"Essas podem ser as minhas primeiras e últimas palavras para você.
Eu posso tentar te esquecer,
podemos até nos des-conhecer,
mas você sempre vai ser a primeira coisa que verei ao acordar,
sol."
BTS | Jung Hoseok | Contos | Textos avulsos
Capa:...
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30.04.20
"Tem mais presença em mim o que me falta"' (Manoel de Barros)
Eu vejo um casal na varanda se beijando. Eu não deveria estar olhando, eu sei... mas eu sou curiosa, você sabe. Daqui eu vejo pouca coisa, apenas duas sombras se encontrando e se separando de tempo em tempo, e não só por que é longe e já é tarde da noite, mas também por que minha visão está turva pelo vinho consumido.
Poderíamos ser nós, não consigo deixar de pensar.
Todas as possibilidades começadas em "e se" me interessam tanto. Todas que nunca fomos e ainda mais as que não seremos.
Há alguns dias eu sentei na minha cama de madrugada e fiquei encarando minha imagem pelo espelho da parede à frente, esse lugar onde já fomos tantas coisas - sobre essa cama de solteiro eu já vi estrelas no teto, aquelas que só o seu olhar fazia brilhar no meio da tarde, enquanto não havia mais ninguém em casa. O vinho faz tudo parecer mais, é verdade,ainda que tenhamos sido tanto para aquela época. Tudo se passou tão rápido e hoje já não somos nada: dois desconhecidos que se cumprimentam amigavelmente quando estão olhando. Afinal, somos maduros o suficientes para emendar essa fissura daqui até o seu coração, sempre caindo na armadilha de estar imune a sua presença idílica, que se exibe a cada solstício.
A armadilha não é pensar no antes, é querer adivinhar um futuro que não foi. Presa entre o último gole e as memórias de que não fomos, as possibilidades infinitas contidas no "se", e, quem sabe, talvez eu ainda continue respirando por causa delas. A imaginação é o combustível do coração, alguém já deve ter dito, ainda que soe brega e rime demais para ser uma quote inteligente.
Falar em inteligência emocional chega ser uma piada em meio ao que vivemos, e lá vou eu escrever coisas datadas de novo, encarando o mesmo reflexo de memórias, arrependimentos; tudo tão datado, mas paradoxalmente, o tempo não passa até esse futuro que vi na outra varanda. Talvez daqui eu veja outra dimensão e nela eles podem ser nós.
Amado, objeto cheio de incompletudes, daqui só vejo os vultos do futuro.
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hello sunshine,
Como vão? Espero que tenham gostado do texto! E, principalmente, que estejam todos bem e se cuidando! Bem, eu tenho sentido que "sol." está, aos poucos, se despedindo. Digo isso não de uma forma melancólica... é só algo que eu tenho sentido.
Ao mesmo tempo eu tenho muita dificuldade em marcar a obra como "concluída", pois aqui é como uma janela pra mim; sempre que preciso respirar eu abro essa janela e escrevo. Espero que seja assim pra vocês também. Esse não é o último capítulo, ainda não sei se ele vai sequer existir como "último", mas vocês com certeza serão os primeiros a saber!
