Capítulo 5 - Bom Luto ( Parte 1)

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  Capítulo 5 – Bom luto (Parte 1 )

Havia muitas pessoas no velório de Song Dan. O caixão estava fechado, uma vez que Nina tinha autorizado a remoção de tudo o que fosse possível doar, e já não era mais apropriado que o corpo fosse exposto. Ele seria cremado assim que todos os visitantes se fossem. Havia técnicos de outros times, alguns famosos, de quem o pai era amigo, outros apenas colegas de escola.

Nina não estava chorando. Havia chorado o suficiente nos últimos cinco dias, enquanto o caixão de seu pai estava na pequena capela de uma igreja, para que todos os seus amigos se despedissem. A percepção de que ele havia morrido de verdade tinha chegado no segundo dia, em acessos de fúria da garota que destruiu basicamente tudo o que poderia ser quebrável na casa. Tinha tido um mau temperamento naquela semana, principalmente quando um assiste social batia a porta para dizer o que ela deveria fazer. Nina só lembrava-se de odiá-los. Não deixou que ninguém a tirasse do velório, e isso incluía todas as dezenas de tios desconhecidos que falavam coisas como " oh, querida, você pode ficar a gente", mas não era como se Nina quisesse algo além de desaparecer dali.

O time feminino basicamente havia apoiado a Song em sua vigília perante o caixão do pai durante todos os dias. Vezes ou outra elas a forçavam a comer, e se trocar, para a irritação de uma muito furiosa Nina. Nenhuma delas se ofendeu quando no terceiro dia a Song simplesmente tentou expulsar a todas , ou então quando gritou a todas que queria ficar sozinha, pareciam saber que tudo o que dizia era um apelo desesperado para que elas não a deixassem.

Sarang chegou no primeiro dia do velório e esteve ali, se recusando a sair, e forçando Nina a tomar banho na sauna ao lado. De alguma forma, todos os alunos da escola haviam passado por ali em algum momento, presenciando algum tipo de crise que a Song tivera. Ela passou pelos estágios do luto, um a um.

Negação. Aconteceu ainda no hospital, quando o pai ainda estava em processo de remoção de órgãos. Raiva. Foi um longo estágio para Nina, que sentiu ódio de tudo e todos que se mexiam e respiravam. Negociação. Ela veio quando a menina simplesmente desapareceu do velório e foi a todas as igrejas de Busan, tentando pedi-lo de volta a deus, Buda, Alá, quem quer que estivesse lá em cima. A depressão foi intensa, sentiu-se desesperada e sem rumo, parecia que por um momento ela nunca mais seria feliz em sua vida.

O último estágio confortava levemente o coração machucado da Song, que tomava a Aceitação com dificuldade. Os dias se passaram lentamente, Nina não voltou a jogar ou a assistir aulas, e quando o corpo do pai finalmente foi cremado e colocado em uma urna trancada, a menina voltou para a casa que ainda estava destruída de seu acesso de raiva, e trancou-se lá dentro impedindo que qualquer assistente social ou advogado entrasse.

Ela não queria falar com ninguém. Pelo menos não ainda. Recebia ligações das meninas do time e ignorava todas, Sarang era uma importunação ainda maior, que ameaçava mandar a polícia a sua casa,caso Nina não respondesse. A polícia esteve ali cinco vezes nos últimos dias, mas Nina também se recusou a abrir para eles.

A menina sentia que de alguma forma não estava completa, era como se não tivesse deixado o pai ir de verdade. Estava o decepcionando, sabia bem. O pai teria ficado magoado se soubesse que nos últimos dias Nina não havia voltado para escola ou treinos, e sequer se alimentava direito. Mas ele teria que dar um desconto a ela, depois de tudo, não era fácil esquecer e continuar a vida.

Na terceira semana, ainda sem sair de casa e ignorando os apelos de todos que a vigiavam, Nina percebeu o que estava errado. Ele queria que eu jogasse suas cinzas em campos de futebol... Era isso! Era o que faltava! Dan dissera aquilo como brincadeira, mas era aquela memória que ainda ecoava em Nina todos os dias.

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