— Como vocês devem saber, no início de todos os anos, nós organizamos O Show de Talentos de Soleil Bleu, pessoas de todos os lugares do mundo vêm ou assistem pela televisão. E vocês sabem o que isso significa.Marie dava passos lentos, as sapatilhas quase espelhavam no chão. Sua postura ereta e polida era refletida por todos os espelhos do salão. Parados e de pé, um ao lado do outro, assistíamos a suas passadas suaves, indo de uma ponta a outra da fila de dançarinos.
— Olheiros — uma garota loira se pronunciou confiante, e os outros vibraram em murmúrios empolgados.
Volvi meu olhar para a professora, que parou de andar, segurando seu olhar superior sobre nós.
— Exatamente, senhorita Lya. Olheiros. Esse evento não é como o Show de Talentos das suas antigas escolas, não é uma competição entre alunos, nem um drama de filme adolescente. É mais do que isso.
Sua ênfase me fez congelar, todos sabiam muito bem sobre o que realmente se tratava o Show de Talentos de Soleil Bleu.— O evento é uma vitrine. Cada passo de vocês vai estar sendo monitorado por pessoas importantes naquilo que vocês buscam. Eles veem o talento de vocês agora, e ficam de olho nos seus favoritos ao longo do ano.
— Vocês vão se esforçar e dar o máximo de si mesmos. Devem conhecer seus limites, ultrapassá-los — ela falava, fazendo jus a cada ruga ao redor dos seus olhos. — A perfeição é o objetivo, mantenham-se perto dele.
— Mas isso vai nos deixar cansados para a apresentação — um bailarino disse.
Interiormente, concordava com ele, mas tudo aqui era tão diferente que, curiosa, assisti os próximos passos da professora em silêncio e pura atenção.
— Sinto muito se treinar é um problema para você, senhor Tyler. É um problema para mais alguém? — ela se voltou para o restante de nós.Todos se mantiveram calados, olhei temerosa para Tyler que, desacreditado nos bailarinos, voltou a olhar para a professora, que ignorou qualquer protesto visual para retomar seu discurso pós-aula.
— Pierre virá nesta edição, tirem suas próprias conclusões — ela enlaçou os dedos atrás do corpo. — Dispensados.
Todos, ainda nos seus murmúrios e palpites, começaram a se dispersar pela sala espelhada em busca de seus pertences e, em pares ou pequenos grupos, saíram pela porta. Nenhum ficou ou voltou para palpitar diretamente contra as instruções de Marie.
Eu fiquei. Ainda precisava de uma coisa.
~***~
— Adivinhe.
Surgi frente ao meu mais novo aluno, que estava distraído na mesma posição silenciosa de sempre, naquele que era “seu lugar”, com seu bloco de notas em uma das mãos, mordiscando a base da caneta esferográfica.
O máximo que pude ver foram alguns rabiscos e desenhos riscados nas folhas sem pauta, alguns trechos sublinhados.
O início parecia carinhosamente caprichado, os dois primeiros versos teriam lhe vindo em uma onda de inspiração, porém, o descapricho do restante da caligrafia me deu a entender que havia perdido-se em suas ideias.
— Não sou bom com adivinhações — ele disse, fechando o bloco.
— Bom, você nem tentou — argumentei, colocando as mãos nos bolsos traseiros da calça.
Ele riu levemente.
— Não faço a menor ideia — se virou inteiramente para mim, dando de ombros.

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Body
Storie d'amoreColeen respira dança. Ela a vê em todos os cantos da existência de alguém, em todas as curvas do seu mundo. Determinada e intensa, ela não se proíbe de arriscar tudo o que tem para ir atrás do que a seduz, e seguindo esse ritmo desenfreado do seu co...