Capitulo 6

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Nos dias seguintes eu estava decidido a mudar meu desempenho como soldado. Após capturar a flecha percebi que eu não era mais fraco do que os outros homens apenas porque eu não possuía seus músculos e sua força. Eu era inteligente, disciplinado e determinado. Quando comecei a acreditar em mim, parecia que tudo estava ao meu favor, até mesmo minhas habilidades que pensei que nunca seriam necessárias em um campo de treinamento eu consegui utilizar. Além disso, os soldados estavam cada vez mais próximos, não haviam mais brigas como nos primeiros dias, estávamos nos comportando como um verdadeiro exército: unidos e ajudando uns aos outros. Certa tarde estávamos no meio da floresta, a horas de distância do acampamento, estávamos divididos em dois grupos, como se fôssemos dois exércitos inimigos e de repente um soldado de minha equipe foi queimado por um besouro da espécie Paederus. Não demorou muito para começar a surgir bolhas e a queimadura arder impossibilitando-o de seguir. Os utensílios de enfermagem estavam no acampamento, portanto demoraríamos horas para poder tratar. Nesse momento meu conhecimento por plantas - obtido cuidando da horta da fazenda - me possibilitou encontrar babosas para tratar a queimadura. Nosso exército foi o vencedor pelo "espírito solidário e por agir em equipe", segundo o comandante. Em outra tarde havíamos ido até o lago para caçar peixes e quando voltamos ao acampamento, já de noite, preparei deliciosos Kimbaps para o jantar. Todos agradeceram, pois estávamos cansados de comer sempre arroz, macarrão e bifes. Namjoon disse que eu tinha um dom dado pelos deuses e os demais homens concordaram. Estávamos todos sentados no chão entre as barracas, comendo meus sushis coreanos e conversando quando o assunto sobre esposas surgiu:
- Eu tinha acabado de me casar quando me alistei - disse um dos soldados - sinto tanta falta dela.
- Eu estava conhecendo pretendentes ainda - respondeu outro - espero sobreviver para poder me casar.
- O que? Você ainda não é casado? Quantos anos tem?
- 25
A maioria ali achava um absurdo homens de 25 anos solteiros. Resolvi não entrar no assunto, provavelmente eu deveria ser o único homem de 27 anos sem ao menos uma pretendente. Eles continuaram falando sobre mulheres, sexo, filhos e fui ficando cada vez mais quieto. Alguns diziam que não queriam morrer virgens, outros descreviam a experiência de ir para cama com a esposa. Senti vontade de sair correndo. Namjoon pareceu notar meu desconforto, ele me observava com frequência nos últimos dias. Ele participava do assunto, ria e conversava, mas nunca dividia nada de sua vida pessoal.
- E o senhor comandante? - perguntou um dos soldados - quem está te esperando em casa?
Olhei para Namjoon também curioso, apesar de perceber que ele não falaria sobre sua vida. Ele era um homem extremamente reservado. Pensei que sendo lindo e respeitado como ele era, com certeza deveria ter esposa e até mesmo filhos. Namjoon negou com a cabeça, mas sua expressão era divertida.
- Não preciso dizer informações sobre mim - disse ele - sou o comandante de vocês.
Varias vaias e reclamações se seguiram o fazendo rir. Eu também ri da situação.
- Comandante, o senhor mesmo diz que somos uma equipe, mas não sabemos ao menos a idade do senhor - reclamaram os soldados.
Namjoon concordou com a cabeça achando justo.
- Não posso dizer minha idade, é contra as regras, afinal, possivelmente alguns de vocês são meus hyungs e preciso que me respeitem da mesma forma - disse ele - mas posso dizer-lhes que não tenho esposa.
Realmente me impressionei com o que ouvi, não esperava que alguém como Kim Namjoon fosse solteiro. Os demais homens também se surpreenderam e afirmaram que os filhos do general eram um dos homens mais disputados de todo o país. Eles questionaram inúmeras vezes o porquê, mas o comandante não nos deu o prazer de mais uma resposta sobre sua vida.
Após o jantar todos foram se deitar em suas barracas, mas eu me acostumei a treinar durante boa parte da noite todos os dias, afinal eu ainda precisava de muito treino para deixar de ser o mais fraco da equipe. Os resultados eram demorados, mas eu já podia notar diferença durante o treino pelas manhãs. Minha resistência e força já haviam melhorado bastante. Todas as noites porém, eu treinava sozinho, por isso me assustei ao ver Namjoon se aproximando de mim. Eu estava levantando os sacos de arroz como de costume.
- Está evoluindo muito rápido soldado SeokJung - elogiou o comandante me fazendo sorrir. Pensei no quanto gostaria que meu verdadeiro nome saísse de sua boca, mas essa era uma coisa impossível.
