto de uma dispensa em um barco, ele se sentou na cama , muita coisa tinha acontecido ontem e mais ainda de noite, ele se pegou lembrando daquele dia quando o sangue de fristen escorria pela sua espada ,ele olhou pra ela , estava do lado da cama , sentiu uma vontade de joga-la no mar igual fizera daquela vez, mas se conteve ela ainda era necessária.
Ele levou as mãos ao rosto e o esfregou , estava inteiramente acordado isso podia garantir, botou suas roupas habituais e saiu do quarto .
O corredor estava normal com exceção de Mirthus que estava vindo na direção de Mirdrem de uma forma muito apressada.
- Mirdren, Mirdren.
Ele chamava em voz alta e um pouco ofegante.
- o que foi.
Mirdrem falou.
- Vamos para o convés- disse Mirthus
- porque?o que está acontecendo?
- Só vamos!
ele começou a seguir Mirthus por toda a parte interna do navio, andavam a passos largos, Mirdren segurava o cabo da sua espada , não sabia o que estava acontecendo mas sentiu que era algo importante.
- Drirks!
Falou  Mirthus enquanto andavam.
- pode repetir não ouvi.
- Drirk , eles está aqui!!
Mirdren sentiu o coração apertar, o estômago gelar , as mãos se agarrarem mais firmimente na espada e  que a batalha a frente ia ser longa e difícil.

MIRDREM - o matador de deusesOnde histórias criam vida. Descubra agora