Capítulo 05: O Fanfarrão

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–Foi bom passar esta noite com você.
–Dizia Davis enquanto se vestia para encontrar o Joseph em uma lanchonete.

–Onde eu estou? –Perguntou  a mulher confusa.

–A confraternização que teve ontem na boate da esquina. Você ficou bêbada e eu... te dei uma mão.

–Mas... eu nem te conheço! –Protestou ela.

–Bem, acho que você não se lembra. Você mal conseguia caminhar de tão...

–Espera um pouco, a gente não...

–Não! Claro que não! –Disse ele rindo-se.

–Ok. Ótimo... –Disse ela pegando o seu celular do criado mudo e olhando a hora. –Caramba! Eu estou ferrada! –Exclamou. –Onde estão as minhas roupas?

–Ah, estão no armário. –Disse ele em tom de decepção. –Mas, hoje é domingo.

–Eu tenho vida própria! Me dá licença! –Rebatia enquanto vestia-se. Ela saiu do quarto abruptamente, desceu as escadas da casa do fanfarrão e deu as costas.

–Foi bom conhecer você! –Gritou ele.

    Depois, ele voltou a se arrumar para encontrar o Joseph. Ria-se frequentemente da situação e por ter mentido para a moça. Afinal, não era a primeira mulher que ele enganara quando está lhe perguntaram se ambos haviam tido um encontro sexual depois muita bebedeira.

  O guarda das peças do Museu saiu de sua casa simplória feita de tijolos poucos nobres e toda pintada de branco, no 21º Distrito, um dos subúrbios de Barrymore. Foi nesta comunidade em que  Gabriel Davis Crazyman vivera toda a sua vida. Desde a sua infância com uma mãe professora e um pai empresário de uma pequena rede de calçados.

  A bebedeira de seu pai levou a rede de calçados à falência e a instabilidade financeira tomou conta da residência.

    Certo dia, ele acordou cedo em meio a gritos de mulher. Era apenas a sua mãe pagando os seus pegados para o patriarca da família. Voltou para cama, afinal, havia recebido a ordem de que a autoridade parental jamais deveria ser questionada. Tinha ódio do pai. Ódio este que se transformou em admiração pela autoridade parental que aquele homem forte exercia. Cresceu com esta grande admiração pelo pai. Foi assim que se desenvolveu, com o seu pai sendo o grande espelho de sua vida. Era esta admiração que inibiu qualquer questionamento sobre a partida de sua mãe em uma noite de violência. Mesmo que ele a tivesse matado, com certeza havia sido uma morte merecida, afinal, ela questionava constantemente a autoridade.

   O pai de Davis abriu um botequim imundo no subúrbio, enquanto a estabilidade econômica piorava cada vez mais.

   A sua diversão nos finais de semana, eram baseadas em se nutrir-se de mulheres, bebidas e pílulas alucinógenas.   Certo dia enquanto estava embriagando-se em um botequim da pior espécie, um telefonema lhe foi enviado informando que o seu pai havia desmaiado e sido levado para um hospital público da cidade.  No momento, a notícia não lhe era importante. Continuou embriagando-se, afinal, aquele era o ponto alto de seu dia, enquanto isso, o velho morrera naquela mesma noite, pois o potente vírus já estava em um estágio avançado.

   Foi na manhã seguinte em que se deu conta da morte do velho. Não lamentou aquela perda. Agora, estava livre de qualquer autoridade parental, embora ainda o admirasse. O funeral foi público e insignificante como era de se esperar de alguém com aquela situação financeira.

   Passaram-se anos depois da morte do velho que ele tanto admirava. Foi neste, momento em que foi aberta uma vaga para guarda das peças do Museu de História Humana de Barrymore. Não pensou duas vezes antes de se candidatar para a vaga, pois o  botequim que comandava não era o suficiente para conter a instabilidade econômica que passava. Como era o único a ser escolhido para a vaga, foi contratado.

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