- Obrigado comandante - agradeci - mas ainda tenho que treinar muito.
Namjoon concordou.
- Treinaremos luta corporal pela manhã - disse ele por fim.
Ele nunca revelava o treino do dia seguinte, fiquei feliz com ele puxando assunto.
- Espero que não acabem com meu rostinho lindo - provoquei fazendo ele revirar os olhos, mas sorrir depois.
Namjoon pegou um bambu com sacos de arroz e começou a treinar também. Admirei seu corpo por alguns segundos, mas logo desviei o olhar.
- Você estava quieto no jantar - disse ele por fim - porque não falou sobre sua esposa?
Eu não respondi. Realmente não queria falar sobre o quanto eu fugia de casamentos, muito menos de todas as desistências até hoje.
- Como ela se chama? - insistiu ele.
- Eu não sou obrigado a te responder esse tipo de coisa - disse por fim esperando que ele não se ofendesse.
Namjoon suspirou.
- Tenho 24 - disse por fim.
Parei meus exercícios e o encarei. Ele havia me revelado sua idade. Não esperava que ele fosse tão mais novo do que eu.
- 24 esposas? - brinquei.
Ele levou a mão ao rosto sem acreditar e riu.
- Céus...você é inacreditável! Nunca leva nada a sério?
Eu ri. Era praticamente impossível deixar uma piada escapar.
- Desculpe - falei rindo - tenho 27.
Namjoon ficou alguns segundos me observando sem dizer nada. Senti meu rosto corar de vergonha.
- Espero que não me entenda mal senão te chamar de hyung - disse ele por fim.
Balancei a cabeça imediatamente.
- De forma alguma senhor - disse de forma respeitosa.
Namjoon sorriu e dobrou o número de sacos de arroz antes de voltar a levantar. Deveria estar muito leve para ele.
- Não sou casado - falei quebrando o silêncio e pude ver a expressar surpresa em seu rosto. Provavelmente me achava velho demais para isso.
- O que sua família acha disso? - perguntou curioso.
Percebi que eu não era o único curioso sobre a vida dele, ele também tentava me entender melhor.
- Decepcionante, desrespeitoso, vergonhoso, desonroso... - respondi.
Namjoon fez uma careta de quem sente muito por isso.
- Porque não se casou ainda? - perguntei fazendo-o hesitar.
Ele relutava muito para falar sobre si, mas eu não revelaria minha via sem saber sobre ele também.
- Vida de comandante - respondeu por fim, mas não senti verdade em suas palavras.
- Mas seus irmãos são casados e são comandantes - afirmei.
Namjoon levantou uma sobrancelha.
- Como sabe dos meus irmãos?
- Ouvi os homens falarem no jantar - disse. Não era mentira, mas omiti a parte de que o ouvi conversando no rio com o oficial outro dia.
Namjoon concordou como se cedesse.
- Sim - disse ele.
- Então para eles não é difícil ser comandante e esposo - afirmei.
- Aparentemente não - disse ele.
Abandonei os pesos e me virei de costas, comecei a me alongar para correr.
- Boa noite - falei para ele antes de começar a corrida.
Namjoon me seguiu.
- O que eu fiz? - perguntou confuso.
- Você está mentindo - afirmei - essa conversa não tem sentido se você mentir - dei de ombros.
Namjoon riu. Agora corríamos em volta das barracas.
- Não estou mentindo - defendeu-se - eu só...não foi totalmente uma mentira...a vida de um comandante é realmente arriscada e conturbada...
Lembrei de que esse era o primeiro exército que ele comandava, eu havia o ouvido falar isso para o oficial.
- Mas...? - perguntei.
- Fale de você por favor - pediu ele - depois te digo a história inteira de minha vida de solteiro.
Olhei para ele e semicerrei os olhos desconfiando.
- Promessa de comandante - afirmou ele.
Eu sorri.
- Certo - falei - tenho 27 anos, moro em uma fazenda em uma vila afastada, que provavelmente você nunca deve ter pisado.
- Provavelmente...
- Moro com meus pais, minha avó e meu irmão. Meu irmão tem 32, é casado e está esperando um filho.
Ele assentiu com a cabeça.
- Eu não sei..- falei agora me apoiando em meus joelhos para descansar um pouco - eu só nunca tive vontade de me casar...aos 21 achei que isso passaria, aos 25 fiquei um pouco preocupado, mas resolvi dar meu tempo...e aos 27 continuo dando esse tempo.
Namjoon riu.
- Você é engraçado - disse por fim - o modo que você fala, não sei...é uma boa companhia
Senti meu rosto corar novamente. Eu não estava tentando ser engraçado, mas seu elogio me fez sorrir.
- E o que mais? - perguntou ele - você é um belo rapaz, aposto que deve ter pretendentes.
