Capítulo 1

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-Jennifer, mais força!

Meu pai gritava comigo conforme eu lutava contra um dos seus soldados, um dos seus melhores. Peguei a minha pesada e espada e por fim consegui deixa-lo sem saída, e sorri levemente para ele, Josh, um dos meus melhores amigos.

- Fim de jogo, soldado.

Ele sorriu contrariado e então, se afastou.

Olhei para meu pai que me olhava satisfeito, e fui em sua direção, tirando meu elmo no caminho.

- Comandante, o que achou do treino de hoje?

Ele semicerrou os olhos e começou a andar, meneando a cabeça para que eu o seguisse. Conforme, andávamos pela nossa Vila de San Miguel, eu observava as pessoas. Todos andando com suas armaduras e espadas, e conversando um com o outro na distância estabelecida pelo meu pai.

Regra número 1 da Vila: Não se pode ter relacionamentos entre ninguém da vila, exceto eu, que não podia me relacionar com ninguém, de nenhuma parte do mundo, mas, somente eu e minha família sabíamos dessa última parte.

Observei as pequenas casas de madeira, e as hortas eu estavam começando a ficar bem cheias. Sorri ao ver um grupo treinando, eu adorava isso.

- Você ainda não está forte o suficiente. – meu pai começou – E além disso, está próxima demais do soldado Josh.

Revirei meus olhos

-Você sabe que ele é meu amigo.

Chegamos na porta da nossa casa, que era um tanto mais privilegiada por pertencer ao Comandante César, meu pai, e a Cabo Jennifer Jéssica, eu mesma. Nossa casa era feita de madeiras mais escuras, e tinha um segundo andar, que eu particularmente, considerava desnecessário.

Entramos, finalmente, e me sentei no sofá, enquanto tirava as minhas botas, e minha armadura, ficando apenas de calça e blusinha. Fiz uma reverência ao meu pai, e fui até meu quarto, soltando meu longo cabelo negro, e me olhando no espelho.

Eu era uma garota de 16 anos, que cresceu aqui nessa vila, após ser encontrada pelos meus pais. Ou seja, sempre fui uma pessoa rodeada pelas armas, brigas e pela ordem. Nunca conheci outros lugares além dessa vila, e sabia que somente quando me tornasse uma pessoa de patente mais alta é que poderia ser submetida à missões fora dessa região.

Entrei no banho, sentindo meu corte que fiz no treino queimar um pouco, mas, ignorei mesmo assim. Me enrolei na toalha, penteando meus cabelos e encarando meus olhos negros no espelho, e meu corpo, já formado e sorri pra mim mesma, eu gostava da minha vida.

Sempre cresci cheia de regras, mas, sempre entendi que eram para me proteger. Além disso, meu pai sempre estabeleceu limites tanto de horários, quanto de proximidade, ou de outras coisas do tipo.

Coloquei minha roupa de couro preta, e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, já que estava proibida de usar o cabelo solto. Suspirei fundo, e fui até a sala de jantar, para ter meu momento com a minha família.

Sentei na mesa, e vi a minha mãe, que também era uma guerreira, se aproximar com meu prato já feito com a quantidade de comida que podia comer por noite. Sorrio em agradecimento, e espero meu pai se sentar para poder começar a comer. Quando enfim se senta, fazemos nossa oração, e começamos a comer.

- E como foi no treino hoje Jenn? – minha mãe começa, e quando abro a boca para responder, sou surpreendida pelo meu pai que toma a palavra, e como regra, não podia interromper nunca.

- Ela ainda está muito fraca, e sorrindo demais para o soldado Josh.

Eu percebo que estou sorrindo, e rapidamente desafaço meu sorriso. Sempre me esquecia dessa regra, nunca sorrir, e principalmente, nunca rir.

- Creio que vou melhorar bastante, eu vou me esforçar o máximo que puder. – E reprimo o sorriso que surge, e tento falar com mais imposição. Meu pai assente em aprovação.

