Capítulo 03: Lisa

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Lisa Whitesnake não era a detetive de maior destaque da Agência de Investigação Particular Anglo. Porém, não costumava procrastinar. Não podia. Os outros até podiam, mas não ela. Afinal, havia ingressado na agência por pura sorte.

    Todos os dias, de segunda-feira até quinta-feira, pegava o táxi do 5º Distrito, 6º Rua, 335; e se dirigia até à agência, localizada no centro da cidade. A instituição possuía apenas um andar, 5 metros quadrados com rampas de acesso espalhadas ao longo do edifício. As paredes exteriores eram pintadas de um tom amarelado.

   Quando era criança, Lisa morava com os seus pais em uma fazenda na cidade vizinha de Barrymore: Barnely.  Aos 18 anos, entrou para a faculdade de perícias. Ao terminar a faculdade ficou um tempo sem trabalhar. Sua mãe Ana Whitesnake, dizia que a filha havia escolhido mal a área onde iria atuar. Seu pai havia falecido dois anos atrás devido  a um tumor cerebral da qual nunca se recuperara e, provavelmente, era a única pessoa que a incentivava a ingressar no ramo.

  Certo dia, enquanto voltava de uma caminhada matinal, entrou na sua casa e ouviu alguns gemidos. Adentrou na sala de estar e se deparou com a seguinte cena: a sua mãe estava com as roupas dilaceradas em sua genitália e jogada em um canto insignificante da sala. Estava repleta de hematomas ao longo de seu corpo. Havia muito sangue em torno da mulher, que já havia expirado. O molestador foi encontrado. Tratava-se de seu tio Norton John Whitesnake, que acabou condenado pelo crime. A situação quase a levou ao suicídio. Pequenos pesadelos a lembravam dos avisos de sua mãe de que ela não possuía vocação para perícias e investigações criminais. Ficou durante anos realizando terapias até conseguir ter forças para encarar a dura realidade e seguir a carreira escolhida por ela.

    Por pura sorte, surgiu uma vaga na Agência de Investigação Particular Anglo. Por falta de vagas, foi contratada devido ao fato de que haviam apenas duas candidatas: ela e outra garota  que desistiu.

    No trabalho, flertava com Gleson Partn, um dos coordenadores da instituição, de 21 anos, pele morena cabelo negro e olhos verdes, além de um porte físico robusto. O atraente homem jovem era atencioso para com ela, chegando a marcar um encontro casual com a jovem detetive no restaurante. Foi o início de tudo. Bem, na verdade não exatamente o início, pois Gleison já havia lhe passado a mão em várias reuniões secretas em sua casa.

Passados cinco meses, Lisa Whitesnake e Gleson Partn, agora Gleson Partn Whitesnake, estavam casados.

    Com  19 anos de idade, lá estava ela, trabalhando no seu primeiro caso de perícia criminal: a morte de uma mulher de quarenta anos de idade chamada Ana Jason Stone. Foi encontrada morta em uma rua um pouco remota de Barrymore. A investigação do caso foi um fracasso: não foram encontradas provas de quem teria atropelado a pobre mulher. O fracasso do caso a decepcionou e passou a ser cada vez mais assombrada pelo “fantasma” de sua mãe que lhe lembrava da escolha errada de sua profissão.

    A jovem detetive nunca imaginara receber tal serviço. Um estranho arqueólogo solicitando ajuda para resolver um mistério considerado indecifrável? Estava disposta a correr riscos. Afinal, havia tido sucesso em sua vida profissional devido à sua sorte. Havia entrado naquela agência devido à sorte. Porém, havia fracassado em seu primeiro caso criminal. Precisava se redimir. Sentia esta necessidade.

   Seu trabalho, com o tempo, passou a se estender das segundas-feiras até os sábados. Porém, não hesitava em atender à sua clientela particular, que no momento estava ausente. Afinal, a primeira investigação em que atuou, mostrou-se ser um fracasso. Precisava provar algo para o “fantasma” de sua mãe, se não, seria atormentada por este pelo resto de sua vida.

   A sua primeira impressão que teve de Mark Stone foi de um ignorante, que se achava culto e que não compreendia como os sentimentos humanos funcionam. De fato, não estava completamente errada. Tinha certa habilidade de deduzir  profundamente a personalidade de um indivíduo na primeira observação direta. Muitas vezes se perguntava se não deveria ter escolhido a faculdade de psicologia ao invés da de perícias. Removia rapidamente tal pensamento prejudicial, tanto para a sua vida profissional, quanto pessoal. Esta última já deteriorada devido ao fato de que as rotinas do casal não davam espaço nem para um passeio no sábado de manhã. Além disso, o trauma de ter visto a mãe estuprada e morta a fazia sentir repulsa pelo  sexo.

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