Wingardium Leviosa - O gato e o baile

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Aquilo parecia brincadeira, aliás, só poderia ser brincadeira. Quando, no mundo bruxo, um Sonserino teria a vassoura tão arriada por um Lufano? Mas infelizmente não era piada.

Alguém designado para a Sonserina naturalmente é astuto, Sonserinos são gulosos por poder, e na maioria das vezes orgulhosos e egoístas. Não é à toa que tantos ícones conhecidos eram legitimamente malvados, muitos se tornaram Comensais, em sua época. Éramos conhecidos como traidores, maldosos e perversos caso quiséssemos algo. Não era à toa, também, que nosso símbolo fosse uma serpente.

Mas eu nunca fui assim, naturalmente malvado ou duas caras, para falar a verdade, sempre fui alguém confiável e amigável. Eu fazia parte da casa das serpentes por dois motivos: Persistência e ambição. Coisas que viam em mim à distância.

Vindo de uma família dividida entre Sonserinos e Grifinórios, eu não fugi à regra. Logo aos meus onze o Chapéu Seletor mal precisou ser posto na minha cabeça e já gritara "Sonserina!".

Mas cá entre nós, não era muito comum que um sonserino, como eu, fosse tão trouxa por um lufano, como ele.

Naturalmente os Lufanos – muitas vezes chamados de inúteis pelos cantos do meu salão comunal, nas masmorras – eram leais, possuíam um coração imenso, eram justos, felizes e pacientes. Nada parecidos com os emburrados grosseiros da minha casa. Os Sonserinos julgavam os texugos tanto que estes eram as maiores vítimas de brincadeiras estúpidas. "Vamos entupir o Lufano na privada!" ou "vamos fazer a vassoura do texuguinho voar!" eram as brincadeiras mais leves.

Mas lá estava eu, completamente caidinho por um texugo. Não que fosse impossível – vejam, minha mãe Sonserina se apaixonara pelo meu pai Grifinório – mas nossas casas estavam literalmente do lado oposto do espectro.

E essa paixãozinha não é de agora, não, começou desde os doze, quando ele entrou na escola. Para falar a verdade, ele já chamava bastante atenção por conta dos olhos azuis e as feições asiáticas, mas me chamara ainda mais só por ser ele mesmo.

Park Jimin – ou Jimin Park, na Inglaterra - era uma completa mistura, era mestiço e miscigenado, diziam por aí que nascera nos arredores de Londres mas que seu pai era um trouxa coreano, enquanto a mãe era uma sangue-puro de olhos azuis inglesa. Não pude deixar de me espantar por saber que um dos garotos novos também era um quase-coreano, assim como eu.

Para tornar a situação ainda mais complicada para mim, aqueles olhinhos azuis brilhantes mal precisaram se posicionar sob o chapéu e ele já gritara "Lufa-Lufa!", e o menino apenas riu baixinho fazendo com que até seus olhos também sorrissem enquanto a mesa designada à sua casa comemorava em alto e bom tom.

Depois daquele dia eu me via sempre andando pelos arredores do corredor que levava a cozinha, a entrada de sua sala comunal, esperando o garoto de bochechas gorduchas aparecer.

Por Jimin ser tão inteligente, conseguiu adiantar algumas matérias em seu currículo escolar e por isso dividíamos a mesma classe na maioria das aulas, em Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração, Feitiços, mas ele era bom mesmo em Herbologia, e eu fazia questão de me aproveitar um pouco disso. Me mantinha ao seu lado enquanto praticamente copiava seu gestual apenas por aprendizado. Ele era tão bom que até as plantas o amavam.

Foi até engraçado que um dia eu perdesse uma batalha em Defesa Contra as Artes das Trevas para ele, mas eu era digno de um desconto, não queria machuca-lo por nada. Fiz questão de lançar meu feitiço para o lado errado, que acabou ricocheteado em mim mesmo. Era um feitiço fraco, mas me atordoou o suficiente para que eu caísse no chão. Valeu a pena. Jimin tinha se sentido tão mal por me ver machucado que se manteve na enfermaria comigo por todo o dia, e aquilo foi tão bom, até, claro, eu conseguir de alguma forma fugir da minha vergonha e fracasso.

De "Vassoura Arriada" Por Um Texugo | jikookWhere stories live. Discover now