Capitulo 4

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Acordei mais cedo do que os demais homens na manhã seguinte. Primeiramente porque dormir em uma barraca não era a coisa mais confortável do mundo e depois porque não havíamos tido tempo para tomar um banho no dia anterior. Lembrar do dia anterior me fez fazer uma careta. Levantei e peguei a toalha e sabão que haviam nos dados e andei até o rio pensando que meu cabelo deveria estar um desastre. Fiquei satisfeito em ver o sol dando apenas alguns sinais de vida e as demais barracas do acampamento fechadas. Eu definitivamente não queria tomar banho com os demais homens, preferia acordar cedo do que ver um monte de machões se socando dentro do rio. Sem contar que era constrangedor banhar-se com desconhecidos. Entrei na floresta já conseguindo ouvir o barulho da leve correnteza, ao chegar porém, vi que havia uma toalha em cima de uma das grandes pedras nas margens do rio. Espiei por de trás da pedra e o vi ali, dentro do rio. O comandante havia aparentemente tido a mesma ideia que eu. Pensei em voltar, mas estava curioso demais para observá-lo. Olhei os músculos em seus braços e desci o olhar até seu peito. Seus cabelos escuros molhados o deixavam extremamente atraente e não pude deixar de notar como ele era bonito. Não apenas por conta de seus músculos, seu rosto possuía uma beleza única e encantadora, era quase hipnotizante. Ele estava pensativo, porém não distraído, pois olhou rapidamente ao ouvir o barulho de um pássaro em uma árvore ali próxima. O restante de seu corpo estava imerso em água, o que me fez desejar poder vê-lo completamente. Senti vontade de me tocar pela primeira vez em minha vida, mas logo tirei a ideia da cabeça. O que eu estava pensando? Ele era o comandante do exército, eu poderia ser punido se fosse pego ali. Nunca me senti atraído pelo corpo de nenhuma mulher antes, mas Namjoon parecia mexer com minha sanidade, mesmo sendo um homem. Ele mergulhou duas vezes me possibilitando observar sua bunda por alguns poucos segundos.
- Sabe o que mais me incomoda? - perguntou ele fazendo meu coração quase pular para fora. Ele havia me notado? Pensei em sair correndo, mas minhas pernas não obedeceram, tentei pesar em algo para responder até ouvir outra voz.
- Na verdade não Namjoon - respondeu a outra voz. Procurei pela pessoa e vi outro homem encostado em uma árvore com sabonete em suas mãos, ele não estava vestido como soldado, devia ser algum dos oficiais.
- Eu tenho pedido a anos para meu pai me deixar treinar os alistados, tenho quase implorado para ele me dar a chance de treinar soldados de verdade, mas ele sempre deixou meus irmãos no comando - respondeu Namjoon agora flutuando no rio.
- Agora você tem um exército só seu - respondeu o outro homem.
- Ah por favor Hoseok! - brigou o comandante como se tivesse ouvido uma piada ruim - você chama isso de exército? Ele praticamente me humilhou me jogando com um bando de amadores tolos.
- Veja por outro lado - insistiu o homem - ele deu o trabalho mais difícil para o melhor!
Namjoon revirou os olhos.
- Não acredito que depois de anos de treino esse foi o primeiro exército que ele me entregou, ele sabia que poderia ter me convocado em varias outras ocasiões, ele fez de propósito. Ainda tem raiva de mim - bufou Namjoon
- Então prove a ele Namjoon! Prove que você pode transformar os piores homens de todos em guerreiros de verdade! Prove que você pode vencer essa guerra com um exército totalmente inexperiente!
Namjoon o encarou, mas nada disse. Portanto o outro homem continuou:
- Você só está com raiva. O Namjoon que eu conheço nunca diria algo assim. O Namjoon que conheço diria que até o mais fraco homem pode se tornar um guerreiro! Treine-os, você é o melhor guerreiro do país.
Não sei exatamente quanto tempo fiquei ouvindo a conversa, mas de repente ouvi passos e vozes atrás de mim, se aproximando. Alguns outros homens haviam acordado. Pensei em correr e me misturar com eles, mas achariam minha atitude suspeita. Namjoon também ouviu as vozes fechou os olhos e soltou um breve suspiro.
- Você tem razão - disse antes de sair da água e vir em minha direção pegar sua toalha.
Eu fiquei congelado. Totalmente sem reação. Ele estava completamente sem roupas vindo até mim. O comandante pegou sua toalha e me olhou.
- Soldado - me cumprimentou antes de enrolar a toalha no corpo e sair passando pelos demais homens que se aproximavam. Provavelmente achando que eu havia acabado de acordar como os demais.
