Capítulo 2

18 2 1
                                    


Ouvi quando o galo deu seu primeiro canto às 5:30h, e me levantei em um salto. Me olhei no espelho encarando meus olhos negros, e os machucados do meu corpo. Reprimi toda a vontade de gritar ou chorar, e me enfiei debaixo do chuveiro frio.

Enquanto a água caia no meu corpo, eu comecei a pensar que talvez meu pai tivesse razao, que talvez se permitir sentir algo fosse mesmo uma fraqueza. Como ele mesmo me dizia, todos os grandes reinos e as mais trágicas histórias sempre tem uma história de amor envolvida, seja romântica ou nao.

Coloquei minha armadura e fui para o treino, que foi muito intenso, por sinal. Tentei ficar afastada de Josh, nao queria ter problemas com o meu pai de novo.

- Está tudo bem? - Josh se aproximou.

"Ah, nao", pensei ao ver o olhar do meu pai na nossa direçao. Abaixei a minha espada e evitei olhar para os olhos de Josh.

- Sim, mas, estou treinando, nao está vendo?

Percebi que ele ficou desconcertado, e me olhou um tanto atentamente, eu nunca tratei ele assim. Sempre fui fria de natureza, mas, nunca tinha sido tao rude na verdade. Ele apenas ficou calado, e saiu de perto, e suspirei em alivio. Continuei meu intenso treino, e entao meu pai nos mandou parar.

- Hoje vamos começar a treinar os duelos, porque para quem nao sabe as patentes estao na epoca de subirem, e claro, preciso nomear um sargento, para começar a fazer as missoes além desse acampamento.

Senti uma certa ansiedade me preencher. "Sair daqui desse lugar, seria um verdadeiro sonho". Nunca tinha saído além dessas montanhas, na verdade, nem sabia como eu tinha nascido se aqui nem tinha atençao pré natal direito. Mas, sempre que fazia esse tipo de pergunta aos meus pais, eles falavam que era para deixar de ser curiosa, e apenas viver o meu agora, e focar para ser uma grande general um dia.

Meu pai deu os nomes de quem ia duelar, e me surpreendi ao ver o nome de Josh.

Olhei para ele com certa raiva, ele tinha feito isso de maldade, pois sabia que o único jeito de vencer o duelo, era quando saísse sangue e a pessoa estivesse desacordada. E ele sabia que eu era capaz de fazer isso, e ele queria ter certeza que nao ia sentir pena e nem algo que me impedisse de cumprir meu objetivo. Ele era bom com esses jogos.

Observei todos os duelos que foram ocorrendo, e alguns foram melhores que outros, confesso. Entao, quando meu nome e o de Josh foram chamados, senti um arrepio passar por dentro de mim, mas, tive que tentar transparecer ser o mais indiferente possível.

Frente a frente com Josh, ergui a espada e o olhei firme. E vi seu olhar um tanto desesperado, e naquele olhar entendi um pouco do que meu pai queria me dizer, sobre o quanto sentimentos podiam atrapalhar uma batalha.

O som foi tocado, e esperei seu ataque, que nao veio. Meneei com a cabeça, e entao resolvi começar, fiz um ataque, que ele logo se defendeu. E entao, quando percebemos já estavámos envolvidos em uma luta intensa, como nossos treinos. Senti um pequeno corte no meu braço diante d eum giro que ele deu, e sorri em resposta, odiava quando me feriam. 

Avancei para cima dele, batendo as espadas, e por fim lhe dando uma rasteira, encostando a ponta da espada no seu pescoço.

- A ganhadora, Jennifer Jessica!

Ele estendeu a mao para que o ajudasse a levantar, e quase a estendi, mas, apenas virei de costas e fui para o lado do meu pai. Odiei fazer a aquilo, mas, quando você precisa sobreviver, você se dispoe a fazer as coisas mais loucas que jamais imaginaria que faria.

