The sky is crying

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Aziraphale gostava das nuvens, gostava de seus formatos, os desenhos que elas formavam. Isso alimentava sua imaginação e um escritor precisar ter sua imaginação alimentada com frequência. Ele precisa de inspiração também. Sua maior inspiração era Deus, Deus e seu puro amor – Deus era isso, amor. Aziraphale poderia ser considerado religioso apesar de não frequenta nenhuma igreja. Igrejas, lugares tão bonitos que muitas vezes pregavam o ódio invés do amor. O escritor fora criado no evangelho de Jesus Cristo, sua família tinha o amor que Jesus ensinara como base. Seus pais também evitavam igrejas, poderiam adorar no conforto de suas casas. Para ele e sua família, as únicas palavras válidas da bíblia eram as de Jesus, o restante poderia ter sido manipulado ao favor de cada escrivão, mas não as de Jesus.

Aziraphale fora criado no evangelho de Jesus mas, era aberto a cada religião, tudo que envolvesse amor e respeito ele interpretava para sua vida. Com essa descrição ele pode parecer um hippie, mas na verdade parecia um burguês francês. Mas sua aparência não demonstrava sua essência.

O loiro passou toda sua infância e adolescência visitando diferentes igrejas com seus pais, ele gostava daquilo, não se sentir preso mas livre para conhecer todas. Seus pais nem tanto, no entanto, ficavam felizes ao ver os filhos se divertindo com o conhecimento. Tudo se tratava disso, conhecimento, uma longa buscar por conhecimento.

Por um tempo se encantou com o catolicismo e seus documentos antigos, até pensou em ser padre. Depois pelo mormonismo, e logo depois pelo budismo. Ainda meditava por influencia do último. De forma direta, a religião tinha uma forte ligação com ele.

Através de escrituras sagradas ele começou a ler profecias. Era seu gênero favorito, tinha orgulho de ter exemplares únicos em sua biblioteca e livraria. Foram as profecias que o levaram a escrever o livro de Agnes Nutter. Foram as profecias que o fizeram acreditar que o futuro já está destinado e que nada deve mudá-lo – até porque não pode ser mudado. E quando pensamos que mudados ou fazemos escolhas diferentes estamos mudando nosso futuro, na verdade não estamos, mudarmos ou fazermos escolhas diferentes, já estava destinado para nós. Nosso futuro estava traçado desde o momento do nosso nascimento, provavelmente antes mesmo disso, traçado com o passado de nossos pais, avós e bisavós.

Sabendo disso, ele não se preocupava tanto com o futuro, de qualquer forma não poderia mudá-lo, mas gostava de pensar sobre. Se tomasse tal decisão, o que aconteceria? Ele estava destinado a tomá-lo? A que fim levaria? Ele poderia passar horas pensando nisso, estimulava sua imaginação. Era um escravo do destino.

- Talvez seja isso... um escravo da poesia – pensara em voz alta.
De fato, ele era. Toda semana Aziraphale escrevia poemas, extravasar os sentimentos, os pôr em um papel era a melhor forma . Quando não escrevia se sentia carregado, porém não podia se forçar a fazê-lo, não funcionava assim. Ele tinha que sentir, caso contrário escreveria linhas vazias.

- Acorde, Aziraphale. Aziraphale. Você tem um compromisso – Disse Uriel interrompendo a linha de pensamento do loiro – Pelo menos já está pronto.

- Sim, sim, vamos indo.
Ah, o compromisso. Abrira uma galeria de arte em Cambridge, e como um amante do classicismo ele não poderia faltar.

Logo eles chegaram na galeria. Havia muitas pessoas, alguns poucos famosos. Sobre o espaço, era bastante elegante, espaçoso e muito bem escolhido. Havia pinturas no teto que desciam até a parede, bancos dourados com estofado vermelho, lembrava Versalhes. Só faltava o cômodo com espelhos.

E ali estava a pintura que o escritor queria ver. O Anjo Caído, de Alexandre Cabanel, pintada em 1868. Era cem vezes mais bonita pessoalmente, cada detalhe, cada tonalidade, cada traço hipnotizava. A perfeição da única lágrima em seu rosto, as pernas delicadas, o olhar raivoso... perfeito. O que Aziraphale não faria para ter aquele quadro em sua sala de estar?

- Anjo Caído, 1868, por Alexandre Cabanel – a voz familiar sussurrou em seu ouvido arrepiando cada pelo que tinha ali – Olá, meu anjo.

O escritor quase pulou, ainda sem olhar para o conhecido, ele ouviu a risada baixa do mesmo. Crowley, porque sempre me perseguindo? Ele se perguntou. Não é que Aziraphale se incomodasse com isso, era apenas inesperado.

De qualquer forma, ali estava o cantor. Vestido de preto como sempre, uma calça justa, os óculos escuros, os cabelos caídos sobre os ombros e um sorriso de lado. O próprio retrato de uma estrela do rock.

- Olá, Crowley. Não esperava encontrá-lo aqui – Disse Aziraphale com sua voz agradável.

- Imagino que não, senão não estaria aqui – O ruivo afirmou com um meio sorriso. Ele sabia que sua presença deixava Aziraphale levemente desconfortável. O escritor ficara um pouco vermelho de vergonha com aquela afirmação, percebendo isso, Crowley mudou de assunto. – Lindo, não? Cada detalhe, cada retoque.

- Sim, de fato é. Cabanel é meu pintor favorito, cada trabalho seu demonstra um grande grau de profissionalismo e perfeccionismo.

Crowley assentiu. Era estranho estar ali, o cantor gostava de arte mas nunca tinha ido em uma galeria aberta ao público, e a única vez que aceitou o convite para ir em uma em horário de funcionamento encontrou Aziraphale. Ele não sabia dizer se era azar ou sorte. Aziraphale pensava o mesmo. O escritor não sabia porque tentava evitar Crowley, ele apenas sentia que era o certo a se fazer.
Talvez pela fama de mulherengo do cantor... bem mas ele não era uma mulher – e muito menos queria se envolver com Crowley. Nem sequer sabia a orientação sexual do mesmo. Porque saberia?

Os dois continuaram conversando sobre os mais diversos pintores. Foi o único momento que Aziraphale se sentiu confortável e não conseguiu ficar calado, sem ele mesmo perceber Crowley ria disso. Era realmente adorável.

- A Morte De Moisés também é um belíssimo quadro – Disse Crowley.
Aziraphale já ia concorda quando ouviu dos auto falantes que a galeria iria fechar. Por um momento ele se sentiu triste, bem no fundo estava gostando da conversa, ele nunca pensara que o ruivo fosse tão experiente e esperto sobre arte.

- Bem, foi um prazer conversar com você, Crowley.

- É... eu gostaria de continuar essa conversa em outra ocasião... que tal um jantar?

Jantar. Aziraphale engoliu em seco, ele não poderia recusar um jantar, então obviamente aceitou.

Os dois seguiram seus caminhos, Crowley sorria de lado enquanto se encaminhava para casa. Aziraphale pensava se tinha sido uma boa ideia aceitar o jantar.

Bem, já estava aceito, só restara imaginar o que aconteceria em seguida.

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Capítulo editado - 28 de abril de 2020

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