Dei de ombros envergonhado novamente. Ouvir isso dele me fazia querer enfiar a cara em um travesseiro e sorrir igual bobo. Além disso eu não achava que tinha nem 1/4 de sua beleza e seu charme.
- Eu só não quero ninguém - disse por fim - não sei quanto tempo conseguirei aguentar a pressão, mas...
Namjoon concordou.
- E você? - perguntei rapidamente tentando me tirar do foco da conversa.
Namjoon suspirou.
- Somos um pouco parecidos disse sorrindo.
- Não minta - repreendi
- Não vou - disse ele.
Voltamos a correr em volta do acampamento.
- 24 anos, sou filho do general do exército oficial coreano, tenho dois irmãos mais velhos. Um da sua idade e um de 30 anos...
Ele deu uma pausa antes de continuar. Era difícil se abrir para um estranho, mas essa era a troca por querer saber sobre minha vida.
- Moro na cidade imperial, treino para ser comandante desde os meus 21 anos, me formei como comandante com 22, mas nunca fui convocado antes.
- Seu pai nunca te convocou antes? -Mas ele é o general...
Namjoon concordou com a cabeça.
- Dos seus 3 filhos sempre fui o que mais se destacou, mas digamos que...tirando minhas habilidades para treinar homens, ele acha que não tem muito mais para se orgulhar.
Ouvir aquilo era indignante. Como um pai não se orgulharia de um filho como Kim Namjoon? Namjoon pareceu perceber minha cara de indignação e riu.
- A última vez que nos falamos decentemente foi a 2 anos atrás. Algumas coisas aconteceram e ele nunca me perdoou por isso.
Parei novamente para descansar e para beber água. Sentamos perto da fogueira.
- Sinto muito - falei
Mas Namjoon deu de ombros. Ele não parecia se importar muito.
- Não sinta. A única coisa que realmente me frustra é ele diminuir meu potencial sempre pelo mesmo motivo.
- Meu pai morreria de orgulho de um filho como você - admiti, mas Namjoon franziu o senho e negou.
- Estou tão solteiro quanto você, acho que não.
Queria falar que minha família não me julgava apenas por não estar casado, mas por não me comportar "como homem", mas tive vergonha. Para mim Namjoon ainda parecia o filho homem que qualquer pai pede aos deuses.
- E porque não se casou? - perguntei - digo... você é militar, mulheres devem cair ao seus pés...
Namjoon olhou para um ponto longe antes de continuar.
- Quando entrei na academia militar para treinar, imaginei que me envolveria com uma enfermeira por dia, assim como meus irmãos fizeram na época deles - disse ele mexendo na grama com a ponta dos dedos - mas acabei me interessando demais pela pessoa errada...
- Pessoa errada? - perguntei confuso
- Min Yoongi - disse ele ainda olhando para o chão.
- Isso é o nome de alguma mulher? - perguntei confuso. Era um nome raro de se ouvir.
Namjoon riu.
- Na verdade não - confessou agora me encarando.
Senti meu coração acelerar levemente. Eu havia entendido direto? Namjoon continuou:
- Enfim, eu estava obcecado por ele. Por seu jeito ríspido, sua cara sempre entediada - ele riu ao falar isso - pelo jeito que lutava, pelo corpo, pela voz... algo totalmente imprudente - disse por fim.
Eu demorei alguns segundos para fazer a próxima pergunta:
- E então?
Namjoon levantou os ombros demoradamente e soltou:
- E aí que aparentemente ele confundiu seu orgulho por mim, já que eu era seu melhor aprendiz, e cedeu aos meus pedidos e se arrependeu no dia seguinte.
Fiz uma careta.
- Ou ele pode ter ficado com medo - afirmei.
Namjoon deu de ombros.
- Talvez...
- E depois? - perguntei sem conseguir esconder minha curiosidade.
- Depois ele reclamou para meu pai. Quase fiquei sem me formar. Ele se transferiu de sede e fim da história - disse ele rapidamente como quem deseja acabar logo uma história para uma criança.
Um breve silêncio se instaurou. Então esse era o motivo que seu pai o detestava. Senti pena por ele.
- Eu...não sei o que dizer - respondi por fim - acho que você não quer mais ouvir que sinto muito...
Namjoon sorriu brevemente e se levantou.
- Não, não quero - disse me dando a mão para me levantar - acho que já está tarde. Amanhã teremos um longo dia...
Eu aceitei sua ajuda e me levantei concordando com a cabeça. Ele me olhou antes de se despedir.
- Boa noite soldado - disse antes de se virar de costas - foi uma boa conversa.
- Boa noite comandante - falei o observando ir em direção a sua barraca.
Havia sido uma ótima conversa.

Honor (Namjin)Onde histórias criam vida. Descubra agora