Prólogo

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Eu poderia afirmar com propriedade que a imortalidade era a maior chatice, principalmente, quando eu cheguei ao ponto de já ter experimentado tudo o que o mundo tinha para oferecer. Além disso, ficar séculos e séculos assistindo a vida medíocre dos mortais tinha potencial suficiente para fazer qualquer um morrer de tédio. Exceto a mim que era um titã e não podia morrer.

Acreditar que ser imortal era perfeito só fazia sentido para os humanos, uma vez que, eles estavam constantemente insatisfeitos com a efemeridade da vida e temendo a morte. Mas, o passar do tempo nada significava e a monotonia se transformava em um grande pesadelo para quem possuía a eternidade, como eu. Ainda que deuses e titãs sempre tenham tido suas responsabilidades e não eram um bando de desocupados.

O problema era que soprar brisas era um enfado. Eu bem poderia ser um titã com uma tarefa realmente emocionante. Mas eu era apenas Zéfiro, um dos quatro titãs responsáveis pelos ventos, e que gostava de ser chamado de Niall. Isso porque Zéfiro passou a ser considerado nome de velho a partir do século XXI. Quem usava um nome desses em pleno 2019? Exatamente, ninguém.

Eu tinha acabado de voltar das minhas férias na Ásia. Eu tinha passado muito tempo viajando e já estava hora de voltar para o meu palácio. Eu passei alguns meses passeando por diversos lugares do mundo e fingido que eu era um ser humano comum.

Assim que eu passei pelos portões de prata da entrada da minha casa, eu percebi que a quantidade de meses que eu passei sem trabalhar não foram suficientes. Pois, eles não me pouparam da vontade enorme de tirar um cochilo que se apossou de mim, logo que entrei naquele lugar.

Eu morava ali há milênios, mas nunca me acostumava a vontade de dormir para sempre que meu palácio exalava. Os sons, as cores, os cheiros... Tudo ali dava vontade de dormir.

Joguei minha mala cheia de souvenir no chão da sala, esperando que uma das auras aparecesse para guardá-la a qualquer momento. Estava tudo tão quieto que o ruído da mala se chocando no chão ecoou por todo o recinto. Isso faria alguém perceber a minha presença em poucos minutos.

Se eu tivesse sorte, uma das auras simpáticas apareceria e me daria boas-vindas. Depois, arrumaria minha bagunça sem reclamar e me deixaria em paz por um ano.

Eu bem sabia que a tarefa das auras era me ajudar a soprar brisas e manter o equilíbrio dos ventos e do clima do planeta. Afinal, elas eram ninfas das brisas. Entretanto, eu era o rei daquele lugar e nunca tive o costume de ser muito organizado. Por isso, elas sempre faziam outros trabalhos como arrumar minha bagunça.

Era por esse motivo que algumas ninfas me detestavam. Elas achavam que eu não levava a sério a natureza e não entendia a importância do meu trabalho. Inclusive, certa vez, eu escutei o burburinho que eu deveria ser o deus do vinho como Dionísio porque eu era muito fanfarrão.

Eu nem me abalei com isso. Até porque, no fim de tudo, alguém certamente se incomodaria com minha bagunça e colocaria minhas coisas no lugar. Ou então fariam o trabalho que eu sempre abandonava quando ficava cansado.

Antes que eu pudesse me vangloriar de como era bom ser um titã e todos os privilégios que meu trabalho me dava, eu me lembrei de Aurora. A lembrança fez meu corpo todo congelar porque ela era meu pior pesadelo.

A possibilidade de Aurora ser a primeira a notar minha presença seria a maior desgraça que aconteceria comigo em meses. Só esse pensamento fez um arrepio gelado percorrer minha espinha. E eu logo tentei fazer o máximo de silêncio possível, enquanto me dirigia ao meu trono. Eu só queria que ela não percebesse, por tão cedo, que eu tinha voltado. Infelizmente, nem tudo acontecia como eu queria.

"Senhor Zéfiro, que bom que você voltou. Nós sentimos sua falta." O silêncio reconfortante da minha sala do trono foi quebrado pela voz suave de Aurora, a chefe das ninfas da brisa.

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