Senhora

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Não sei quantos quilômetros percorri em meu percurso sinuoso. Pretendia fugir para um lugar distante para evitar o embate. Mesmo que esteja confiante, nunca se sabe o resultado de uma batalha.

Passei pelos diversos becos escuros e esquecidos pelo calor da manhã. Em outras grandes praças abarrotadas de pessoas. Aos poucos, deixei tudo para trás. Desde as pessoas escondidas nas sombras e no frio a 'aqueles no calor do dia. Até que em fim, atingi a solidão fantasmagórica de um gigantesco cemitério.

Não sabia como havia chegado ali, apenas havia corrido sem rumo. Observei o antigo portão aberto e o grande silêncio solene. Lápides espalhavam-se para todos os lados. A morte imperava naquele local.

Senti um frio percorrer minha espinha enquanto um forte vento soprava. O único som ali presente era o cantar das aves e o farfalhar das folhas. Nunca tive medo de cemitério, mas sim respeito. Afinal, a maior parcela que se encontravam enterrados morreram em batalha.

Nesse mundo, a existência de bestas em abundancia gera ataques de horda após horda. As baixas são normalmente severas, e a destruição gigantesca.

Respirei fundo e dei meia-volta. Não tinha parentes ali, não faria nada ali dentro, sinto que seria uma grande falta de respeito continuar aqui. Todavia, assim que dou as costas ao portão ouço passos. Eram calmos, avançavam lentamente. Senti meu corpo por um instante paralisar com o tremendo frio que me abateu. Então, não bastando o caminhar ouço uma pequena cantoria. Um ritmo alegre, mas ao mesmo tempo melancólico.

Olho para trás, apenas para enxergar uma mulher caminhando em minha direção. Não tenho certeza, mas ela deve ter saído da esquina mais próxima. Possuía longos cabelos negros. Sua pele branca denuncia sua idade pelo menos acima dos quarenta. Mas isso não era um demérito para sua beleza deslumbrante.

Ela caminhou lentamente enquanto cantarolava sem perder o ritmo. Sues grandes olhos azuis não se distraiam, sempre olhavam para frente, sempre olhavam para mim.

Não tive medo de ser alguma espécie de fantasma ou qualquer outro tipo de assombração já que nunca ouvi fala de fantasmas emitindo Yuan Qi. E não era qualquer Yuan Qi. Apenas com a aproximação da mulher já pude perceber que ela não era qualquer pessoa. Mesmo eu pude facilmente perceber seu poder.

Ela aproximava-se mostrando um grande sorriso no rosto enquanto caminhava em uma postura elegante. Até que em fim chegou a ficar frente a frente comigo.

—Está aqui para visitar alguém meu jovem?—Perguntou ela em uma voz calma.

—E-eu só estava de passagem, não vou entrar—Respondi dando um passo para trás, caso contrário, acho que desmaiaria devido a pressão que o Yuan Qi da mulher exercia em mim.

—Hum? Hó! Desculpe-me meu jovem—Assim que disso isso a pressão simplesmente desapareceu—Vim visitar um de meus irmãos abandonados por minha mãe. É sempre assim, perco o controle—Ela pós a mãos dentro de uma bolsa e de lá de dentro retirou um pergaminho gravado com matrizes—Por favor, aceite isso como desculpas— Entregou-me.

—E-eu não posso aceitar, não preciso, é seu—Estendi a mão de volta para entregar o selo, mas a mulher apenas tomou minhas mãos com as suas.

—Não aceito não como resposta—Passou a mão na minha cabeça em um carinho—Acredite, mesmo que não precise no momento, um dia irá precisar—A mão pálida caiu sobre meu rosto em um afago singelo—Você ainda é jovem, não venha para cá. Esse lugar não possui glória e nenhum resquício de honra possui apenas o silêncio do destino.

Olhei fixamente para aqueles grandes olhos azuis e seu belo sorriso gentil. Senti algo reconfortante naquela mulher como não sentia há muito tempo. Sua voz e a calma como tudo faz, trazia-me uma sensação de paz.

—Siga naquela direção—E apontou para frente, onde eu podia enxergar diversos prédios—Quando tiver de escolher um caminho, vá para a direita, depois de um pequeno percurso, vai estar na frente da Igreja—Apontou para cima, onde eu conseguia facilmente ver a ponta fina da catedral—Se não ferir a lei, ninguém ousará tocar em você em frente a ela.

—Obrigado... Espera como você sabe que eu estou fugindo?

—Por qual outro motivo alguém viria aqui fora da época de visitas? As pessoas temem a morte, por isso fogem desse lugar, não se aproximam por que querem—Confirmei com a cabeça, disse obrigado e corri na direção da estrada. Contudo, não percebi algo simples que fora deixado para trás.

Um pequenino brilho ergue-se no ar quase a desaparecer. Então, começa a rodear a mulher próxima aos seus ouvidos.

—Tem certeza?—Diz a voz de Seiryu que reverbera do pequeno ponto negro.

—Eu vejo o futuro meu caro amigo. Esse menino pode ser grande— A mulher fala enquanto observa as costas de Tatsuo correndo para a cidade—Assim como pequeno, as possibilidades de futuro desse jovem, admito que nem mesmo eu consigo ver todas. Mas ele precisará de ajuda, e eu também em algum momento. De um futuro não tão distante. Por favor, Seiryu, tenha certeza de tonar esse garoto grande no pouco tempo que lhe resta—Após a fala da mulher, a pequena fagulha negra se dissipa no ar, então, a mulher solta um suspiro—Mais um de meus irmãos. Acho que é hora de visita-lo. 

Deus Dragão: O DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora