21 - não quero ser um criminoso

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Pov. Matt.

1 Ano depois..

"Você mentiu e esse tempo todo fui uma idiota"

vinha cenas da discussão do aeroporto em meu sonho, e com um susto acabo acordando. Esse é o sonho que vem me atormentando a mais de um ano. Hoje faz exatamente um ano e dois meses desde que a Júlia me deixou, um ano e dois meses em que fui demitido e nunca mais contratado e um ano e dois meses em que fui despejado e moro de aluguel em uma casa de dois cômodos na periferia.

O dinheiro do aluguel desse mês foi gasto em cafés e maços de cigarro, ultimamente eu tenho sido uma ruína de ansiedade com muitas dúvidas e incertezas em minha cabeça, mas sei que de alguma forma irei encontrar a saída, afinal, não existe como sair dessa tempestade se não for descobrindo um jeito.. Estava pensando em o que fazer para conseguir o alimento de hoje quando alguém bate a minha porta.

— quem é? — grito ainda deitado

— é o Tomé. Zinho, abre a porta que é urgência, tá ligado? — tomé era o braço direito do dono do morro e Zinho, era o apelido que me deram desde que me mudei para cá. Caminho até a porta abrindo-a rapidamente

— fiz algo? — pergunto confuso, ele só visitava as pessoas quando precisava muito de algo ou quando o chefe (dono do morro) encomendava a cabeça de alguém

— não, mar precisa fazer antes que seja tarde de mais, tá ligado?

— tô, tô ligado sim — imito ele em um tom de voz debochado

— um ano já na favela e o play boy ainda tá com esse deboche, truta? — ele se altera e eu engulo em seco

— me desculpe — contive meu riso, pois não queria morrer

— o bagulho é o seguinte, rolou uns boatos de que o play boy era doutor antes de vim pra cá..— assinto

— ainda sou, só não estou atuando no momento. — esclareço com orgulho, Tomé revira os olhos.

— pouco me importa. O importante é que o patrão tá doente e não pode descer o morro, faz o favor de vir comigo?!

— sim, claro! — aceito na hora, mega feliz porque finalmente arrumei um bico para hoje e é algo de que eu me orgulhe.

Pego o meu kit médico e sigo o Tomé até a última casa do morro, passo por uns traficantes, digo, seguranças e finalmente entro me deparando com o tal chefe, ele se encontrava em uma situação horrenda. Ele estava com um buraco enorme na cara

— é câncer de boca! — afirmo após a anamnese

— não quero saber o que é. — o tal chefe me encara irritado — Quero saber como se cura!

— Não há cura.

— então ele não serve, Tomé. Mate-o — Tomé assente e destrava a arma. Eu me rendo desesperado

— ESPEREM! — ele tira o revólver da minha cabeça e espera eu falar. — há tratamento! O caso dele já está muito avançado para uma possível cura, mas ainda há tratamento.

— é sério mesmo? — pergunta o chefe e eu assinto.

— sim, mas só com esse kit que tenho agora, é impossível atuar.

— me fale o que precisa e o Tomé providenciará

— Irei precisar de muitas coisas, mas só se encontra lá em baixo em farmácias de alto custo

— nenhum dos meus pode descer. A polícia está fazendo ronda lá em baixo, e conhece cada um de nós. Você vai ir! — ordena ele

— eu? — engulo em seco. Ser preso era o que estava faltando na minha lista de desgraças

— sim, você é todo burguêszinho ninguém vai desconfiar que trabalha para mim

— mais eu não trabalho mesmo.

— a partir do momento que entrou por aquela porta você trabalha! E aí de você se ousar me trair — não disse nada, não estava preparado para entrar para o mundo do crime

— não quero ser um criminoso, eu sou médico, um professor de medicina! não um marginal! — o dono do morro e o Tomé se racham de rir da minha cara

— fica tranquila, boneca. Você não vai ter que vender drogas ou o seu corpo.. sua única e exclusiva função é cuidar da saúde do chefe, ou seja, ser médico! — respiro aliviado. — de quantos pau você precisa? — já morava aqui há um bom tempo, então já entendia algumas das gírias do morro.

— medicamentos para o caso dele custa muito caro, vou precisar de no mínimo uns 30 mil

— certo. Levará 50 e se precisar de mais me liga e o Tomé dará um jeito de te enviar

— mas como vou descer com todo esse dinheiro sem ser suspeito?

— tem carro?

— não, fui roubado há um tempo atrás

— tem pelo menos habilitação?

— tenho.

— então vou te arrumar um carro, já que vai ter que me ajudar sempre. Vai até a sua casa e me trás seus documentos. Iremos comprar um carro legalmente seu, rápido!! — ainda não acredito que isso está realmente acontecendo comigo

— sim, senhor

— traga suas roupas também, irá morar aqui a partir de hoje.

— sério? mas por quê?

— porque você vai ser a babá do chefe a partir de hoje — diz Tomé

— certo. — Vou para minha casa, arrumo todas as minhas coisas e volto pra a última casa do morro

— trouxe seus documentos?

— sim, eu trouxe tudo.

— então venha — deixo minha mochila com as minhas coisas no sofá e sigo eles até um grande pátio de carros que ficava atrás da sua casa — escolha um carro, será seu aconteça o que acontecer..

— sério?

— sim. Também tenho um dinheiro limpo, Sr. não quero ser um criminoso.. — ignoro eles e ando em torno dos carros, e finalmente acho um lindo. Era uma Mercedes preta, 2018. Novinha!

— quero essa. — falo com toda certeza.

— espertinho.. foi no meu preferido, prepare a papelada Daniel — ele fala com o dono do pátio, depois de ter feito isso voltamos para dentro e faço um curativo em seu rosto até eu voltar com os medicamentos

— pronto, isso aguenta até eu voltar

— dá para até depois de amanhã?

— não, isso aguenta no máximo até às nove

— Você deve ficar lá em baixo pelo menos dois dias para não criar suspeita.

— mas e os medicamentos?

— me ensine como fazer os curativos e eu mesmo farei até você voltar. Quando descer eles provavelmente vão te parar, você deve dizer que veio do exterior e queria visitar sua prima que mora aqui. Mas ela não estava e você esta com muita pressa pois é um homem de negócios. Eles pediram os documentos e ao ver que está tudo em dia te liberarão.

— certo. — capto cada comando

— agora vá, seu carro já está pronto. Tem um dinheiro a mais para você ficar lá esses dois dias.

— certo.

Ao entrar no carro confiro os documentos e ao ver que estava tudo certo, arranco o mesmo partindo para fora da comunidade. Como o dono do morro disse, os guardas realmente me pararam, mas repeti oque o chefe disse e eles acreditaram e me liberaram. E como havia sido ordenado ligo para o chefe

— passei, chefe.

— certo, o dinheiro está em baixo do tapete do motorista

— quê? — fico boquiaberto

— é isso mesmo. Não te disse antes, para não ficar nervoso e dar bandeira

— certo, estarei de volta o mais rápido possível.

— belê. — ele desliga e prossigo para um hotel na cidade

ELE - Livro 1 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora