Prólogo

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5 anos atrás

Deslizo o batom vinho pela minha boca e fecho a minha bota sob a calça preta de coro. Esse é o meu estilo. Gosto de cores escuras, não por ser rebelde, mas é o que se adequa a mim.

As botas sempre fizeram parte do meu look e eu diria que tenho uma verdadeira coleção delas. É noite e já ouço o burburinho que está acontecendo na minha sala de estar... sabia que não iria demorar mais que duas horas pra isso acontecer.

Coloco o anel que o meu pai me deu aos 15 anos e sei que nunca devo tirá-lo do dedo, mas as vezes esqueço-me. Arrumo meu cabelo, passo meu perfume e desço para o show.

Encontro Theodoro, meu irmão, no corredor rumo a escada. Ele sorri quando me vê e eu reviro os olhos. Temos uma relação de cumplicidade fora do comum entre irmãos. Por essa vida complicada que vivemos, papai ensinou a Theo a sempre, independente de qualquer coisa, me proteger e sem que isso fosse ensinado a mim, eu faço o mesmo por ele. O amo demais para suportar qualquer perca.

— Vicenzo está uma fera. Você não poderia ter feito isso, Bella.

Dou de ombros. Quem mandou aquele italiano de merda vir se meter comigo?

— Papai também está lá embaixo com uma cara nada feliz — Theo completa.

Descemos as escadas juntos e ainda sinto Theodoro andando atrás de mim, apesar de ter o meu olhar completamente petrificado no homem a minha frente. Vicenzo Beruth. Filho de Lázaro Beruth e herdeiro de uma das heranças mais valiosas da Itália: uma máfia. Lázaro está a ensinar seu filho os truques, pois logo deseja se aposentar.

Há uns quinze anos se iniciou uma outra máfia aqui na Itália. Lembro-me que a minha famiglia ficou maluca com a notícia e rapidamente fomos tirados de circulação, indo pra alguma propriedade muito longe, que se eu não me engano, não aparece no mapa.

Meu avô, Marco Dalylova, que Deus o tenha, tratou de resolver isso e pediu para que voltássemos. Meu pai não estava de acordo, mas meu avô garantiu nossa segurança e bem, até agora deu tudo certo. As máfias se interligaram há alguns anos, mas minha relação com Vicenzo nunca foi de melhores amigos, como podem ver.

— Bella... — papai tenta dizer algo, mas continuo a andar rumo ao homem com a sobrancelha arqueada, a minha frente.

— Me avisaram que alguém estava a minha espera. Deseja algo, senhor Beruth? — paro de frente para ele e cruzo meus braços.

Vicenzo deveria ter os mesmos dezenove anos que eu possuo, um ano e alguns meses menos que Theodoro. Nos conhecemos há anos. Nossos pais são amigos e eu estranho Lázaro não estar presente nessa reunião de última hora. Olho pro meu pai e ele está sério, como de costume.

— Gostaria que devolvesse o meu carregamento.

Sorrio leve.

— Eu não peguei nada.

— Bella, devolve o carregamento do Vicenzo - meu pai pede.

— Está no galpão norte. Você deveria cuidar mais dessa tropa que chama de soldado e se atentar a suas estratégias — enfatizo a última palavra — Não tive trabalho algum para pegar.

— Está se tornando uma bela ladra, qualquer dia aparece com a cabeça em uma bandeja...

Encosto perto do seu rosto. A sala está lotada, mas quero dizer algo que somente ele possa escutar.

— Não se antes eu decepar a sua.

Meu pai chega perto e afasta meu corpo de Vicenzo. Essas implicâncias se iniciaram desde que ele tem ficado a frente de algumas coisas na Frash, que ligam a Royale. Não aceita também o fato de que uma vez, ganhei um torneio de tiro que ele participava. É como se ele se incomodasse com o fato de uma mulher ser melhor que ele.

Porque, meu bem, eu sou.

Minha mãe diz que eu sou a versão feminina do meu avô e eu me orgulho disso cada vez que ouço. Me espelho em tudo que ele é e meu desejo é me tornar alguém muito melhor e mais forte.

