Capítulo 4 - Indo embora

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  Capítulo 4 – Indo embora

Seus olhos se abriram lentamente para encontrar uma iluminação forte. Olhou para o lado e viu o pai sorrindo, tinha a mesma doçura no olhar que sempre tivera. Nina sorriu, estava aliviada. De alguma maneira, pensou que algo horrível tivesse acontecido.

— Eu tive um pesadelo — ela murmurou. Dan se sentou na beirada da cama, e segurou em sua mão, Nina sentiu a textura quente de sua pele. — Foi horrível, papai — acrescentou. O pai tirou a franja de seu cabelo para o canto de suas orelhas, e deu-lhe um beijo casto na testa como fazia quando ela pequena.

— Bem, já passou agora — Dan disse se ajeitando ao seu lado na cama. Nina pousou a cabeça em seus ombros, aproveitando o aconchego familiar que o pai emanava. Sentiu os dedos gentis do Song percorrerem seu cabelo.

Olhou com curiosidade onde estava e percebeu que ali não era seu quarto escandalosamente decorado com bandeiras de times favoritos e troféus. Havia uma grande luz iluminando a cama desconfortável, mas todo o resto estava escuro, mas se Nina prestasse atenção veria um pequeno aparelho apitando calmamente.

— Papai — ela chamou. Dan a encarou com um sorriso. — Onde estamos? — perguntou incerta se queria uma resposta. O treinador maneou a cabeça e a apertou mais forte, e então a menina sentiu o corpo tremer, e lágrimas se formarem em seu rosto. — Papai por que estamos aqui?

Dan baixou os olhos antes de dar-lhe um sorriso entristecido, sua mão entrelaçava-se com os dedos de Nina, mas não eram mais quentes como antes, e sim geladas como um inverno.

Acho que eu queria me despedir — ele respondeu. — Ver minha garotinha uma última vez — Nina percebeu onde estava. Era uma sala de hospital.

— Papai — ela murmurou em um embargo de choro, sentindo uma trilha quente de lágrimas escorrer de seus olhos, borrando-lhe a visão. Dan maneou negativamente a cabeça antes de abraçá-la mais forte. — Não, isso de novo não — ela implorou segurando seu braço fortemente, como quem se agarra para sobreviver. — Eu não vou conseguir suportar, papai — Nina chorou ainda o apertando para que não pudesse se soltar.

Dan gentilmente a soltou, escutando um "não" em grito de Nina. Lentamente se retirou da cama ao seu lado e soltou-se de seu aperto com delicadeza. Suas mãos acariciaram uma segunda vez seus cabelos lisos, enquanto Nina fervorosamente tentava segurá-lo, dando-se conta de que não conseguia.

— Você irá — ele garantiu. — É uma menina forte, que eu sei que criei para suportar qualquer coisa — murmurou mais baixo.

Nina negou.

— Não... O senhor não pode me deixar sozinha, papai — pediu sentindo lágrimas quentes escorrerem. — Por que todo mundo continua indo embora?! — gritou enquanto chorava. — Se o senhor for também, não vai sobrar mais ninguém — Dan não deixou o sorriso sair de seu rosto em momento algum.

— Nina, aqueles que nos amam nunca nos deixam — ela viu que ele tocava em seu coração. — Você precisa me deixar ir— ele pediu. Nina negou. Não! Ela não podia! — Nina, sua mãe está me esperando há tanto tempo — disse limpando as lágrimas que escorriam de seus olhos. — Eu quero vê-la também — o pai murmurou entristecido. — Você não vai ficar sozinha — ele prometeu. — Eu e mamãe estaremos aqui, protegendo você — disse apontando para seu peito. — Torcendo por você — sorriu uma segunda vez.

Nina ofegou ainda sem suportar, o choro simplesmente não cessava.

Dan olhou para a porta de saída do quarto, e a menina percebeu o que ele estava prestes a fazer. Tentou impedi-lo, mas o pai a olhou entristecido por tentar. Então ela simplesmente parou, o observando.

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