Sarah se levantou bem cedo, tinha assuntos para resolver.
Pôs sua melhor roupa, já estava saudável o suficiente e tomou um café reforçado. Precisaria de muito estômago para encarar o cara que arruinou sua vida. Passou uma boa maquiagem e um belo batom vermelho, realçando o contorno de seus lábios. Sarah se sentia bonita novamente, se sentia mulher.
Olhou para sua cama e viu um ursinho de pelúcia que Sun havia dado a ela fazia algum longo tempo. Era uma das únicas lembranças que haviam restado. Sarah quis chorar, mas não podia. Tinha que estar intacta para vingar a vida e o sofrimento de sua melhor amiga.
Apesar de ter contado com Abbie, era difícil ainda para Abbie sair de casa. Havia desenvolvido a síndrome do pânico e algumas vezes surtava. Abbie segurou uma pessoa morta em seus braços e mesmo fragilizada ao extremo, teve que deixar o corpo e dirigir de volta para a cidade. Não era de se estranhar que havia desenvolvido traumas.
Sarah foi sozinha. Tinha coragem e orgulho no peito. Não era uma pessoa má, mas naquele momento se esforçaria pra ser. Finalmente chegou no presídio. Fez todos os processos e se apresentou para conseguir finalmente ficar cara a cara com Brandon.
Quando o viu, deu uma risada debochada. Brandon estava magro, com um rosto cansado de muitas noites mal-dormidas e nem conseguia ficar de pé direito.
Brandon se sentou e a encarou friamente no fundo dos olhos. Não estava em posição para se achar, mas mesmo assim gostava de manter a pose. Sarah riu novamente. Aquilo só podia ser brincadeira.
— O que você quer?
— Sun está morta. Você planejou matá-la desde o início?
— Eu nunca a quis. Tudo o que eu disse a ela foi para mantê-la minha refém e assegurar pelo menos uma parte do dinheiro de resgate.
— Não foi o que você conseguiu.
— E ela não sobreviveu.
Brandon riu com um tom de sarcasmo bem claro. Não se sentia nem um pouco culpado por torturar, iludir e até matar Sun. Não mostrava nem um pouco de preocupação. A cada vez ele se mostrava mais um cara frio e psicopata. Sun só o conheceu de verdade em seus minutos finais.
— Chega dessa porra! - Sarah se levantou e fez sinal para os policiais, que entenderam o recado e seguraram Brandon o jogando no chão.
Ele não entendia o que estava acontecendo porém, Sarah já havia combinado o que aconteceria dentro daquela sala com os policiais. Brandon a olhava assustado, Sarah tinha sangue em seus olhos. O sangue de Sun, o sangue de Alex que foram derramados tão injustamente.
Sarah atingiu um chute em cheio na barriga de Brandon, que estava de joelhos e foi derrubado cruelmente no chão. Com seu salto, ela deu vários pisões nos braços de Brandon e ele já urrava de dor. Ela chorava mas dessa vez era de ódio. Lembrava de toda a humilhação que havia passado naquele cativeiro. Continuou chutando Brandon e cada vez sua perna parecia estar mais forte e mais disposta e feri-lo. Sarah deu um último chute com toda sua força no saco de Brandon. Essa última arrancou lágrimas dele e ele pedia sem parar, a misericórdia dela.
Sarah se agachou e olhou bem fundo nos olhos de Brandon sorrindo. Ele a olhava com pavor e sua respiração parecia dificultada.
— Você tem um lindo rostinho, não?
Ela gargalhou exageradamente. Parecia totalmente surtada e realmente estava. Brandon já estava com o corpo dolorido e quando tudo estava aliviando, recebeu um soco bem no meio da cara. Outro na lateral esquerda. Outro na direita. Seu nariz e boca já sangravam bastante, também estava bem inchado. Sarah começou a dar vários gritos agudos no ouvido de Brandon o deixando um pouco perturbado. Ele continuava implorando para parar e chorava feito um bebê.
O valentão se sentindo humilhado. Parecia coisa de filme.
Para completar, Sarah mexeu na sua bolsa e pegou uma gilete bem velha. Os policiais seguraram Brandon e riram. O Gran Finale.
