Capitulo 5

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Entrei em minha barraca ainda sem acreditar. Eu havia sido dispensado por incapacidade, era uma vergonha quase tão grande quanto ser um desertor. Me imaginei chegando em casa e dizendo aos meus pais que desonrei o nome de meu irmão e o sobrenome de nossa família. Imaginei todos da vila me encarando como um homem inútil e inválido para servir meu próprio país. A culpa começou a me corroer, eu devia ter implorado, deveria ter me ajoelhado e pedido outra chance, mas talvez isso só provasse minha fraqueza. Agora não tinha mais volta. Ou tinha? Já era de madrugada quando sai de minha barraca. O acampamento estava deserto e barulhos de roncos saiam das demais barracas. Olhei para o céu pedindo um sinal aos meus ancestrais, mas antes que eu pudesse fazer qualquer oração vi a flecha cravada no topo do poste. Entrei na barraca e calcei meus sapatos, corri até a base do poste de 5 metros e encarei novamente a flecha. Peguei as medalhas pesadas que estavam ali no chão e coloquei uma em cada braço. Eu já havia tentado aquilo, todos os homens daquele exército já haviam tentado subir, mas haviam fracassado, mas eu precisava tentar. Tentei escalar como já havia feito antes, mas era inútil, meus pés escorregavam, não havia onde segurar para uma escalada, e o peso das medalhas eram demais pra aguentar. Era quase como se eu tivesse 50 quilos a mais em meu corpo. Eu precisava pensar. Deveria haver outro jeito. Se ao menos eu tivesse uma corda...Olhei para as medalhas novamente, ambas eram presas por uma fita como se fossem um colar. Eu não tinha uma corda, mas tinha as medalhas! Juntei as medalhas com um nó de pescador que havia aprendido com minha avó quando íamos pescar para cozinhar. Assim ambas as medalhas viraram uma coisa só, coloquei-a atrás do poste de forma que eu conseguisse segurar ambas as pontas com cada uma de minhas mãos. Puxei com força para testar a resistência e o nó não se desfez. Estava firme e seguro. Comecei a escalar fazendo força com a corda improvisada, o grosso poste era áspero, portanto as medalhas não deslizavam. Cada centímetro que eu subia, eu prendia minhas pernas em volta do poste para poder jogar a "corda" mais para cima e me arrastar para cima. Era demorado, mas cada centímetro me fazia ter força e coragem para continuar. Quando olhei para baixo notei que já havia subido mais do que qualquer outro homem ali conseguira. Meus braços doíam, o peso de meu corpo era demais para meus braços depois de tantas horas tentando subir, mas eu não pretendia desistir, já havia chego na metade. Quando meus braços doíam eu segurava firme com minhas pernas e quando minhas pernas doíam eu voltava a forçar a corda e me arrastar para cima. Eu só percebi que estava gritando a cada subida quando ouvi vozes de homens lá em baixo me encorajando a continuar. Deviam ter acordado com meu barulho. Seus rostos eram uma mistura de surpresa com empolgação ao me verem tão perto do alvo.
- VAMOS SEOKJUNG!
- Ele está tão perto!
- Você consegue!
- Só mais um metro!
Daquela altura, ouvindo aqueles gritos, não havia mais medo dentro de mim, tão pouco a dor me incomodava. Era como se eu estivesse anestesiado, era como se nada pudesse me deter. Quando minha cabeça ficou embaixo da flecha, me segurei com as pernas e arranquei-a de lá. Coloquei em minha boca para pode utilizar minhas mãos e joguei meu corpo para cima do grosso poste de forma que eu pudesse sentar ali. Os gritos e comemorações eram tão altos que deveriam estar sendo ouvidos até mesmo na cidade. Olhei para baixo e vi Namjoon me encarando em frente à sua barraca. Mirei a flecha até a grama a sua frente e ela espetou o chão perto de seus pés. Ele a encarou por alguns segundos antes de me olhar novamente. Ergui uma sobrancelha e apoiar o queixo em meu punho como quem o desafiava. Ele sorriu, nunca havia o visto sorrir daquele jeito. Era o sorriso mais lindo do mundo e era para mim.

