sol. • Jung Hoseok

16 • como o sol ( II )

n/a: Essa é a segunda e ultima parte do conto "como o sol". A música do capítulo está na mídia, 10-30-18 (텅 빈) do Bevy Maco!

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Tell me
if you still shine in my life

- Bevy Maco

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20.07.2019

(II) Ilumina

Eu não sou de usar meias palavras e, paradoxalmente, não sou muito boa em ir direto ao assunto. Eu sou apaixonada pelas palavras, você sempre soube. Talvez por isso que goste de usar todas, formular frases grandes, me perder em raciocínios, esquecer de respirar; e, se eu me lembro bem, você amava isso em mim. Obviamente, quando as minhas palavras não eram usadas para te queimar.

O problema sempre foi que você, por outro lado, não dizia tudo. Sempre deixava as frases morrerem no meio da madrugada gelada, silenciando minha angústia, em partes, com um beijo e um convite para ir pra cama; nas manhãs quentes, com um abraço e sua mão me puxando para passear em algum lugar; você não terminava o que gostaria mesmo de dizer e, por essa razão, eu sentia como se eu só conhecesse metade de você, como se você ocultasse toda a escuridão, querendo forjar para mim uma pessoa que você não era.

Mas o amor não aceita metades.

Não aceita parcelas, incompletude.  Eu queria você por inteiro. Eu disse que não precisava de um idol sempre enérgico, explodindo em felicidade, você não tinha obrigação de me fazer feliz, éramos para ser juntos.  Era.  Você também não conseguiu carregar o peso de ter que ser "feliz"  por muito tempo, afinal, é tão pesado ser sol para o mundo. E quando a inevitável tempestade veio, nos molhamos juntos, mas choveu muito, além do suficiente para lavar suas angústias,  molhou até inundar, até apagar qualquer faísca que custamos a proteger dentro de nós. 

E agora, sentada sozinha no sofá, com as pernas cruzadas — mas em outro sofá, de outro apartamento —, mãos cercando uma xícara quente de chá, olhos indo muito além do episódio da série que passava na TV,  eu me sentia — é claro, sozinha, mas era mais do que isso — como se todos os momentos felizes da minha vida tivessem sido forjados. Ainda mais em meio ao inverno gelado, todas as lembranças aconchegantes; agora eu as via embaçadas: seu olhar onde eu já pude habitar; todos os abraços apertados e em momentos inusitados; nosso esforço de existir em detrimento do universo lá fora; as madrugadas apostando quem descobria a melhor música; os passos de dança no assoalho de madeira; os copos que quebramos; como você me pegava no colo por qualquer razão, o som das nossas gargalhadas juntas disputando com a música; as madrugadas de sol.