Passei a mão pelos cabelos encharcados. Desci a mesma em direção meus ombros, sentindo a musculatura tensa da área, apertei e suprimi um guincho de dor.
Depois do banho, vestindo apenas a calcinha e o sutiã, me encarei no espelho de corpo todo do quarto. As juntas dos dedos dos pés estavam doloridas e a pele, sensível depois de ser resguardada pelo dia inteiro por esparadrapos. Algumas bolhas aqui e ali iriam exigir bandaids; a musculatura das coxas estava dormente.
Os tornozelos exigiam atenção.
Eu também tinha um mal jeito no joelho esquerdo, ele estava um pouco inchado e vermelho, o que Marie fez questão de encarar de maneira cruel.
Era o que eu queria, era o caminho que eu queria traçar, era o que eu amava fazer.
Mas, ainda sim…
— Eu estou muito cansada — confessei para o meu reflexo.
Porém, ele não me respondeu. Me contentei com o silêncio interno que, ao mesmo tempo, gritava “você tem que continuar!”.
Vesti um short jeans e joguei por cima uma blusa leve qualquer.
De acordo com Sophie, sair de casa com os gêmeos era a coisa mais difícil, porque sempre havia um empecilho de origem inexplicável. Foi por causa disso que ela bateu na minha porta antes do que imaginei, contando uma história absurda sobre Sam ter colocado todas as cuecas de Sebastian para lavar e encolhido todas. Aparentemente, eles iam resolver o problema sozinhos e pediram para Sophie vir sem eles.
Ela aceitou uma xícara de chocolate quente, já que a noite estava contemplada por uma brisa fria. Sempre muito polida, segurava as mangas compridas do suéter oversize, com os braços apoiados no balcão.
— E aqui está. Duas xícaras de chocolate quente delicioso, adoçado na medida certa e, melhor de tudo, numa noite fria — coloquei as xícaras sobre o balcão.
Ela soltou uma risadinha leve. Sophie era quase pura elegância. Até a roupa larga que escolheu por vestir hoje era de puro bom gosto, o tecido e as cores conversavam entre si e com ela mesma. Talvez ela intimidasse um pouco a primeira vista; alta, extremamente bonita, o corpo delineado e a voz rouca atraente.
Mas os olhos grandes e intensos resguardavam uma personalidade calma e extrovertida, os lábios carnudos sempre tinham um sorriso a oferecer. Um sorriso empático, um olhar reconfortante.
— Eu sou uma amante do chocolate quente — ela confessou, pegando a xícara.
— Ah, mas disso eu não tenho dúvidas. Não tem nenhuma outra bebida que nos traga memórias tão boas da nossa infância — eu sorri.
— É sim, a minha infância foi a melhor fase da minha vida.
— Amizades? — me sentei no banco à sua frente.
— Bom — ela riu —, eu sempre tive poucos amigos. Nunca tive grandes problemas com meus colegas, mas os gêmeos e a banda sempre foram os únicos — ela me encarou, os olhos arregalados e nostálgicos. — Na verdade, era como as coisas eram simples de ser encaradas.
— Entendo — assenti. — Eu tive uma infância muito íntima.
— Você? — ela arqueou uma sobrancelha.
— Sim, eu sei que não parece — eu ri. — Às vezes me olho no espelho e também não acredito, mas... É meu passado — dei de ombros, traçando com os dedos o contorno da xícara. — Mas eu não achava as coisas assim, tão simples de ser encaradas — umedeci os lábios de erguer um um sorriso para ela. — Bom, não antes de ter a dança na minha vida.
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Body
RomanceColeen respira dança. Ela a vê em todos os cantos da existência de alguém, em todas as curvas do seu mundo. Determinada e intensa, ela não se proíbe de arriscar tudo o que tem para ir atrás do que a seduz, e seguindo esse ritmo desenfreado do seu co...