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Eu estava extremamente orgulhoso de mim pela primeira vez desde que eu chegara naquele acampamento. Quando desci lá de cima, outros soldados me abraçaram e fizeram reverências em respeito a minha atitude. Parei em frente à Namjoon, sua expressão estava uma mistura de orgulho e surpresa.
- Você não foi embora soldado - disse ele depois de alguns segundos.
Neguei com a cabeça. Não sabia ao certo o que responder.
- Você me surpreendeu - disse ele sorrindo - estou orgulhoso e feliz que não tenha desistido!
- Eu quero continuar servindo ao exército comandante - disse por fim - tenho sua permissão?
Namjoon balançou a cabeça como se eu tivesse acabado de dizer algo algo absurdamente estupido.
- Você deve continuar! - me incentivou - você se mostrou o soldado mais inteligente deste exército Seok, precisamos de você!
Sorri aliviado.
- O SOLDADO SEOKJUNG ME TROUXE A FLECHA NO TERCEIRO DIA DE ACAMPAMENTO - gritou Namjoon para os demais homens - ELE PROVOU QUE A FORÇA SÓ DEVE SER USADA JUNTO DA DISCIPLINA! RESPEITE-O PELA SUA INTELIGÊNCIA E BRAVEZA, HOMENS.
Mais gritos e saudações se seguiram, me fazendo sorrir novamente. Senti meu braço doer e levantei a manga de meu Hanbok. Meu braço estava vermelho pela pressão que as medalhas haviam feito em sua volta e o tronco áspero o havia machucado também. Não havia sangue, mas algumas feridas haviam sido abertas.
- Vamos cuidar disso - disse o comandante também observando meus braços.
Namjoon mandou os soldados descansarem o restante da noite, pois amanhã teríamos um dia cheio. Segui ele até sua barraca e antes de entrarmos o ouvi pedindo utensílios de primeiros socorros à um dos oficiais. Sua barraca era bem grande, a lona era amarela e possuía imagens de tigres e dragões desenhados em vermelho. Entramos e me sentei em uma poltrona acolchoada também na cor vermelha. Um lampião iluminava tudo por dentro. Havia uma cama, duas poltronas e uma mala com sua armadura, espada e outros pertences.
- Vamos ver como está - disse ele se aproximando com outro lampião perto de mim - tire a parte de cima do Hanbok.
Me senti um pouco tímido com aquelas palavras, era difícil despir-se em frente ao comandante, ainda que fosse apenas a camisa. Hesitei um pouco o fazendo franzir o cenho confuso, mas logo desabotoei os botões e tirei-a. Apesar de estar machucado em varios lugares, os machucados e hematomas não eram graves.
- Comandante - disse uma moça entrando na barraca, sua roupa era branca e ela trazia uma maleta de madeira da mesma cor nas mãos.
Ela olhou para mim e pareceu se perder um pouco, talvez admirando minha beleza. Pude ter certeza disso quando ela sorriu para mim de forma exatamente simpática. Namjoon pareceu perceber, pois agradeceu e disse que ele cuidaria disso.
- Você não é um homem de muitas palavras, não é soldado? - perguntou Namjoon abrindo a maleta e procurando por algo.
- Na verdade sou bem falante a maioria das vezes - admiti
Namjoon sorriu e pegou uma pomada para hematomas.
- Espero não estar te intimidando muito - disse ele aplicando o remédio nas partes roxas e avermelhadas de meus braços. O toque me fez me mexer um pouco. Ele continuou:
- Preciso ser duro com meus soldados, principalmente quando não acreditam em seu potencial, como observei em você anteriormente.
- Eu mereci - disse dando de ombros - se não fosse por isso talvez outra pessoa teria pego aquela flecha.
Namjoon concordou. Agora ele passava um remédio líquido nos machucados.
- Ou talvez ela ficasse ali para sempre - disse ele me olhando.
Sorri e abaixei a cabeça envergonhado. Seu rosto era ainda mais bonito de perto. Sua voz era agradável quando não estava gritando. Ele enfaixou o machucado mais crítico e perguntou onde mais doía.
- Meu pescoço - respondi levando minha mão até o local. Realmente doía a cada mexida.
Namjoon se levantou e foi até as minhas costas. Tremi ao sentir sua presença ali. Torci para ele não notar ou pelo menos pensar que eu estava arrepiado por conta da dor. Ele espalhou a pomada pelo meus pescoço e começou a massagear me fazendo fechar os olhos. Seu toque era muito bom, era firme e pesado, como quem sabia exatamente como fazer uma boa massagem. Desejei que aquilo nunca acabasse.
- Pronto - disse ele minutos depois - novo em folha para treinarmos amanhã.
Eu sorri e coloquei meu Hanbok novamente.
- Então quer dizer que vou sobreviver doutor? - perguntei fazendo o comandante rir.
Ele guardou os medicamentos na mala e me encarou de foram seria.
- Veremos - disse antes de se levantar.
Eu não sabia se havia sido uma piada ou não, mas me senti atingido pela voz e pelo jeito sexy que ele ficava quando estava sendo sério.
Me levantei também para sair da barraca, mas antes lembrei de algo e disse:
- Comandante, acho que estou te devendo meu travesseiro...
Namjoon sentou em sua cama e levantou a flecha em suas mãos
- Fizemos uma troca.

Honor (Namjin)Onde histórias criam vida. Descubra agora