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O despertador de seu criado-mudo berrou às três da manhã e Hermione deu um bufo de irritação. Não havia jeito de conseguir dormir. Estava morta de cansaço depois de um dia frenético entre provar vestido, o penteado, tomar as últimas decisões para o fim de semana seguinte. Correr da casa dos seus pais para A Toca, uma e outra vez, Gina dizendo a cada momento que não podia acreditar que até que enfim seriam irmãs, e que quando ela se casasse com Harry seriam todos uma grande família; Molly repassando pela décima vez a lista de convidados: " Eu sei que deixei alguém de fora, mas não consigo lembrar quem é!", Arthur brincando com os eletrodomésticos trouxas que tinham chegado da família dela. E o zumbido incessante da casa cheia de gente que entra e sai, conversa, ri e é feliz. Mas ela desejava tapar os ouvidos com as mãos enluvadas e parar tudo.
Por isso quando por fim chegou a residência dos Prince essa noite já passava da meia-noite, bendisse o silêncio absoluto que a esperava e deu graças aos deuses pelo fato de que Rony estava treinando para juntar-se ao time e não pôde ficar para dormir com ela essa noite; queria a cama somente para ela, queria poder dormir no centro e esticar os braços e as pernas procurando o lado mais frio do lençol...e dormir. Dormir profundamente, porque nos sonhos podia esquecer-se de tudo, podia esquecer quem era o que se esperava dela. Descansar.
Mas depois de três horas revolvendo-se entre os lençóis começava a pensar que esse sensível prazer lhe seria negado. Podia levantar e pedir a Severus uma poção para dormir. Hermione não podia evitar sorrir na escuridão, estava há três horas tentando não pensar nele e tinha falhado miseravelmente, e levantar as três da manhã e bater na porta dele de camisola não era precisamente a melhor forma de deixar de pensar nele.
Era tão ruim pensar nele? Decidiu que sonhar acordada um pouco não fazia mal a ninguém, e abraçando a almofada que tinha ao seu lado deixou sua mente vagar livremente. E claro, apenas um pouco de liberdade e sua mente voou para a lembrança do seu Professor de Poções. Com os olhos fechados viu passar as imagens em sua mente: a lembrança da manhã que despertaram juntos, ou quando pela primeira vez se deu conta de que a relação que tinham era algo especial. Imaginou-se deitada ao seu lado na cama, enquanto ele a abraçava e a colava em seu corpo, sentindo a respiração dele em seu ouvido, sentindo suas mãos vagando sobre sua pele. E pensar que agora era perfeitamente capaz de controlar todo seu corpo... não pôde evitar e enterrou sua cara na almofada para afogar os risos histéricos que saíram de seus lábios ainda que contra sua vontade. Mas, à medida que seu riso ia diminuindo, outra lembrança a assaltou: a imagem de estar presa em seu pescoço, chorando, enquanto ele a olhava como se não existisse nada mais no universo que o brilho dos olhos dela; a forma pela qual a abraçou e enxugou suas lágrimas, o consolo que dava a suave vibração da sua voz. E o beijo maravilhoso que a fez questionar tudo que tinha assumido.
Ele sentia algo por ela? Negava-se a acreditar que o beijo não significava nada. Tinha sido tão intenso, tão carregado de emoções, tinha saído direto desse lugar do coração onde se guardam as emoções mais profundas e secretas. Era um beijo que jamais deveria ter deixado que acontecesse, porém, aconteceu. E não apenas isso, além de beijar Severus, soube que ele também sentia o mesmo por ela, que seu beijo também tinha saído desse lugar escondido, que tinha lutado para resistir, e que ao final tinha se rendido. Estaria certa disso se não fosse a lembrança de seus rosto inexpressivo quando o olhou nos olhos.
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Maldito morcego enigmático.
Mas o que faria se ele tivesse se apaixonado de verdade por ela? Isso mudaria algo?
- Maldição, isso não é normal – murmurou enquanto jogava para trás os lençóis com um movimento enérgico e se levantava para ir até a cozinha pegar um copo de leite. Não ia acordar os elfos às três da madrugada.