Minha amarga síndrome de Estolcomo

Capítulo 9 (visão do narrador)

Do outro lado da cidade, Rosie não saía do departamento de Polícia. Precisava a qualquer custo de uma notícia de sua filha. Mas enquanto os dias passavam, ela não conseguia nada.

Conversava com os pais das outras vítimas constantemente e eles estavam preocupados também, não era pra menos.

Rosie já tinha o dinheiro doado pela vizinhança guardado e se fosse preciso, com certeza iria até o esconderijo do bandido para resgatar sua filha. Mas ela não tinha nada. Nenhuma pista. Então dependia da Polícia.

Mas eles não tinham um número para rastrear, aquele era totalmente inútil. Não tinham um rosto para investigar. Nada.

Presa em seus devaneios de como achar sua filha, uma policial parou na sua frente. Era Marie, uma policial negra, alta e bem bonita.

— Conseguimos pistas.

Rosie levantou imediatamente com lágrimas nos olhos. Era apenas uma chance. Ela finalmente conseguiria ver sua filha.

— Capturamos um colega de crimes do possível sequestrador. Por enquanto, ele se recusa a dar informações, mas iremos conseguir pistas.

Rosie sorriu ainda com os olhos molhados. Já pensava nos braços quentes de sua filha a envolvendo. O calor daquela pequena jovem que tornava seus dias melhores.

Ela só precisava de uma palavra: pistas.

Naquele momento, seu coração se encheu de esperança. Ela pediu para ver o tal colega do sequestrador. Marie ficou um pouco contrariada em levá-la mas com o desespero da mãe, não pode negar o pedido.

Rosie foi levada até o bandido. Eles estavam cara a cara em uma sala fria. Havia apenas uma mesa separando os dois. Rosie se sentou e o bandido a encarou com desprezo. Ela se sentia desconfortável mas começou:

— Qual o seu nome, filho?

— Por que isso te interessa?

— Eu sei que dentro de você, apesar de qualquer coisa que possa ter feito, tem um ser humano. Com um nome, identidade e tudo mais. Não é justo eu te tratar como um nada.

— Michael. Eu me chamo Michael.

— Michael, eu me chamo Rosie. Além de qualquer coisa, eu sou um ser humano também. Assim como você. Me diga, Michael, você já perdeu algo que amava?

— Muitas coisas… - Michael já mostrava uma certa emoção. Aquela mulher parecia verdadeira em suas palavras. Ele relembrou tudo o que perdeu pela vida do crime.

— Eu perdi muitas coisas também. Perdi o amor da minha vida. Perdi amigos. Perdi meus pais. E agora, eu perdi a única coisa que motivava a continuar. Minha filha. Minha pequena Sun. Eu preciso de você.

— Isso não é problema meu, dona. - Michael deu de ombros e tentou mostrar não estar atingido. Mas seu interior estava. Ele sabia como ela se sentia.

— Um de seus amigos sequestrou minha filha, Michael. Você veio do mesmo lugar que ele e sabe quem é. Por favor, me ajude, eu suplico. Me dê apenas um nome. – ela dizia com lágrimas nos olhos e um profundo desespero. Michael via que aquela doce mulher não merecia.

Michael abaixou a cabeça totalmente rendido a Rosie. Ele sentia a dor da perda. Ele sabia o quanto era difícil. E ele nem gostava tanto de Brandon assim, o que custava?

— Brandon. Só posso dizer que ele se chama Brandon.

Rosie em lágrimas o abraçou. Abraçou como se ele fosse um filho. Ela sabia que a vida do crime não era o tipo de coisa que dava pra sair de uma hora pra outra. E viu em seus olhos que ele era um bom homem.

— Obrigada, meu filho! Você vai sair dessa. E quando sair, eu vou te agradecer!

Michael sorriu. Fazia tempo que um homem como ele não recebia um carinho tão sincero, palavras tão especiais. Pensava que não merecia por ser sujo. Mas ele era humano.

Aquela mulher o fez sentir como não se sentia há muito tempo. E por um momento, ele agradeceu por seus caminhos terem se cruzado, mesmo em uma situação tão tensa.

A visita acabou e cada um seguiu seu rumo. A polícia coletou informações do que Rosie ouviu.

Rosie rezou para que aquele homem fosse livre quando aprendesse. Michael rezou para que Rosie encontrasse sua filha.