Epílogo

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"Cala a boca, meu amorzinho. Cala a boca!" Eu falei desesperado para a criança de cinco anos que estava com o rosto vermelho de tanto choro e grito. Meu estresse era tanto que eu estava a ponto de chorar como ele. No entanto, não é isso que se espera de um adulto e Harry disse que eu deveria agir como o adulto da situação.

O problema é que o choro alto e estridente não cessava e eu não fazia ideia de como calá-lo. Eu já havia dado mais doce do que Harry recomendaria e tinha colocado todas as músicas infantis insuportáveis. Mas nada havia sido suficiente para resolver.

"Por favor! Dindo dá o que você quiser." Apelei porque o desespero sempre me obrigava a tomar medidas drásticas e desesperadas. Contudo, se eu tivesse dado minha alma para Hades, tinha feito um negócio melhor. Não se deve fazer esse tipo de promessa para crianças.

Foi eficiente pelo menos, uma vez que, Voluptas calou a boca instantaneamente. Ele fungou, coçou os olhos lacrimejantes e ficou me encarando com um bico nos lábios gordinhos. Eu já conhecia bem aquela expressão porque vi diversas vezes no rosto do pai dele. Entretanto, eu não era Louis, logo não me convenceria facilmente por aquele rostinho fofo.

"Eu quero asas." Ele pediu, cruzando os braços e limpando as lágrimas, por estar certo que seu desejo seria atendido. E foi bem aí que eu desmaiei.

Mentira, não cheguei a tanto. Mas já estava próximo de ter um infarto e eu tenho certeza que titãs não podem infartar. Eu não podia dar asas para essa criança, visto que eu não tinha tanto poder. Mas não era uma tarefa fácil explicar isso para ele.

"Dindo não pode te dar asas, meu bem." Falei devagar, pegando-o no colo e abraçando seu corpo pequenino. Implorei para todas as divindades no Olimpo, pedindo para que ele não voltasse a chorar e, por sorte, fui atendido.

"Ele está com inveja, dindo, porque eu tenho asas ele não." Hedonê disse, olhando para o irmão com cara de superior. Isso me deu a certeza de que as forças malignas às vezes se manifestam como monstros, mas outras vezes se parecem com garotinhas inocentes. Mas que Harry nem sonhe que eu chamei a filha dele de força maligna.

Hedonê estava usando um vestido de princesa amarelo e tinha uma coroa de ouro, enfeitando seus cachos escuros. Diferente do irmão, ela tinha asas brancas com detalhes dourados em suas costas. Era tão linda quanto os pais e tinha uma personalidade extremamente doce. No entanto, ela seria milhões de vezes mais linda se parasse de falar em momentos inoportunos.

A principal pauta das brigas entre ela e o irmão eram suas asas, já que era por causa delas que ela poderia voar com papai Lou. Entretanto, Voluptas não tinha asas, logo tinha que ficar de fora desse evento entre pai e filha. O problema era que ele não conseguia aceitar isso muito bem e chorava todas as vezes que precisava ficar em casa com o papai Harry.

Eu sentia um pouco de pena, já que eu conhecia bem esse sentimento dele porque era exatamente assim que eu me sentia quando via a moto de Bóreas. Por isso, eu abracei meu afilhado com força, tentando consolá-lo ainda que ele não chorasse mais. Foi nesse momento que uma ideia maravilhosa passou pela minha cabeça e eu tive certeza que eu era realmente o melhor padrinho do mundo.

"Já sei como vou fazer você voar. Você está pronto?" Perguntei, enquanto o colocava no chão e via seu aceno de afirmação.

Eu soprei uma brisa muito forte, um fluxo de ar suficiente para carregar Voluptas pela minha sala do trono. Imediatamente, Hedonê também saiu voando, exalando graça e beleza com suas asas bonitas e parecendo uma fada de filmes de princesa.

Estava tudo resolvido e eu pude respirar aliviado pela próxima meia hora. Cuidar de criança era algo difícil, de tal forma que eu passei toda a minha vida imortal reclamando do meu trabalho como titã porque eu odiava soprar brisas. Entretanto, eu retirei tudo o que eu disse de mal sobre meu lindo trabalho com os ventos a partir do dia que eu passei a trabalhar como babá. Ser babá com certeza foi a pior coisa que já inventaram.

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