Capítulo 4

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Abri a porta de casa e fui direto para o sofá, minha mãe chegou na sala sem entender por que eu me joguei no sofá, já que sempre vou direto ou para a cozinha ou para o meu quarto depois de falar com ela. Hoje não tive forças nem de procurá-la pela casa.

Mandei uma mensagem para Laura avisando que já estava em casa. Daqui a pouco ela deve estar vindo.

Conversei um pouco com a minha mãe e ela me disse que teria dois casamentos esse fim de semana, então já sei que vai estar muito ocupada. Ela trabalha com organização de festas, cerimonial e decoração desde que ela e meu pai se separaram, e é realmente muito boa nisso!

Comecei a falar sobre meu dia e contei da reunião com os diretores; ela fechou a cara. De novo com essa implicância sem sentido, ela levantou e foi para a cozinha deixando claro que não pretendia continuar a conversa, me deixando sozinha na sala.

Então tomei forças para levantar e ir tomar meu banho. Hoje eu não precisaria comer, por isso poderia ir logo para a cama, fui em direção à escada quando o telefone começou a tocar, voltei para a sala e pela bina vi que era meu pai.

─ Oi pai! Quanto tempo!

─ Pois é filhota, você não me liga!

─ Ah, você sabe, está tudo muito corrido e agora estudando e trabalhando, tenho chegado muito tarde em casa. Como você está?

─ Estou bem princesa, estamos numa boa maré e as vendas têm aumentado bastante, o dono da loja está bem contente com os resultados e talvez eu seja promovido a gerente.

Meu pai trabalhava como supervisor numa empresa de serviços de motoristas executivos, a InCar, quando morava com a gente. Depois que se mudou arranjou um emprego numa concessionária local e, pelo visto, está indo bem com a venda de carros.

─ Uau! Que bom pai! Então o salário também deve aumentar né?

─ Creio que sim, mas vamos ter calma, ainda não tem nada certo.

─ Ah, mas se você conseguir vai poder planejar vir me visitar nas férias, que tal?

─ Filha, já conversamos sobre isso. Você sabe que não tem como eu ir para aí!

─ Não pai, não sei, porque você e a mamãe sempre me deixam de fora de tudo. Enfim, eu não acreditei mesmo que você poderia vir... só falei para ver qual seria a desculpa dessa vez.

─ Filha, não vamos discutir sobre isso de novo... Como tem sido seu trabalho? Sua mãe me disse que está preocupada, que acha que você não deveria ter ido trabalhar nessa empresa.

─ Está muito bom, parece que lá é o único lugar que eu posso ter algum tipo de incentivo e reconhecimento, já que você e a mamãe teimam em querer me desacreditar e me subestimar. Pai, estou muito cansada, você vai querer falar com a minha mãe? Se não vou ter que desligar.

─ Não, eu liguei só para falar com você mesmo.

─ Então, como eu disse, estou muito cansada, hoje o dia foi muito trabalhoso, espero que você consiga o cargo de gerência... beijo, boa noite!

─ Boa noite, princesa!

Desliguei o telefone nervosa, como sempre fico quando falo com ele. Me entristece ele nunca vir me ver, por mais que eu diga que não. Mas eu não aprendo e toda vez faço algum esforço para tentar que ele venha e no fim, ele sempre dá uma desculpa que me desmorona. Já devia estar calejada, mas parece que gosto de sofrer.

Subo os degraus pisando forte e entro num banho morno na tentativa de me acalmar e esquecer. Laura bate na porta do banheiro me avisando que já chegou, saio enrolada na toalha e vou para o meu quarto.

Ela já está deitada na minha cama com seus cabelos claros esparramados pelo travesseiro, com um sorriso bobo na cara.

─ Que cara é essa? Estava com o Ítalo?

─ Hummmmmm estava! Ai Helô, estou tão apaixonada! ─ Ela fala rolando na cama.

Eu reviro meus olhos e faço cara de nojo, ela morre de rir com a minha resistência ao amor.

─ Você faz essa cara por que ainda não se apaixonou por ninguém!

─ Minha mãe se apaixonou e olha no que deu! Sozinha no mundo com uma filha.

─ Ai Helô, sua mãe é um caso, você não pode achar que todos os relacionamentos estão fadados ao fracasso só por que o dela não deu certo.

─ Nem você pode achar que todos vão dar certo!

─ Não, mas por isso você nunca vai se arriscar a amar alguém? Por medo?

─ O fato de eu não querer me apaixonar não quer dizer que eu não possa curtir e nem quer dizer que eu não torça pelo seu namoro! Então vai na fé!!! ─ Digo isso rindo e me jogo na cama ao lado dela já vestindo meu pijama de florzinha.

─ Vai, então me conta tudo, por que eu não entendi nada quando você de repente decidiu sair depois do trabalho quando já tinha dito que viria direto para casa, principalmente porque tinha algo que você queria muito me contar! E você sabe que eu odeio quando você faz isso comigo...

─ Hahaha, sabia que você já estava se roendo de curiosidade, deve ter expulsado o Ítalo, tadinho, assim que mandei a mensagem...

Eu bocejei de sono e ela me deu uma cotovelada no braço.

─ Ei! Pode ir acordando! É claro que eu expulsei ele, e é claro que estou morta de curiosidade! Então desembucha!

Comecei a contar tudo desde o início, dos bonitões do elevador, que a Olívia era a namorada do Téo, que o Guto - Augusto - era gerente administrativo e que ficou comigo no bar e as conversas...

─ Ah Helô, você é muito bobinha mesmo!!! Tá na cara que ele tá dando em cima de tu!

─ Deixa de ser louca! Claro que não, ele é todo estranho e sério, só foi simpático por eu ser nova na empresa!

─ Ué talvez ele não saiba muito bem dar em cima das pessoas!

Caímos na gargalhada, imaginando várias situações dele dando em cima de alguém desastrosamente...

Passou mais alguns minutos de conversa fiada e ela foi para casa e eu fui dormir.

Acordei suada e sentada na cama 3 horas depois com mais um dos pesadelos de sempre. Eu perdida em algum labirinto escuro e as paredes pegavam fogo e estava tão quente, parecia muito real... Dessa vez acho que não devo ter gritado tanto, pois minha mãe não veio me ver. Peguei o copo d'água que ficava ao lado do abajur, que claro, estava ligado como em todas as noites, bebi e depois tentei, sem sucesso, pegar no sono de novo.

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