O gosto sangrento tomou meu paladar para si. Senti minha pele queimar e a grande foça que me jogava para trás. A dor tomou meu corpo como um todo. A única coisa dando-me conforto era a simples macieis que tocava minhas costas.
Então, aos poucos, em sentimento quente percorreu todo meu corpo. Revigorante, a dor aos poucos era lançada ao ar. O sentimento de queima deu lugar ao conforto. O cheiro horrendo da pele carbonizada tornou-se o mais belo odor florido que já senti.
Meus tímpanos, a pouco estourados pela carga elétrica, os sentia reconstituindo-se. Abri aos poucos meus já cansados olhos. Ao mesmo tempo em que ouvia uma voz melodiosa cantar ao vento. O sono tomava meu corpo. O simples esforço de manter os olhos abertos tornava-se um obstáculo quase intransponível.
Lutei bravamente para manter-me acordado. Mas nem sempre se ganha à batalha. De pouco em pouco meus olhos fechavam. O peso das pálpebras tonou-se insuportável. Então, fui guiado mais uma vez para o mundo dos sonhos.
***
Abri lentamente meus olhos com forte luz solar que já atacava a janela. Parei por alguns segundos a espera de alguma resposta de meu corpo. Não sentia dor, nem qualquer tipo de sangramento interno. Apenas não conseguia mover-me.
Alguns minutos passaram-se, e a leve paralisia do sono foi-se como se jamais houvesse chegado. Levantei-me para sentar na cama na qual me encontrava deitado. O colchão era o mais macio que já havia experimentado. Não que isso realmente importasse de alguma coisa.
Depois de recuperar minha sanidade, comecei a observar o quarto. Tudo era feito de madeira. Uma escrivaninha encontrava-se alguns metros a minha frente. A parede de madeira ostentava características extremamente velhas e podres. Uma pequenina estante com alguns livros perfeitamente organizados. Porém, a julgar por seu aspecto velho, duvidava se realmente era possível extrair alguma palavra da tinta desgastada.
Virei meu corpo para o lado e coloquei meus pés no chão. Senti um frio da madeira antiga se espalhar por todo o meu corpo. O evento inesperado me fez retrair rápidos os pés em um susto. Respirei fundo e voltei a pisar no chão. Sentindo meu corpo um tanto quanto dolorido, fiz alguns rápidos exercícios de alongamento (com toda certeza nada pesado, apenas esticar os braços e as pernas); Consegui uma melhora parcial apenas, mas já era mais que o suficiente.
Assim que iria falar com Seiryu para questiona-lo onde eu me encontrava naquele momento, a porta se abriu. A madeira e as velhas dobradiças transmitiam ruídos ao moverem-se. Meus olhos me guiaram para a figura que a passos lentos que reverberavam pela madeira adentrava.
Trajando uma roupa de empregada com o clássico jogo de preto e avental branco, uma mulher surge. Com sua pele pálida. Um rosto tão belo quanto o amanhecer. Cabelos que desciam até o centro de suas costas amarrados em um rabo de cavalo. Olhos sem íris ou pupila. Ostentava um corpo alto e farto. Seus traços faciais estariam entre vinte e cinco e trinta anos.
Observei-a em sua posição ereta e expressão calma. Entrelaçava às mãos a frente dos estomago enquanto retornava meu olhar. Nunca pensei em como era ser observado pelo branco ocular apenas. Era um sentimento estranho, parecia que a qualquer momento ela viraria os olhos e me atacaria. Ou que, caso tentasse toca-la, apenas atravessaria seu corpo.
—Pelo visto, terei de me apresentar—Disse ao mesmo tempo em que se curvava em uma reverencia de noventa graus—Sou Lilith, empregada chefe da dimensão. Também sou responsável pela limpeza e por sua alimentação mestre.
—Pera, pera, pera, mestre?
—Sirvo a quem estiver no controle da dimensão. Se eis o mestre desse lugar, também é meu. Foi assim que fui criada. Estou as suas ordens se necessário.
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Deus Dragão: O Descendente
FantasiNo mundo, o talento é a única coisa que importa. Aqueles que tocam o pico do poder são exaltados. Aqueles que apenas o observam são massacrados. É nesse mundo que se passa a história do pequeno Tatsuo. Com apenas onze anos, expulso da própria cidade...