- Muito bem Jessica... Muito bem... - meu pai sussurrou no meu ouvido

E mantive a minha pose impassível, apenas observando tudo e tentando esconder meu sorriso de satisfaçao, eu gostava de quando meu pai me elogiava, sentia que estava sendo seu orgulho.

Quando os duelos acabaram, meu pai liberou todos, inclusive eu, para uma hora de descanso, antes de voltarmos ao treino. Fui andando, tirando minha armadura, em direçao ao rio, precisava lavar meu rosto. Chegando na beirada ouço passos atrás de mim, e nem preciso me virar para saber quem é.

-Josh...

Ele suspira fundo

- Não sei o que seu pai faz com você que te faz ter tanto medo.

Me viro pra ele no mesmo instante encarando seus olhos, e nego com a cabeça quase que implorando para que nao falasse sobre isso. Ele não sabia do que o meu pai podia ser capaz, mas, eu sim, e não podia falar sobre isso para ninguém.

- Parece que você viu um fantasma... O que está acontecendo? Estou preocupado com você.

- Josh, acho melhor você se afastar...

Ele se aproxima mais de mim e segura meus dois ombros...

- Jennifer, não faço ideia do que está acontecendo, mas, quero te ajudar... Somos irmãos para todos os instantes, lembra?

Sorrio levemente com isso, e então olho ao redor, e finalmente cedo. Eu e Josh crescemos juntos aqui no vilarejo, e sempre fomos confidentes. 

Aqui na vila somente há duas mulheres guerreiras jovens, eu e Tatiane, uma garota ruiva um tanto egoísta, que ninguém gosta dela, exceto Josh que é apaixonado por ela. Quando ela veio descendo até  rio tirando sua armadura, expondo sua fina cintura, eu revirei meus olhos, já sabia como isso ia acabar.

- Ora, ora... Se não é a nova boa guerreira. Aprendeu depois de apanhar muito nas batalhas não? - ela provocou, e olhei para Josh como que dizendo "sério, que tu gosta disso?"

Coloquei minha armadura de volta e encarei seus olhos negros e frios, e me afastei lentamente de Josh.

- Eu não sabia que você gostava de fazer descrições sobre você mesma por aí.

Ela franziu o cenho e me olhou séria, e me analisou de cima a baixo, e então olhou para Josh com um certo contentamento.

- Achei que seu pai tinha proibido você de ficar sozinha com rapazes... Falando nisso, estou atrapalhando algo? Seu pai ia adorar ser reportado sobre isso...

Avancei até ela, apertando seu pescoço e lhe dando uma rasteira ao chão, ela logo me deu uma joelhada no estômago, mas, me mantive firme na luta, e a prendi contra o chão.

- A próxima vez que você insinuar qualquer coisa do tipo, vai ser a última vez que alguém ouvirá a sua voz. - Me levantei socando a areia ao seu lado com força e ela logo se levantou segurando seu pescoço que estava começando a ficar vermelho sangue.

- Você vai me pagar por isso um dia.

- Estarei esperando.

Vi ela saindo furiosa, e Josh me olhando confuso. Ele sabia dessa regra do meu pai, mas, ele nunca tinha percebido até aquele instante, o que a nossa aproximação causava no meu pai. E aquelas palavras de Tatiane foram perfeitas para fazê-lo despertar.

- Eu vou subindo. - Assenti com a cabeça e fui subindo atrás dele. Quando estávamos saindo do meio da mata segurei levemente seu braço. Fiz aquilo para indicar que não era por mim, eu adorava ser amiga dele, e que se fosse pela minha pessoa, iríamos viajar todo o mundo juntos, mas, infelizmente, eu tinha que obedecer o meu pai.

Eu percebi pelo seu olhar que ele entendeu o que eu estava pensando, e assentiu, tirando minha mão do seu braço levemente, e indo até o ouro lado da vila, me deixando lá parada, sozinha.



JENNJESS - A história de uma assassina de aluguel (LIVRO 2)Where stories live. Discover now