— Você está afastando as pessoas com esse tipo de atitude. — dizia Mingyu, enquanto tomava um picolé de uva que deixava seus lábios e dentes tortos roxos. Nós andávamos pelas ruas floridas de primavera, no tempo em que devíamos estar na aula. — Eu sei que... Não quer se magoar com as pessoas e toda essa parafernalha de filmes dramáticos, mas... Wonwoo, essa é a vida real e você odeia a vida real porque é gótico e etc, mas...
— O seu comentário me faz querer gostar menos...
— O ponto é que... — seus olhos estavam vidrados no sorvete. — Wonwoo, não pode viver desse jeito... — eu ia retrucar o bom e velho "Quem disse?", mas Mingyu continuou: — Não é divertido viver no mundo real?
— Não é divertido estar sozinho? — zombo.
— Se estivesse, ou quisesse, ficar sozinho, não teria vindo comigo a este passeio. — dou de ombros, enquanto continuava: — E... Sem corações partidos na balada.
Quando menos pude esperar, eu e Mingyu estávamos em uma matinê qualquer no centro na cidade.
Meu novo amigo chamou aquele buraco escuro de "Toca Dos Renegados"; Mingyu me explicou que todos que sofriam pelas ruas, iam para lá. E só Deus sabe o que Mingyu fazia ali.
Drag Queens, transgêneros, afeminados, masculinizadas... Todos os tipos de pessoas que sofriam algum tipo de exclusão pelo mundo, se encontravam ali.
— O quê fazemos aqui? — questiono, andando amedrontado, ao seu lado; Mingyu sorria como se estivesse em casa.
— As pessoas daqui não julgam as outras e, talvez, sofrem até mais que você! — ele ri.
Mingyu vai direto para a pista de dança junto com as pessoas mais estranhas do mundo; eu fui para uma mesa vazia. Fico, no máximo, cinco minutos apenas ouvindo uma música que eu nunca havia escutado antes e observando Mingyu se divertindo. Quando nota que eu estava o olhando a se divertir com meu amigo que dançava sem escrúpulos, um baixinho vêm até a mim, com a cara emburrada; seu cabelo estava com a coloração roxa e bem viva e contrastava com sua pele pálida e as luzes da boate.
— Você tem cheiro saudades... — disse, se sentando ao meu lado.
— Obrigado? — questiono, confuso.
Ele ri.
— Sou Jihoon.
— É, Jihoon, talvez eu esteja com saudades e deprimido... Mas eu tenho um desejo enorme de estar feliz!
— E qual é o problema? Se quer feliz, que seja!
— Acho que tenho medo de recomeçar.
— O medo não é uma boa desculpa. O medo é a desculpa que todo mundo dá... — ele se levanta.
— Aliás — começo, antes de Jihoon sair. — Sou Wonwoo. — ele apenas, sorri, e volta o seu caminho ao bar.
Mingyu, de repente, se senta do meu lado.
— Então, agora você conhece Jihoon... — ele sorri. — Se conhece Jihoon, conhece a todos por aqui!
— E isto é bom?
— Mais ou menos... — Mingyu faz uma careta. — Vem! — ele começa a me puxar pelo pulso até a pista de dança cheia.
Passamos o resto da tarde bebendo, dançando e fumando; foi tão divertido e aleatório para uma quarta-feira de aula que eu não consigo explicar com palavras.
Mingyu deve ter ficado com umas treze meninas, no mínimo; seu modo estranho porém único de dançar deve ter conquistado as garotas. Até pensei ter visto o meu amigo com um ou dois meninos, mas Seungkwan havia o chamado de "hétero-robusto", então deve ter sido paranoia da minha imaginação junto com as bebidas fortes.
— Vamos para casa, Wonwoo? — Mingyu se aproximou, falando em meus ouvidos por conta da música alta.
— Para a sua casa? — questiono.
— Sim, se quiser... — ele olhava para seu relógio de pulso. — Já é tarde.
Ele me puxa pela mão para fora do estabelecimento.
A rua estava deserta e escura, apenas um motel barato à nossa frente nos iluminava:
— Temo não conseguirmos pegar uma ônibus para o subúrbio à essa hora.
— Tema mesmo...! — Jihoon se aproximou da gente, com um sorriso no rosto. — Os ônibus pararam de circular faz uma hora e trinta... — Mingyu fica em silêncio, então decido fazer o mesmo. — Aqui está. — Jihoon joga uma chave com um pingente escrito "12" pendurado. — Só tem uma cama... Cuidado para não passarem para o outro lado. — ele riu e entrou na boate.
— Outro lado? — questiono, enquanto Mingyu sorria.
Atravessamos a rua e entramos naquele motel-uma-estrela.
O carpete vermelho estava desbotado, as lâmpadas amarelas deixavam aquele lugar, ao mesmo tempo, acomodativo e desleixado. Não havia ninguém nos corredores nem na recepção. Eu e Mingyu subimos as escadas em alguma direção que eu desconhecia.
Ele parou à frente do quarto número doze e destrancou a porta.
Mingyu entrou sem medo; já eu fiquei parado encarando o carpete também desbotado, os cabides no chão, as cortinas sujas... E ele se sentava na cama, tirava seus sapatos, jaqueta de couro e camiseta, ficando, apenas, de calça.
— Se importa se eu dormir na cama também? — perguntou, enquanto eu entrava e batia a porta. — Estou muito cansado para dormir no chão...
— Está bem. — me sento do outro lado da cama, tiro meus sapatos e jaqueta e deito.
Sinto as molas do colchão nas minhas costas e a cama balança mais quando Mingyu apaga a luz e se deita ao meu lado.
— Gostou do dia? — questiona, curioso. Sinto seu corpo quente ao meu lado sem, ao menos, nos encostarmos.
— Foi... Incrivelmente inesperado.
— "Incrivelmente inesperado" não é o melhor elogio de todos, mas vou aceitá-lo mesmo assim... — consigo senti-lo sorrindo ao meu lado.
Estávamos deitados, olhando para o teto. A única parte dos nossos corpos que quase se tocavam eram os cantos de nossas mãos e pés.
— Como conheceu tal lugar? — pergunto.
— Não sei, na verdade... — ele riu. — Estava andando perdido, e encontrei Jihoon... Ele me apresentou o lar dos renegados...
— Renegados?
— Todos que podem sofrer por serem o que são — explica. —, as drag queens,os transgêneros, as travestis, as lésbicas, os gays...
— Você é gay? — pergunto, curioso, após achar ter presenciado duas cenas.
— Garotos gostam de garotos, como garotas fazem...
Reflito por um tempo.
— Não me respondeu.
— Por que não posso gostar tanto de garotas quanto de garotos?
— Isso é novo. — me sento na cama.
— Sentimentos são diferentes para cada pessoa. Ninguém sente igual.
Fico mais um tempo em silêncio.
— Você já...? — estava com vergonha de perguntar.
— Se eu já fiz sexo com garotos? — não respondo. — Minghao é meu passatempo e eu sou dele. — ele se senta.
— Minghao? O transferido da China?!
— Ele é um tanto manhoso, mas juramos segredo.
Sorrio de canto.
As mãos de Mingyu foram para os botões da minha camisa social e abriu alguns botões com calma.
Não tento impedir.
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Nowhere Boy
Teen FictionEm pleno anos 1963, Jeon Wonwoo, um amante de música, filmes e garotas, tem que lidar com a paixão-platônica-inexplicável de seu amigo homossexual, que esconde esse segredo de todos, e os problemas em casa, como o excesso de bebida que seu irmão mai...