Capítulo 12: Abismo Sem Fim

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O arqueólogo havia caído em um grande abismo. A morte do Pensador Mosa causara-lhe  uma tristeza maior do que a perda da mãe, da qual ele sempre se lamentara por não ter se despedido da única pessoa que não o julgava pelas aparências, mas pelo que ele realmente era. Porém, não aturava o fato de ter que bancar o “melodramático”. Cemitérios só lhe causavam repugnância. Para quê tanta cerimônia para algo tão insignificante como o fim de uma vida? Para quê prolongar irracionalmente aquele sofrimento? Aquela morte, porém, lhe causava um impacto muito diferente. Aquele homem que fizera o possível para o convencer de toda a verdade de sua vida, morrera sem ter retribuição de seu filho e teve de aturar o fato momentâneo de o seu filho o ter ignorado como uma pessoa qualquer.

      O arqueólogo concluiu que bancar uma morte digna para aquele homem, a sua verdadeira família, era o mínimo que poderia dar em troca. Prometeu a si mesmo que precisava financiar o funeral de seu verdadeiro pai. Pelo menos, o seu adotivo pai fizera uma única coisa boa em sua vida: financiara o velório de sua mãe, embora a tivesse matado, algo que ninguém jamais ousaria desconfiar. Já era tempo de a sua mãe ter falecido. Se questionava pelo fato de o médico não lhe ter contado do fato. Com certeza aquele velho desgraçado que sempre disse ser o ser o seu pai convencera o Dr. Theos de que o arqueólogo havia abandonado a família e não desejava saber nem mesmo da morte da mãe. Pensava naquele velho que já havia pagado pelos seus pecados e agora os seus restos mortais habitavam as profundezas da terra. Como se não bastasse, tinha de conviver com o fato não ter relatado as mortes de Lisa Whitesnake e de seu marido. Havia razão em sua decisão. Se denunciasse os assassinatos, a polícia local, sempre deficiente, poderia o acusar com base em um interrogatório e qual seria a prova do crime? Um vídeo editado pelos xerifes que, depois de muito manipular o acusado o mandavam para o tribunal municipal de Barrymore. “Seria ignorância revelar os tais homicídios”, pensava.

–Sr. Stone, o senhor conhece Walket Gomet? O senhor, por acaso, não é parente dele? –Perguntou o Dr. Theos à Mark na sala onde o Pensador encontrava-se morto com os aparelhos hospitalares mostrando a ausência de batimentos cardíacos.
Não era o momento de revelar tão abertamente toda a verdade. Além de não confiar no seu depoimento, o doutor seria capaz de acusá-lo de ser um oportunista tentando se aproveitar da herança do velho. Precisava ainda de provas concretas para comprovar tudo e mostrar que Joseph, Davis e o seu antigo pai eram vigaristas. Portanto, respirou fundo, fixou o médico e disse:

–Eu sou apenas um amigo dele senhor. Um amigo muito próximo.

–Bem, Isto é notável. Se não, ele não te deixaria como herança a casa dele e mais dez mil e quarenta e oito bustos acumulados.–Disse o Doutor Theos.
Mark olhou estranhamente para o médico.

–O que foi? O senhor não sabia disto? –Perguntou o doutor, expressando-se mais estranhamente do que  o arqueólogo.

Mark engoliu em seco involuntariamente e respirou fundo.

–Sim, eu já... eu já esperava por isso doutor. Não é... nenhuma novidade. Eu o ajudei durante este momento difícil e ele deseja me retribuir. –Disse, por fim, Mark com uma autoconfiança fingida.

–Ok... –Disse o medico um pouco desconfiado, mas sem demonstrar muito interesse nas possíveis motivações do arqueólogo. –Ele realmente prezou a sua ajuda.

–Sim senhor. Seria grosseria recusar uma herança destas.

O médico riu-se de leve.

–Bem, de qualquer forma, acredito que você vai preferir optar por um funeral público. –Disse o médico ainda de forma risonha.

–Desculpe, mas... Eu acho que vou bancar o funeral dele.

–Você têm certeza?

–Sim, senhor. Eu possuo uma quantia suficiente para bancar um funeral digno para o velho.

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