O arqueólogo havia caído em um grande abismo. A morte do Pensador Mosa causara-lhe uma tristeza maior do que a perda da mãe, da qual ele sempre se lamentara por não ter se despedido da única pessoa que não o julgava pelas aparências, mas pelo que ele realmente era. Porém, não aturava o fato de ter que bancar o “melodramático”. Cemitérios só lhe causavam repugnância. Para quê tanta cerimônia para algo tão insignificante como o fim de uma vida? Para quê prolongar irracionalmente aquele sofrimento? Aquela morte, porém, lhe causava um impacto muito diferente. Aquele homem que fizera o possível para o convencer de toda a verdade de sua vida, morrera sem ter retribuição de seu filho e teve de aturar o fato momentâneo de o seu filho o ter ignorado como uma pessoa qualquer.
O arqueólogo concluiu que bancar uma morte digna para aquele homem, a sua verdadeira família, era o mínimo que poderia dar em troca. Prometeu a si mesmo que precisava financiar o funeral de seu verdadeiro pai. Pelo menos, o seu adotivo pai fizera uma única coisa boa em sua vida: financiara o velório de sua mãe, embora a tivesse matado, algo que ninguém jamais ousaria desconfiar. Já era tempo de a sua mãe ter falecido. Se questionava pelo fato de o médico não lhe ter contado do fato. Com certeza aquele velho desgraçado que sempre disse ser o ser o seu pai convencera o Dr. Theos de que o arqueólogo havia abandonado a família e não desejava saber nem mesmo da morte da mãe. Pensava naquele velho que já havia pagado pelos seus pecados e agora os seus restos mortais habitavam as profundezas da terra. Como se não bastasse, tinha de conviver com o fato não ter relatado as mortes de Lisa Whitesnake e de seu marido. Havia razão em sua decisão. Se denunciasse os assassinatos, a polícia local, sempre deficiente, poderia o acusar com base em um interrogatório e qual seria a prova do crime? Um vídeo editado pelos xerifes que, depois de muito manipular o acusado o mandavam para o tribunal municipal de Barrymore. “Seria ignorância revelar os tais homicídios”, pensava.
–Sr. Stone, o senhor conhece Walket Gomet? O senhor, por acaso, não é parente dele? –Perguntou o Dr. Theos à Mark na sala onde o Pensador encontrava-se morto com os aparelhos hospitalares mostrando a ausência de batimentos cardíacos.
Não era o momento de revelar tão abertamente toda a verdade. Além de não confiar no seu depoimento, o doutor seria capaz de acusá-lo de ser um oportunista tentando se aproveitar da herança do velho. Precisava ainda de provas concretas para comprovar tudo e mostrar que Joseph, Davis e o seu antigo pai eram vigaristas. Portanto, respirou fundo, fixou o médico e disse:–Eu sou apenas um amigo dele senhor. Um amigo muito próximo.
–Bem, Isto é notável. Se não, ele não te deixaria como herança a casa dele e mais dez mil e quarenta e oito bustos acumulados.–Disse o Doutor Theos.
Mark olhou estranhamente para o médico.–O que foi? O senhor não sabia disto? –Perguntou o doutor, expressando-se mais estranhamente do que o arqueólogo.
Mark engoliu em seco involuntariamente e respirou fundo.
–Sim, eu já... eu já esperava por isso doutor. Não é... nenhuma novidade. Eu o ajudei durante este momento difícil e ele deseja me retribuir. –Disse, por fim, Mark com uma autoconfiança fingida.
–Ok... –Disse o medico um pouco desconfiado, mas sem demonstrar muito interesse nas possíveis motivações do arqueólogo. –Ele realmente prezou a sua ajuda.
–Sim senhor. Seria grosseria recusar uma herança destas.
O médico riu-se de leve.
–Bem, de qualquer forma, acredito que você vai preferir optar por um funeral público. –Disse o médico ainda de forma risonha.
–Desculpe, mas... Eu acho que vou bancar o funeral dele.
–Você têm certeza?
–Sim, senhor. Eu possuo uma quantia suficiente para bancar um funeral digno para o velho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MOSA
Mystery / ThrillerMark Stone é um arqueólogo de 26 anos que trabalha no Museu de História Humana da cidade de Barrymore. Seu trabalho consiste em escrever os exemplares impressos sobre as mais novas peças que chegam ao museu para ficarem disponíveis na biblioteca da...