A Guardiã do Eterno - Livro 2

Capítulo 3

-O que está fazendo aqui Dimitri? -A pergunta soou fria quando Karias a fez, levantei o rosto para o meu mestre e o vi com uma expressão de poucos amigos. Não que minha fosse mais exemplar do que a dele, até por que as lembranças de estar presa no chão da cozinha embaixo de um estranho me eram recordadas com rancor.

-Só passeando pela vizinhança e assistindo briguinhas de relacionamento. -Respondeu Dimitri se espreguiçando com os braços elevados na altura da cabeça e esboçando um falso bocejo. -A de vocês dou a nota três. Foi sem graça, sem emoção, principalmente da sua parte Karias, e se resolveu rápido demais.

Uma risada forçada partiu de meu mestre fazendo os olhos de Dimitri se semicerrarem.

-Sinto muito por não ter te proporcionado o divertimento que queria, mas a verdade é que não somos obrigados a atender a expectativa de pessoas tão insignificantes como você. -Era um golpe baixo, mas Dimitri mereceu. Pelo menos fez o seu sorrisinho de canto de boca diminuir e o ar de deboche desaparecer completamente. -Agora se nos der licença temos coisas mais importantes para fazer.

Karias pegou na minha mão e foi me puxando para a rua principal, nem me preocupei em me despedir de Dimitri. Não queria interagir com ele. E duvido que ele queira interagir comigo, já que não foi muito agradável quando nos conhecemos.

-Vocês podem não ser obrigados a atenderem as minhas expectativas com relação a briguinha de casal...-Paramos na entrada da travessa, minha cabeça se virou e me deparei com um envelope nas mãos do mago arqueiro. Seu rosto se mostrava inexpressivo. -Mas acho que devem ao menos atender a do mundo. Principalmente quando o assunto é salva-lo de um mago louco.

Senti os músculos da minha costa tencionarem e aquela sensação de nervosismo retornou para me atormentar. Até a minha respiração ficou diferente, estava prestes a entrar em uma crise quando um aperto de mão me fez voltar ao normal. Encarei aquele aperto carinhoso e depois voltei o meu olhar para o meu mestre, que apenas deu alguns passo para frente e retirou o envelope das mão de Dimitri.

-Pelos Eternos você é mais idiota do que eu pensei. -Disse Karias colocando o envelope no bolso da calça.

-Eu posso ser o idiota, mas pelo menos não sou a pessoa iludida aqui. -Ao dizer isso os olhos de Dimitri recaíram sobre mim e o devolvi com uma expressão incrédula. Eu sou a iludida nessa história? Quem ele pensa que é pra dizer isso!? E como a conversa chegou a esse nível? -Bom até mais casal. Espero tudo de bom para vocês, até por que não é todo dia que vemos uma pombinha enamorada de um urubu.

A comparação foi o bastante para acabar com o bom senso e a paciência de Karias, agora era o meu aperto de mão que o impedia de ter uma crise e descontar tudo no mago.

-Não vale a pena, como você mesmo disse: ele é um idiota. -Essas palavras conseguiram segurar o meu mestre, mas não diminuíram a raiva que fazia seu corpo ficar tenso, como se estivesse prestes a brigar. Dimitri sutilmente passou a mão pela madeira do arco, lancei um olhar mortal para ele, um aviso silencioso.

"Se eu fosse você, manteria esse arco abaixado."

O mago, como bom entendedor de sinais, afastou a mão do Gizarks e deu as costas para nós sem dizer uma palavra. Era melhor assim, qualquer coisa que saísse de sua boca seria um alfinete usado para estourar o balão da paciência. 

Por mais que, olhado para o meu mestre, eu percebesse que o estrago já estava feito.

-Prometo que não será nada sério, é só uma lição para ele aprender a não chamar as pessoas de "urubu". -Disse Karias no meu ouvido em uma tentativa de me convencer a largar o seu braço, comecei a rir e soltei um "Não" seguido de um "É exatamente isso que ele quer, então não vamos dar esse gosto a ele". Meu mestre pareceu ceder as minhas tentativas de manter a paz, pelo menos era isso que acreditei até ouvir o barulho de alguém caindo.