Notei um clima pesado no ar do hotel. Os funcionários estavam agitados e pareciam estar sempre nos observando como se tivéssemos feito algo de errado. Porém, parece que Brandon não notou. Estava chapado e comia seu croissant tranquilamente. Talvez fosse coisa da minha cabeça, eu havia sido refém por tanto tempo que já estava perdendo noções de convivência.
Pensei em várias maneiras de me ver livre de Brandon e fugir dali. Mas a voz de Brandon sempre ecoava em minha cabeça dizendo: Se tentar qualquer coisa, eu te mato.
E eu sabia que ele faria.
Os funcionários começaram a sair de fininho do local e estavam avisando algo para os outros hóspedes. Eu notei que algo estava acontecendo mas era tarde demais. A polícia invadiu o hotel e no reflexo, Brandon me pegou pelo pescoço me segurando forte.
Foi tudo muito rápido e eu me senti enjoada ao extremo.
Haviam descoberto nosso esconderijo.
Eu chorava muito, mas era de felicidade. Eu finalmente seria livre. Então, Brandon sacou a arma e apontou na minha cabeça, olhando transtornado para a polícia.
— Qualquer movimento e eu estouro a cabeça dela!
— Brandon, não, por favor…
— Cala a boca, porra! Tudo isso… TUDO ISSO é por sua causa, sua desgraçada. A culpa é sua! A culpa é toda sua!
Eu pensava no rosto de meu pai enquanto Brandon falava. Aquelas palavras tão familiares e hostis rondaram minha cabeça por anos e agora estavam de volta. Eu sentia uma dor enorme no meu ventre e vontade de vomitar. Era uma crise de ansiedade.
Então, dentre os policiais, eu ouvi uma voz familiar que não escutava a meses. Uma voz doce mas um pouco falha por conta da emoção.
— Sun… minha filha…
— Mamãe? Mamãe! É você!
Eu via o rosto da minha mãe e é como se fosse a primeira vez, Deus me deu a vida pela segunda vez. Não conseguia me conter e tremia muito. A arma apontada na minha cabeça e minha mãe bem ali na minha frente, apenas a alguns passos de mim, mas eu não podia tocá-la.
— Mãe, me perdoa… Por favor!
— Lembra quando você se machucava e pedia desculpa a mim por ter se machucado? A culpa não era sua, Sun. A culpa não é sua. Você vai sair dessa e vai voltar pros braços da mamãe, ok? Você só precisa ficar tranquila.
— CALEM A BOCA! AS DUAS! - Brandon bradava com muito ódio na voz. Eu sentia seu suor pingar e sua mão tremia.
Fiquei em silêncio para que Brandon não se estressasse mais e contemplei o doce rosto de minha mãe novamente. Ela estava um pouco magra e pálida mas ainda era minha mãe. Imagens de nós duas quando eu era criança começaram a passar pela minha mente.
Flashback on
— Mamãe, por que o papai não me liga mais?
— Ah, minha pequena Sun… - mamãe me abraçou — Os adultos são complicados e seu pai não foge a regra. Mas se você quiser, a mamãe pode te ligar sempre, mesmo estando bem pertinho!
— Eu só queria que ele gostasse de mim - fiz uma carinha triste e mamãe me deu um beijo
— Você sabe porque te dei esse nome, Sun?
— Por que, mamãe?
— Porque é você quem ilumina todos os meus dias. Apesar de seu pai não estar mais conosco, eu vou trabalhar duro para que eu seja como um papai pra você também!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha amarga síndrome de Estolcomo
Mystery / Thriller[NÃO SERÁ ROMANTIZADA] Sun é uma garota comum que é sequestrada junto de sua melhor amiga, Sarah e Abbie, uma até então desconhecida. Porém Sun se vê apaixonada por seu sequestrador, Brandon e sofre as consequências desse amor violento e abusivo.