08. Aquele pacto lá...

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Depois da noite de bebedeira eu só precisava de um tempinho e o meu próximo plantão só seria no dia seguinte, então decidi visitar meus pais e minha irmã mais nova que estava na cidade, pois a faculdade dela estava em recesso.

Assim que toquei a campainha minha mãe saiu correndo e me atendeu toda feliz da vida:

- Que surpresa maravilhosa, filha!
- Oi mãe...

Meu pai veio todo sorridente também me cumprimentar, até parecia que estávamos num comercial ridículo de margarina:

- Oi filhota, tudo certo?

Bati a porta atrás de mim e fiquei encarando os dois, esperando que me explicassem o motivo de tanta felicidade:

- O escritório da sua mãe acabou de ganhar mais uma causa! - informou meu pai.
- Parabéns, mãe! - comemorei.

Nos abraçamos, então minha caçulinha resolveu dar as caras:

- Maninha, ainda bem que você chegou, eu estou precisando conversar mesmo com você...

Era incrível como a Lia me lembrava os meus tempos de adolescência, ela ainda era sonhadora e vivia a vida com uma leveza extraordinária:

- Aqui ou vamos dar um passeio?
- Tanto faz...

Queria ficar perto da minha família, mas não podia ignorar a minha irmãzinha. Subi até o quarto de Lia que permanecia igual desde que ela completara quinze anos.

Só de ver o tapete rosa felpudo e o papel de parede a minha rinite já ameaçou atacar. Lia se jogou na cama e então disse:

- Eu sei que vai parecer ridículo para você esse meu dilema, mas eu não quero falar com o papai e com a mamãe sobre isso...

O que poderia ser? Minha mãe e minha irmã eram melhores amigas desde sempre, até pareciam a Lorelay e a Rory de Gilmore Girls de tão grudadas que eram:

- Você sabe que eu e o Levi estamos juntos há um tempinho, não sabe?

Assenti.

- Então, você sabe que eu gosto de ir à igreja e fiz primeira comunhão e fiz aquele pacto lá...

Nossos pais não são católicos fervorosos, mas fizeram questão que nós fossemos batizados e que fizéssemos a primeira comunhão aos onze anos de idade.

Sei muito bem sobre qual pacto a minha irmã está falando, na real eu acabei fazendo isso influenciada pelos Jonas Brothers porque achei romântico demais perder a virgindade só depois de casar, mas assim que as coisas entre eu e o Henrique começaram a esquentar eu passei pelo mesmo dilema da minha irmã.

Meus pais nunca foram muito rígidos em relação à isso, eles sempre me falaram das três regras para saber que chegou a hora: (1) A pessoa certa, (2) O lugar certo e (3) Ter vontade.

Mas ainda assim toda vez que as coisas esquentavam a única coisa que vinha na minha cabeça era o seguinte versículo da bíblia: "Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos?" 1 Coríntios 6:18-19.

Eu queria muito seguir em frente apesar do medo da dor, eu confiava no Henrique, sabia que ele era o cara certo e vontade não me faltava, até que aos dezoito anos, em uma das minhas viagens para cá eu pedi para conversar com a minha tia Alice e abri o jogo:

- Tia, eu estou com o Henrique há uns tempos e bom, eu quero muito que aconteça aquilo, mas eu estou insegura...

Então expliquei sobre a primeira comunhão, sobre o versículo bíblico e sobre o medo de decepcionar meus pais, principalmente a minha mãe, foi aí que a minha tia me deu um dos conselhos mais sábios que eu recebi até hoje:

- Querida, sinceramente, o que importa é o que você acha certo, se você realmente ama esse garoto e tem certeza absoluta de que ele é o certo para isso eu não vejo motivos para Deus se zangar ou ir te mandar queimar no fogo do inferno porque Deus é amor...

O que ela estava falando fazia sentido, pelo menos para mim fez todo o sentido do mundo, então eu falei:

- Mas e meus pais?
- Seus pais te amam e eles querem o melhor para você, se eu fosse você eu conversaria com eles sobre isso, talvez não com o seu pai, mas com a sua mãe, com certeza... Ela vai compreender...

Aceitei o conselho e fui atrás da minha mãe e falei toda a verdade para ela me disse que a única coisa que eu queria era que eu me prevenisse, então me levou na ginecologista e assegurou que eu tomasse anticoncepcional e também que eu aprendesse como me virar.

Contei tudo isso para a Lia e enquanto narrava tudo isso foi como se eu visse a história passando na minha cabeça, tipo um filme mesmo:

- E como foi no final?
- Deu tudo certo, num fim de semana os amigos que o Henrique dividia o apartamento foram para um congresso e nós pudemos ficar a sós, então preenchi o último requisito da minha lista "o lugar certo" e eu não me arrependo, nunca vou me arrepender...

Logo depois disso minha mãe nos chamou para comer hot dogs e nós descemos, Lia parecia bem mais calma e foi ótimo reviver o meu passado por alguns minutos.

Eu estava mais pronta do que nunca para finalmente tentar seguir em frente, Henrique foi importante na minha vida, mas eu finalmente tinha percebido que eu não podia mais ficar nessa, tinha que tentar reagir.

Eu estava mais pronta do que nunca para finalmente tentar seguir em frente, Henrique foi importante na minha vida, mas eu finalmente tinha percebido que eu não podia mais ficar nessa, tinha que tentar reagir

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Nunca me deixe - Livro 07 (Série Família Cavallero) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora