Capítulo 5 (visão de Sun)

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Eu já não fazia noção de que dia da semana era mas notava que Brandon parecia agitado. Talvez ele fosse finalmente pôr o plano de expor o sequestro em ação.

Eu me sentia totalmente sozinha naquela casa, só podia contar com as meninas e conversar com Alex às vezes. Ele sempre dizia iríamos conseguir sair dessa e que Brandon não faria nada conosco.

Resolvi ir até a cozinha para fazer algo e me distrair, afinal todas dormiam. Brandon e Alex estavam jogando xadrez. Depois de mais de 4 dias, eu já sentia que aquela casa era minha.

— Ei, vocês querem batata frita?

— Hmmm parece que temos uma cozinheira por aqui - Alex riu enquanto me zoava.

— Se ficar boa, eu topo. - Brandon respondeu em tom seco. Estava distraído com o jogo. Eu apenas sorri e assenti.

Lavei as batatas e descasquei com cuidado. Sentei na mesma mesa que os meninos para cortar as batatas. Estava cortando e me distraí olhando para o jogo, então fiz um corte profundo em meu dedo. Com o susto e a dor, eu soltei um grito. Alex deu um pulo da cadeira e Brandon viu que era um corte.

— Ai!

— Merda, Sun! - Brandon disse irritado e correu para pegar um kit pronto socorro.

Quando voltou, se ajoelhou perto de mim e estancou o sangue do meu dedo com um pouco de cuidado. Eu nunca imaginei que Brandon pudesse ser assim. Eu fiquei observando atentamente a cada movimento que ele fazia. Passou um remédio com propriedades cicatrizantes que ardeu bastante em meu dedo e um band-aid. Eu estava acostumada com band-aids da Hello Kitty então aquele marrom genérico foi bem estranho.

Ele suspirou fundo e se levantou. Me encarou com um olhar frio e penetrante mas o tom de voz era mais baixo.

— Vê se toma cuidado da próxima vez.

— O-obrigada… - Eu disse com um fio de voz, estava com medo dele e não sabia exatamente porquê.

Brandon balançou a cabeça negativamente e pegou o saco com as batatas descascadas. Jogou fora a que estava ensanguentada e as cortou, uma por uma. Suas mãos eram fortes, brutas e tinham veias saltadas. Algumas cicatrizes que provavelmente eu jamais saberia a história.

Eu tinha curiosidade sobre Brandon, mas sabia que não obteria nada disso. Mesmo assim, ele tinha um ar misterioso e eu gostava disso.

Alex disse que tinha algumas coisas para resolver com os "caras da parada" e saiu. Antes de sair, deu uma espiada em Abbie dormindo mas disfarçou quando viu que Brandon estava olhando.

Eu fiquei um pouco nervosa em ficar sozinha com o meu sequestrador e tinha mil motivos pra isso. Ele era imprevisível e eu tinha medo que ele fizesse algo. Mas de alguma forma, eu me sentia ligada a ele e bem no fundo sentia que ele não faria nada comigo. Eu confiava nele.

Ele deixou as batatas fritando no óleo e sentiu o calor da fritura tomar conta de seu corpo também. Então ele tirou a camisa e eu tive o prazer de ver suas costas nuas com a enorme tatuagem de dragão que ele tinha. Dei uma leve mordida no lábio e quando ele se virou, eu disfarcei. Só achava ele gostoso mas não queria fazer sexo com ele. Isso era doentio.

Ele trouxe a batata até a mesa em um prato e um papel anti-gordura.

— Qual a parada que você tem com o seu pai?

— O que? - olhei para ele confusa, como ele sabia sobre meu pai?

— Você sabe, pirralha. Seu pai é John Wang, um dos caras mais ricos da região. Mas mesmo assim, nunca vi vocês dois juntos, só vejo uma vaca loira andando com ele. Mesmo estudando todo seu trajeto por um ano, vocês nunca me pareceram próximos.

— Bem, a vaca loira é minha madrasta "querida". E meu pai não gosta muito de mim. Quando éramos uma família, ele passava bastante tempo no trabalho e nunca tinha tempo. Depois que ele separou da mamãe, ele nunca pode nos dar dinheiro também. A mamãe trabalha vendendo doces pra nos sustentar.

John deu uma risada amarga e tamborilou seus dedos na mesa.

— Você tem uma vida patética, Sun Wang.

— Obrigada, mas a sua também não parece ser das melhores…

— Eu ganho dinheiro matando pessoas e me divertindo, o que tem de ruim nisso? Você deveria me agradecer por te tirar daquele inferno. - ele disse ríspido e um pouco irritado, comecei a temê-lo pois quando ele se irritava com Sarah, batia nela sem dó.

— Eu.. eu quis dizer na questão de família. Me desculpe, não precisamos tocar nesse assunto. - Brandon se acalmou, parecia que ele não gostava quando falavam da vida que ele levava. Ele parecia feliz assim.

— Ah, tudo bem. Bom, eu saí de casa quando era mais novo porque meu pai gostava de me dar porrada. Minha mãe era uma louca também. Eu odeio os dois e aprendi a contar apenas comigo. Pronto, acabou a divertida história.

— Sinto muito.

Eu estendi minha mão para pegar algumas batatas e ele deu um tapa na minha mão, não doeu tanto mas eu me assustei.

— Você só vai comer batatas quando aprender a cozinhar sem fazer merda.

Brandon gargalhou mas eu não achei engraçado. Então fiquei estática encarando ele, uma expressão meio assustada. Ele me olhou, pegou uma batata e atirou no chão.

— Você quer, cachorrinha? Então pega!

— Eu não tô mais com fome, Brandon, obrigada. - eu olhei para o chão, me sentia totalmente humilhada.

— Pega. Agora.

Eu odiava fazer aquilo mas não queria contrariá-lo, então eu fiquei de quatro e me arrastei para pegar a batata que estava ao lado dele caída no chão. Rezei internamente por proteção. Abaixei meu rosto até o chão e comi a batata. O chão estava limpo, por sorte, as meninas haviam feito faxina mais cedo. Recebi alguns tapas na bunda por Brandon e fechei os olhos. Eu queria muito chorar.

Me encolhi no chão e chorei como uma criança. Brandon vendo aqui se ajoelhou e deslizou as mãos em minhas costas continuamente.

— Ei, ei Sun… Eu só estava brincando com você, querida…

Brandon disse bem baixinho e me recostou em seu colo. Eu continuava a chorar pois estava assustada, carente e pra completar, sentia falta do meu pai. Aquela conversa havia me afetado.

Brandon apesar de ser louco, foi um amigo naquele momento, eu precisava daquilo. Então, eu adormeci em seu peito nu.

Minha amarga síndrome de EstolcomoOnde histórias criam vida. Descubra agora