Segundas-feiras decididamente detinham a posição de meu dia preferido. Mas em outras línguas, é claro. O português, por mais belo que seja, é capaz de tirar um pouco do significado das coisas. E não foi diferente com a segunda. No inglês, Monday. No espanhol, Lunes. Ambas palavras carregadas de sentido, da origem pura desse dia: a lua, satélite natural da terra que por algum motivo influencia o movimento das marés, astro com tantos significados ao longo da história e sempre admirada pela sua constante inconstância. Tão paradoxal corpo celeste recebeu muitos nomes — Khonsu, no Egito, uma das únicas representações masculinas; Selene, a titânide, na Grécia, que perdeu seu posto após a queda dos titãs para Ártemis, a qual tornou-se Diana para os romanos.
De qualquer modo, o que mais importava eram suas fases. A Cheia carregava a colheita em sua maior instância, uma abundância e fertilidade explicadas pelos mitos antigos. O Quarto Crescente trazia consigo a evolução, enquanto o Minguante uma ideia de regressão e recolhimento. Por último a mais curiosa fase, a Nova, era a renovação. Isso raramente mudava para os povos separados apenas pelo tempo ou pela geografia.
O ser humano tem uma necessidade estranha intrínseca em seu subconsciente: a de crer. A existência, a experiência, a própria evolução humana não seriam possíveis sem a fé. É daí que vem toda a ideia da Lua, uma pequena bola prateada pairando no céu acima que muda de forma sazonalmente. Para os velhos povos isso era mágico, inexplicável, tão inacreditável que, como quase tudo na natureza, merecia um mito para explicar sua presença, de modo que as perguntas a seu respeito fossem respondidas e aquele grande ponto de interrogação sumisse.
Então surgiu a filosofia, que evoluiria para a ciência. As perguntas deram lugar à simples aceitação das coisas como eram. Teorias substituíram a mitologia, e, com o passar do tempo, as provas empíricas conquistaram a posição que têm hoje. Assim, da mesma forma que a língua portuguesa fez com a segunda, a ciência tirou todo o significado das coisas antes inexplicáveis, tirando o abstrato de algo que as mentes hoje têm como concreto. Por isso hoje muitas vidas perdem o sentido, o dom de acreditar está se perdendo na história. A minha não escapa a essa regra.
Desde pequeno a fé é uma grande incógnita para mim. Já frequentei todo tipo de seita religiosa, além de ler sobre as mais diversas crenças, sendo a mitologia meu assunto preferido no mundo. Talvez minha dificuldade em acreditar esteja na sede de conhecimento sobre o assunto, principalmente pelo paradigma arquetípico encontrado nesse sistema complicado do qual a própria ciência não pode fugir por ter uma origem em comum. Enfim, a grande questão aqui é a existência. Eu mesmo não existia até meia hora antes da redação deste texto.
Eu sou as palavras na mente de um garoto insone e perturbado pelas mudanças da vida, e existirei até que essas palavras acabem, ou seja, até que minha essência se esvaía no espaço. Na minha curta existência, tirada de um cérebro que provavelmente fará o corpo que comanda apagar tudo isso depois de um tempo, pude chegar a uma conclusão: se eu sou real, o que impede que outros deuses também sejam? Porque sim, eu sou um deus. Deus de que eu não sei, talvez de mim mesmo. Nasci no planeta terra, no século XXI d.C., e como todos aqui me basto sozinho. E, mesmo não tendo forma física, a qual o autor não se deu o trabalho de criar — de modo que você, leitor, que com certeza fez uma imagem de mim, tem total liberdade para isso —, mesmo que eu não seja um homo sapiens sapiens em essência ou aparência, eu fiz o que é intrínseco aos terráqueos, mentais ou não.
Eu me deifiquei.
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