capítulo 2

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Apesar da ameça de Hermione, Severus respirou aliviado ao comprovar que era outra a enfermeira destinada a cuidar dele. Agora que tinha recuperado a voz, mas ainda não estava forte o suficiente para levantar, voltara a ser o "carismático" Severus. Em questão de algumas horas a pobre medibruxa de St. Mungus jogou o avental de Papoula, o nó desfeito, os olhos vermelhos e cheios de lágrimas de raiva.

- Estou saindo daqui! Não passei tanto tempo estudando para cuidar de bastados amargos.

- Mas, querida, o Professor Snape é um heroi de guerra...

- Eu não me importo nenhum pouco! De tanta gente maravilhosa que morreu na guerra tinha que sobreviver justamente essa coisa! Tomara que se engasgue com sua própria língua enquanto dorme.

E assim se foi a primeira enfermeira e não tinha sido fácil consegui-la. A maior parte dos medibruxos jovens tinham sido alunos de Snape e lembravam bem dele. Além disso, bastava mencionar a palavra "Snape" para vê-los estremecer ou torcer a boca. Os mais velhos conheciam sua fama de Comensal ou haviam lidado com ele. Logo, só tinha um bocado de aprendizes, todas da Lufa-Lufa, dispostas a sacrificarem-se para cuidar do heroi de guerra.

Severus, entretanto, envolto em uma nuvem escura de pessimismo, depressão e auto-piedade, não econtrava nada melhor com que se distrair a não ser aterrorizar suas medibruxas. Oh, sim... era um dom, tudo uma arte. Severus as estudava, procurava suas fraquezas, suas inseguranças e ...paf! Sem aviso prévio, via o golpe de misericórdia.

- Oh, a menininha do papai... sempre quis que você fosse medibruxa, não é mesmo? Pergunto-me o que ele diria se soubesse que não tem a mínima aptidão para medibruxaria, não importa o quanto se esforce...

- Senhorita Coleman, suas delicadas mãos foram feitas para outras coisas, certamente não foram feitas para medibruxaria... - dizia com um sorriso malévolo enquanto segurava a mão da jovem confusa – Coisas como...como... diga-me senhorita Coleman, o que serve um dom se não o usa para nada?

- Tsc,tsc,tsc senhorita Belcher. Você acha realmente que pode superar seu irmão? Ele tem anos de vantagem. Anos. Pelo menos é assim que aparece nesta edição de Saúde Mágica. Seus estudos sobre os usos alternativos da essência de ditamo são muito interessantes... mas se esforçar-se o suficiente é provável que ele peça para que você seja... a garota de recados.

- Severus Snape! - o repreendia Papoula cada vez que uma enfermeira saía chorando pela porta. - Ninguém vai querer cuidar de você! Pobres meninas...

- Se elas tivessem um pingo de inteligência ou senso comum perceberiam que o que eu digo não procede. - Ele se defendia com cara de inocente. - Mas, são umas tontas! E já que são tão estúpidas para acreditarem em tudo que digo, é porque merecem.

Se Severus acreditasse na lei do Karma, não teria se comportado de tal maneira. Logo percebeu que tinha mais razões para sentir-se miserável do que as que sabia desde o princípio. Em uma noite, quando se sentiu suficientemente recuperado para ficar de pé... e simplesmente não pode. Empurrou os braços até ficar sentado, mas suas pernas se negaram a sair da cama. Apavorado, ele jogou os cobertores para trás e levantou uma de suas pernas com as mãos e a deixou cair. Nada. E a outra também não.

O impacto da descoberta o deixou paralisado. Não foi sequer capaz de ter um pensamento coerente, as ideias iam e vinham como relâmpagos que confrontavam-se uns com os outros, afogando-se e anulando-se mutuamente.

A manhã chegou sem que ele percebesse, e quando Papoula entrou no quarto com a bandeja de café da manhã o encontrou ali, sentado na cama com as pernas nuas e o olhar perdido.

- Por Circe Severus! - exclamou deixando a bandeja cair. Entendeu o que tinha acontecido e percebeu que não seria fácil fazê-lo entender.

Severus levantou a cabeça e a fitou com os escuros olhos vazios.

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