19 • protetor solar

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n/a: a música do capítulo é Chinatown do Wild Nothing e está na mídia!

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22. 09. 2019

"Ei...", procurei chamar sua atenção em meio ao barulho do mar de Miyakojima*, tão azul que quando vi pela primeira vez acreditei estar diante de mais uma ilusão criada pelo photoshop, saída de um perfil de viagens do instagram, o movimento agitado de suas ondas quebrando à nossa frente e o zumbido do vento. Você estava escondido debaixo da barraca, sob a desculpa que não podia pegar sol, os braços cobertos por aquela camisa de manga térmica escura e as pernas dobradas sobre a cadeira, amaldiçoando o calor pela milésima vez. Mesmo da sua fortaleza contra o sol, você  olhou pra mim apertando os olhos, sorrindo só com os dois risquinhos, daquele jeito fofo que fazia suas íris castanhas sumirem, daquele jeito que eu já estava me acostumando fácil, fácil. "Passa protetor em mim..."

"Sério? Que folgada..." seu tom era um misto de incredulidade e brincadeira, assenti com a cabeça e apontei para minha, quero dizer, sua bolsa transparente da Chanel que, depois de muito protesto, você me emprestou, pois disse repetidas vezes que aquele era uma tendência da moda e não acessório de praia, o que eu ignorei solenemente... Só Jung Hoseok para transformar uma bolsa de praia em um item fashion.

Eu me divertia com o seu estilo, mas já havia notado que,  na verdade, todos os conjuntos inusitados, as roupas três vezes o seu tamanho, os tênis hiper coloridos, os chapéus, eram um espelho curioso e (bem) atraente da sua personalidade que pouco conhecia.

O seu jeito, contraditoriamente, me incomodava e me atraía (muito) em um movimento quase que pendular. Era difícil, ainda mais naquela segunda noite, já batizada com duas doses de tequila, fingir o sorriso pela figura do seu corpo se movendo pela pista de dança, ao lado do meu; como até o laranja chamativo daquele colete parecia já combinar com a minha roupa monocromática, comigo.

Tudo tão rápido que hoje já me via sugada por essas memórias recentes, da mesma forma que eu acabara de fazer com o resto da bebida pelo canudinho colorido, uma metáfora chula para dizer que  todos os seus detalhes, desde o dia que nos conhecemos,  me interessavam.

"Uhum... tá na minha bolsa de praia", impliquei e você chegou a arquear o pescoço, como se fosse responder de alguma forma minhas provocações, mas se resumiu a pegar o frasco pequeno e sair hesitante debaixo da barraca. "Senta aqui...", abri espaço ao lado da esteira comprida e fiquei sentada onde antes estava deitada.

"Você sabe que me matam se eu voltar de férias bronzeado, né?", balancei a cabeça completamente ciente das suas restrições e disposta a defender bravamente a sua vida para que você pudesse ficar ao meu lado alguns minutos debaixo do sol. Afinal, eu não queria que você se queimasse, só queria me "proteger" do sol. "Onde você quer que eu passe?"

sol.  • Jung HoseokOnde histórias criam vida. Descubra agora