Meu pai acaba de comer, e então nossos pratos são retirados da mesa pela minha mãe, já que todos tinham que sair da mesa, quando ele saísse. Nos levantamos todos juntos, e então olhei pro meu pai.

-Senhor, gostaria de ir lá fora para a fogueira por meia hora Tenho sua permissão?

Ele pensa um pouco e então assente, fazendo um gesto que me indicava a porta. Coloquei o abrigo e fui indo em direção à fogueira, onde me encontrei com Josh.

-Como se sente tendo perdido para mim de novo?

Josh era um garoto de 18 anos, mas, como éramos os mais jovens da vila, acabamos criando um laço de amizade. Ele era loiro, corpulento e com seus olhos castanhos, e então me encarou por alguns instantes.

Reprimo um sorriso pra ele, e me sento ao seu lado, pegando uma cidra.

- Jennifer, Jennifer... Já te falei que você vai ser uma grande guerreira não é?

Brindei meu copo de cidra ao dele, e cruzei minhas pernas observando o crepitar do fogo. Olho bem firme para ele, e então finalmente sorrio, cedendo ao seu olhar brincalhão.

- Não entendo o porquê que você não pode sorrir, e nem fazer nada que nós jovens normais fazemos...

Abaixei a cabeça e comecei a mexer o copo. Não ia discutir com ele sobre a autoridade do meu pai. Eu sabia muito bem quais eram as consequências disso, ainda tinha cicatrizes no meu corpo, já que ele desde que tinha 2 anos de idade me punia quando desobedecia algo que ele impunha.

- Tudo bem... Eu só acho que devia procurar viver mais a sua vida, se desprender um pouco dos braços do seu pai.

Ele tocou meu ombro, e olhei para ele e sorri. De certa maneira, ele tinha razão, mas, preferi viver em paz, e não discutir com ninguém. Quando abri a boca para explicar para ele isso, sinto um puxão forte no meu ombro pra cima, e me vejo de pé, sendo segurada pelo meu pai.

- O que fazem perto desse jeito? – ele olhou para Josh com certa repulsa – Soldado volte para seu posto, e cabo... – disse se referindo a mim, e senti um frio percorrer a minha espinha - ... Vá direto para casa.

Saí correndo e entrei ofegante em casa, olhei suplicante para minha mãe, e segurei as lágrimas, percebi seu olhar um tanto desesperado, e seus passos em minha direção que logo pararam quando meu pai abriu a porta, e marchou em minha direção me pegando pelo cabelo e me arrastando pela casa.

-Não pai! Não! Estávamos conversando!

Ele não me dá ouvidos, e me algema no nosso porão, vejo quando pega o chicote, e o ricocheteia, fecho meus olhos, e sinto as dores estourando nas minhas costas. Conforme as lágrimas desciam, ele batia mais forte.

- Um soldado não chora! Um soldado não se apaixona! – ele para, e pega meu queixo e me encara – Não haja como uma mulher! Você não pode ter sentimentos! Pare de chorar, de sorrir! – ele estoura um chicote na minha perna, e sinto o sangue escorrendo, reprimo as lágrimas, ele tinha razão, não podia chorar, nem sorrir, não podia esboçar emoção – Você sabe por que está apanhando? VOCÊ SABE JENNIFER?

Assinto, e friamente respondo.

- Por esboçar sentimentos.

Ele assente, e para suas chicotadas.

- Muito bem. Agora vá pro seu quarto, amanhã temos treino logo pela manhã.

Saio da algema e vou até meu quarto, tentando ir normalmente até o quarto, mas, quando fecho a porta, sinto que uma parte de mim desaba, e então, me sento no chão do banheiro, e tento chorar, mas, a vontade foi totalmente embora.

JENNJESS - A história de uma assassina de aluguel (LIVRO 2)Where stories live. Discover now