Com a gilete, Sarah cortou um grande S no braço de Brandon. E no outro um A.
Sun e Sarah. Alex e Abbie. Para ele nunca mais esquecer, aquela cicatriz seria o reflexo de tudo o que ele fez todos sofrerem por meses. O sangue jorrava dos braços fortes de Brandon e ele acabou desmaiando. Sarah deu um último chute em seu rosto e suspirou.
Se despediu dos policiais, agradeceu a ajuda e foi embora. Ainda tinha dois funerais para ir.
Ao chegar no funeral, a ficha finalmente havia caído. Seus dois amigos estavam mortos.
O enterro de Alex foi simbólico, pois ele não era registrado como cidadão e no enterro de Sun foram apenas alguns amigos de sua mãe.
John Wang também estava lá e chorava bastante. Ninguém entendia o porquê. Ele não se importou toda uma vida e resolveu se importar na morte. Era patético.
Sarah sentiu raiva. Talvez se ele tivesse suprido o amor que Sun merecia, ela não passaria uma vida se culpando e não poria suas esperanças amorosas em um sequestrador.
Filho da puta.
O funeral chegou ao final e Sarah aproveitou o momento a sós com Alex enquanto outros jogavam flores para Sun.
— Ei, você quer saber, Alex? Você era um cara bom. Eu nunca tive a chance de dizer isso, mas sempre o admirei por ter crescido em um lar tão conturbado e mesmo assim ser doce, divertido, atencioso. Sabe? Você e a Abbie mereciam esse final feliz. E eu sinto muito por tudo. Sei que agora você está em paz.
Sarah jogou uma flor em seu túmulo e chorou. Se permitiu chorar de tristeza depois de tanto tempo. Pensou em como o coração de Abbie devia estar naquele momento. Em tudo o que Alex poderia ter vivido fora do crime. Ela não era tão religiosa, mas sabia que algo incrível aguardava Alex. Porque ele foi incrível também.
Ao se encaminhar para o túmulo de Sun, Sarah retirou uma flor artificial de sua bolsa e sorriu. Pôs a flor com cuidado em seu túmulo e olhou para a lápide, depois para uma foto de Sun. Naquela foto, Sun sorria e ironicamente, Sarah se lembrava pouco daquele sorriso tão sincero. Pensou então em Rosie, que havia desenvolvido uma depressão severa depois de perder a filha. Gostaria que Rosie estivesse ali contemplando aquele lindo sorriso. Na verdade, gostaria que Sun estivesse ali em carne em osso. Mas milagres não eram mais possíveis naquela época.
— Ei, você lembra dessa flor? - Sarah disse se referindo a flor artificial que havia jogado no túmulo.
— Bem, você me deu essa flor no jardim de infância, enquanto eu chorava porque um dos pirralhos puxou meu cabelo e disse que eu era muito feia. Você disse que eu era bonita como essa flor. E agora eu quero te devolver como prova do meu carinho por você.
Sei que é besteira lembrar disso, mas… agora, eu preciso mais do que nunca manter minhas lembranças com você vivas.
Me desculpa, eu… eu devia ter insistido mais, eu… eu devia ter te salvado, Sun. Não fui uma boa amiga pra você. Me perdoa.
Eu sinto sua falta.Sarah se afogava em suas próprias lágrimas e seus pais a abraçaram. Ela estava em prantos ajoelhada ao túmulo de sua melhor amiga. Queria que fosse só mais um daqueles pesadelos, mas não era.
O Sol brilhou forte iluminando o rosto de Sarah. Por mais que Sarah não fosse muito religiosa, sabia, aquele era um sinal de Sun.
Mesmo que não estivesse mais entre todos ali presentes, Sun ainda estava viva. Estava viva no coração de Sarah.
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Minha amarga síndrome de Estolcomo
Mystery / Thriller[NÃO SERÁ ROMANTIZADA] Sun é uma garota comum que é sequestrada junto de sua melhor amiga, Sarah e Abbie, uma até então desconhecida. Porém Sun se vê apaixonada por seu sequestrador, Brandon e sofre as consequências desse amor violento e abusivo.