Entrei na água e me lavei ainda sem conseguir tirar o comandante e aquela conversa de minha cabeça. Infelizmente haviam mais pessoas do que eu desejava dentro do rio. A correnteza levava a água para outro lugar, sempre trazendo água limpa. Isso me fez lembrar de um velho ditado dito por minha vó " Nunca nos banhamos nas mesmas águas". Eu sabia que ela não estava falando apenas sobre banho. Imaginei como estariam meus familiares naquele momento, mas logo pensei que deveriam estar melhor sem mim. Eu trazia problemas demais para eles. Fui tirado de meus devaneios por uma conversa um tanto constrangedora ao meu lado.
- Seu p*u parece uma minhoca, tenha cuidado para os peixes não confundirem com isca - disse um homem para outro.
- Vou atravessar a isca na sua garganta pra você conferir o tamanho seu imbecil - respondeu outro irritado.
Nadei para longe constrangido. Esse era um dos motivos que gostaria de ter tomado banho sozinho. Homens pelados juntos só sabiam falar sobre seus membros e ofender uns aos outros. Sai de dentro do rio e me enrolei rapidamente em minha toalha. Alguns outros homens pularam na água encharcando minha toalha antes que eu pudesse me secar. Senti vontade de xingar. Porque tinham que ser tão descuidados?
- Ei SeokJung - chamou uma voz em minhas costas - vai gaguejar hoje de novo quando o comandante falar com você?
A voz vinha de um homem exageradamente musculoso e com cabelos raspados. Eu sabia que estavam apenas me provocando como faziam entre si. Apenas me virei e continuei andando, não valia a pena, além disso se eu o ofendesse acabaria com um olho roxo.
Após o almoço - macarrão de novo - fomos para mais um dia de treinamento.
- Vocês me desapontaram ontem soldados - começou a falar o comandante segurando um bambu em suas mãos e encarando a flecha no topo do poste - não temos muitos dias de treinamento, mas espero que até o meio da nossa semana de treino alguém consiga me trazer aquela flecha...
Alguns homens começaram a se aproximar do poste, mas o comandante interrompeu.
- Agora não! Essa será uma tarefa para suas horas livres, hoje testaremos a resistência de vocês! Quero que façam duplas!
Olhei em volta e os soldados começaram a tumultuar como sempre, quase ninguém ali parecia realmente se dar bem com o outro para formar uma dupla. Namjoon colocou uma das mãos no rosto e bufou irritado.
- Não estamos no ensino médio, homens - disse andando até nós e selecionando as duplas - vocês vão juntos! Vocês também! Vocês dois!
Estávamos em 51, obviamente alguém sobraria. Ele se aproximou de mim e de mais dois homens e disse:
- Algum de vocês será meu par, quem se voluntaría? - perguntou nos encarando.
Nenhum de nós disse sequer uma palavra.
- Eu falei com vocês soldados - continuou ele virando de costas.
Ninguém queria ir com o comandante, senti raiva pelos outros homens não se oferecerem, afinal com certeza deviam ser melhores do que eu, mas aparentemente todos tinham medo do homem a sua frente. Quando Namjoon virou ele sorriu.
- Ótimo, venha até aqui soldado!
Olhei para trás e observei que os demais homens haviam dado um passo para trás, fazendo parecer que eu havia-me oferecido. Andei até ele odiando aqueles outros dois soldados.
- Vamos começar com levantamento de peso! - continuou o comandante amarrando um saco de arroz em cada uma das pontas do bambu - peguem os bambus e os sacos e me copiem!
Peguei um bambu para mim e comecei a amarrar os sacos de arroz também. Quando levantei senti meus braços doerem pelo esforço.
- Quero que agachem e levantem segurando o bambu em cima da cabeça! - ordenou ele - vou observar cada uma das duplas, o homem que tiver pior desempenho deverá ceder seu travesseiro ao outro durante essa noite.
Fechei os olhos estressado com aquela situação. O comandante me deu as costas e passou a observar cada uma das duplas, mas logo voltou para me avaliar. Levantei o bambu três vezes e meus braços já começavam a queimar, assim como minhas pernas que tremiam a cada agachamento. Namjoon pegou seu próprio bambu e levantou com uma tranquilidade invejável.
- VAMOS - gritou ao observar alguns homens cansados - VOCÊS ACABARAM DE COMEÇAR!
Me desequilibrei e cai no chão com o bambu sobre minhas pernas. Levantei o mais rápido que pude. Eu não conseguiria fazer aquilo. Meus ombros eram largos e o trabalho na fazendo poderia ser um bom treinamento, mas eu nunca realmente me dedicara para adquirir força. O comandante me observou enquanto tentei erguer novamente o peso. Meus braços tremiam.