— Bella não fez isso para enfrentá-lo, Vicenzo. Leve como um teste, tudo bem? Ela queria testar como estava a segurança dos seus soldados.

— Está péssima, aliás — completo a frase do meu pai.

— Bella! — ele me repreende.

— Desculpa, pai.

— Só a mim?

Eu o olho com os olhos arregalados e Vicenzo tem um sorriso no rosto, de vencedor.

— Eu não vou pedir desculpas a ele. Não vou mesmo.

— Não há possibilidade de você querer ser alguém dentro da Royale se tenta acabar com a paz estabelecida há anos. Quer outra guerra por simples caprichos? Devolve a carga de Lázaro e me prometa que não irá pegar mais nada.

— Eu não roubei, pai. Não preciso daquele bando de arma.

— Só me prometa, Bella.

— Eu prometo — digo a contragosto.

Era óbvio que eu não queria roubar nada, não preciso de um avião cheio de armas. Só queria testar a paciência de Vicenzo. Sei todos os seus pontos fracos e não foi difícil descobrir que todos eles ligam a máfia. Talvez por ser muito dedicado e prezar por mostrar ao seu pai que está preparado para assumir os negócios. Não sei como estão as leis de hoje, mas se não mudaram, até se amarrar a alguém, Vicenzo não poderá assumir absolutamente nada.

Casar.

Quem inventou que alguém que tem morar em uma casa com um completo desconhecido?

O casamento dos meus pais deram certo. São felizes e deram vida a mim e a Theodoro, mas, com certeza isso é uma exceção. Já ouvi histórias em que um acaba abandonando o outro, estuprando, espancando e até mesmo matando. Garanto que eu não sou a que morre.

Vicenzo fala alguma coisa com o meu pai e logo vai embora com alguns dos nossos soldados para resgatar o carregamento. O garoto não sabe nem as estratégias para completar uma missão. Não levei mais que dez minutos para hackear a linha do avião, mudá-la e fazer pousá-la em meu território.

Sorrio me lembrando da tranquilidade que tive em pegar esse carregamento. Confesso que também fiz isso para treinar as minhas técnicas , pois daqui uns anos eu quero estar comandando muita coisa aqui dentro.

— Ouvi dizer que está roubando as cargas alheias, Bella — meu tio Henrique chega, adentrando a sala e beija o topo da minha cabeça.

— Apenas para testar minhas técnicas.

— Essa é a minha garota! — ele infla o meu ego.

Meu tio nunca quis se meter nessa vida, mas sempre apoiou quem quis e me dá a maior moral para fazer parte. Eu e Theo. Meu irmão gosta, por ser dois anos mais velho, já está mais dentro do que eu e me sinto uma inútil por causa disso.

São só dois míseros anos. O que muda? O meu QI já é altíssimo e eu conseguiria facilmente articular qualquer ideia e até mesmo executá-la.

Vejo meu tio indo em direção ao escritório do meu pai e imediatamente sinto meu celular vibrar. Rapidamente abro e é uma mensagem de número desconhecido.

"Pegue mais uma vez a minha carga e eu te presenteio com uma jugular jorrando sangue"

A gente sabe que não, querido Vicenzo. Olho sua foto de perfil para ter certeza de que é ele mesmo e apesar de toda implicância, não posso negar como é charmoso. Todo mundo tem um estilo de pessoa, alguns gostam de loiros, morenos, ruivos... eu tenho o meu estilo e incrivelmente aquele italiano de araque se encaixaria, se eu um dia o quisesse.

Pele clara, olhos castanhos e cabelo baixo. Tenho um fetiche por pessoas normais. Nada de bombados, tatuados ou brincos. Pessoas assim se destacam no meio em que eu vivo. Só homens fortes demais, altos demais, carecas demais e maldosos demais. Então, o normal acaba virando o exótico.

Não me dou o trabalho de responder às provocações, apenas retribuo com ações e deixo os falatórios para os perdedores. Favorito a mensagem e guardo o celular novamente no bolso, sorrindo.

JOIA RARA - Trilogia: Guerra por Amor #2Onde histórias criam vida. Descubra agora