Capítulo 9

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Harry mal dormiu durante a madrugada tanto pela a dificuldade costumeira de pegar no sono desde que Louis se fora, quanto pelo desconforto da sua cama improvisada. Logo cedo ele já estava de pé, sentado no meio do feno e olhando para o celeiro por falta do que fazer. Nesse instante, ele notou alguns sacos de linhagem vazios pendurados em um gancho.

Depois de passar a noite inteira separando grãos e refletindo sobre os últimos acontecimentos da sua vida, Harry ficou com mais raiva do que nunca. Este sentimento descontrolado que se apossou dele e desencadeou uma vontade imensa de provar para sua sogra que ele era mais que merecedor de Louis. Não só pelo motivo inicial de ver Louis mais uma vez. Mas também para provar para ela que ele tinha o mesmo valor que qualquer outra pessoa e que não havia motivos para ela se sentir tão superior.

Harry pegou os sacos e usou a lata para enchê-los com os grãos. Colocou cada uma das pilhas em um saco e organizou-os. Depois, sentou em cima deles e cruzou os braços, esperando pela volta de sua sogra. Ainda que sentado, Harry não conseguia parar quieto, pois ficava o tempo todo batendo o pé no chão e tamborilando os dedos na perna. Seu coração estava acelerado, porque ele tinha certeza que finalmente poderia ver Louis e isso o deixava nervoso.

Harry passou o tempo em que esperava montando um discurso, tentando planejar tudo o que ele diria a Louis. Ele se perguntava se Louis iria querer ouvi-lo e se ele lhe contaria o motivo de esconder seu rosto. Por vezes, seus pensamentos vagavam para uma realidade em que ele e Louis voltavam a ficar juntos. Nessa realidade, eles continuariam lendo juntos os livros da estante de Louis e viajariam por diversos lugares da Itália em datas comemorativas.

Não demorou muito para que os devaneios de Harry fossem interrompidos porque Afrodite apareceu poucos minutos depois. Ela estava sorrindo, pronta para humilhar Harry por não ter conseguido concluir a tarefa. Obviamente, ela chegara muito cedo para não dar nenhum minuto a mais para Harry terminar.

"Bom dia." Ela anunciou sua chegada, entrando no celeiro. Entretanto, isso não era realmente necessário, uma vez que, o barulho dos saltos de suas botas foi ouvido a distância.

Naquela manhã, Afrodite não estava menos intimidante que no dia anterior. Talvez seu ar de superioridade estivesse até maior do que antes, alimentado pela certeza que sua vingança se completaria.

Assim que chegou, a deusa notou que a aura de Harry continuava rosa o que significava que Harry não sentia mágoa de Louis, mesmo que ele tenha abandonando-o. Tudo o que ele sentia era arrependimento e saudade. Isso não mudava que ele sentia como se um caminhão estivesse passando por cima de seu coração. Entretanto, ainda não era a dor de um coração partido. Por isso, Afrodite se encarregaria de mudar a cor da aura de Harry. Depois que ela terminasse, ele não teria mais força para amar mais ninguém na vida.

"Bom dia. Aqui estão todos os seus grãos separados." Harry falou se levantando e abrindo os sacos para mostrar o seu trabalho muito bem concluído. Ele não titubeou, alimentado pela raiva que sentia. Seu peito estava estufado e seus movimentos eram precisos. Ainda assim, não conseguia encarar Afrodite nos olhos. Por isso, ele olhava para paisagem do lado de fora, ao invés de olha-la, da mesma forma que as pessoas muito tímidas costumam não encarar a plateia na hora de fazer algum discurso.

Afrodite ficou surpresa, pois não esperava que Harry realmente conseguisse separar os grãos a tempo. A verdade era que Harry tinha passado uma bela duma rasteira nela. No entanto, ela não demonstrou o que sentia por meio de suas expressões e continuou com o rosto impassível, ainda que quisesse gritar e bater os pés no chão. Entretanto, aquela não seria uma atitude digna de uma dama e ela nunca deixaria Harry saber que ele o afetara. Talvez ela quebrasse alguma coisa quando saísse dali. Mas, por enquanto, ela fingia bem que não queria explodir Harry em um milhão de pedacinhos, por sua raiva dele conseguir cumprir o que lhe foi solicitado.

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