- Não segurem no centro do bambu - disse o comandante para todos ao observar meu erro - abram os braços o máximo que puderem, segurem perto dos sacos de arroz.
Corrigi minha postura e agarrei com as mãos nas extremidades do bambu. O peso pareceu se equilibrar um pouco. Ergui mais algumas vezes, mas não demorou para eu voltar a sentir dificuldades.
- VAMOS! - gritou Namjoon voltando a andar em meio aos soldados - QUEREM FICAR SEM TRAVESSEIROS HOJE?
Observei que alguns homens subiam e desciam com facilidade, alguns sentiam certa dificuldade, mas certamente eu era o pior ali. Meu corpo inteiro doía e pedia por uma pausa, me desequilibrei e cai no chão novamente, agora balançando a cabeça com os olhos fechados. Eu não conseguiria.
Namjoon voltou e se surpreendeu ao me ver sentado no chão.
- Eu não deu permissão para descansar soldado!
- Eu não consigo - admiti com a voz baixa
Namjoon se agachou em minha frente e segurou meu rosto me obrigando a encara-lo.
- Os chineses vão acabar com essa sua carinha linda - disse de forma ríspida - você será o primeiro a morrer, sabe porque? Porque você desistirá na primeira dificuldade.
Senti as lágrimas se formarem em meus olhos. Eu não queria chorar.
Namjoon levantou-se e me estendeu sua mão.
- Você faz parte do meu exército - continuou ele - não vou deixá-lo desistir, nem morrer assim!
Segurei sua mão e me levantei.
- Continue! E nunca mais quero ouvir sair de sua boca que não consegue! ENTENDIDO SOLDADO?
Concordei com a cabeça e voltei ao exercício. Me arrependendo por ter parado, agora parecia ainda mais difícil retornar ao ritmo. Percebi que apesar das palavras duras, o comandante não queria desistir de mim. Continuei o exercício em um ritmo extremamente devagar, parando alguns segundos quando necessário, mas não desisti.
Quando o comandante nos mandou parar joguei o bambu no chão e tentei controlar minha respiração ofegante. Pensei que pelo meu horrível desempenho eu não deveria apenas dormir sem travesseiro, deveria dormir sem colchonete, sem barraca e no meio da floresta.
- Agora que os braços já estão aquecidos, correremos em volta das montanhas com o bambu sobre os ombros! - ordenou o comandante - Demoraremos uma hora para subir e uma hora para descer, portanto bebam água!
Fui até o recipiente com água potável e enchi uma caneca de barro, bebendo desesperadamente. Duas horas de corrida com peso sobre os ombros? Eu não sabia se conseguiria.
Logo começamos a caminhar pelas montanhas, a caminhada não me parecia difícil, mas quando começamos a correr me senti impotente mais uma vez. Os demais homens correram e me ultrapassaram, a distância de mim para o grupo aumentava a cada quilômetro percorrido. Eu era o último. Aquilo era pesado demais para mim. O comandante que sempre estava na frente do grupo, mandou todos diminuírem o ritmo, eu sabia que era por minha causa. No meio do caminho meus braços cederam e cai ao chão. Meu corpo pesava demais para levantar. Não demorou muito para Namjoon se aproximar de mim e me encarar com aquele olhar que tanto me julgava. Eu era fraco demais pro exército dele. Ele me estendeu a mão novamente, mas não aceitei, apenas me sentei com a cabeça entre as pernas tentando controlar minha respiração descompassada. Namjoon pegou meu bambu em suas mãos e colocou em seus ombros, junto do seu. Alguns homens riram da situação.
- Novamente descansando sem permissão - disse ele antes de voltar para frente e mandar o grupo seguir.
Levantei e os segui. Agora sem o peso consegui me misturar com os outros homens, mas era constrangedor ser o único a precisar da ajuda do comandante. Certo tempo depois estávamos de volta ao acampamento. Ouvi homens comentando sobre mim e rindo. Dispensei o jantar e fui em direção a minha barraca, mas antes de entrar vi o comandante Namjoon se aproximando de mim, puxando meu cavalo pelas rédeas. Ele parou em minha frente e me entregou o cavalo e meu pergaminho.
- Soldado SeokJung - disse com frieza na voz - Eu comandante Kim Namjoon estou dispensando seus serviços nesse exército pela sua falta de condição e sua incapacidade.
Olhei para o pergaminho e estava escrito exatamente tais palavras no papel.
- Amanhã enviarei uma carta ao imperador notificando-o de minha decisão. Solicito que parta pela manhã.
Namjoon virou-se e me deixou só, apenas segurando Khan pela corda e com o papel em minhas mãos.

Honor (Namjin)Onde histórias criam vida. Descubra agora