cant help falling in love

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Outubro, 27.

A chuva torrencial atrapalhava os passos de Camila até o bar no outro lado da rua, com uma jaqueta cobrindo a cabeça e as botas fazendo barulho no asfalto molhado. Ela xingava alguma coisa que somente ela escutaria, estava extremamente brava por ter marcado um encontro justo com esse clima irritante e ainda mais brava por saber que não podia fazer algo para mudar, então apenas usou a mão livre para empurrar a porta de madeira do local e logo ouviu um sino tilintar acima de sua cabeça, balançou os braços na tentativa falha de afastar as gotas d'água por todo seu corpo assim que estava segura da chuva.

Logo que parou de resmungar e ergueu a cabeça, percebeu alguns olhares voltados para si das poucas pessoas que ali estavam. Pigarreou e foi em direção aos banquinhos na frente do bar; pensou que seria estranho sentar em uma mesa agora que não tinha ninguém a acompanhando, esperaria até que a garota com quem havia combinado de se encontrar chegasse. Não podia negar que estava um tanto insegura, pois a conheceu da forma mais convencional que a atualidade podia lhe proporcionar: um site de relacionamentos. Não havia garantia de que a garota não fosse nada daquilo que mostrava nas fotos, ou, pior ainda, que sua personalidade fosse completamente vazia ou obscura demais. Porém após um longo tempo sem ter a coragem – ou se quer vontade – de conhecer uma pessoa nova, achou que seria bom ir atrás disso, mas agora estava ponderando se não era melhor ter ficado em casa assistindo Breakfast At Tiffany's pela centésima vez tomando seu chá favorito – abacaxi com hortelã. Estava começando a divagar e sentir vontade de ir embora por conta de todas suas inseguranças, por conta disso achou que seria melhor tomar algo para acalmar os nervos.

Enquanto aquele líquido amargo mas ao mesmo tempo aprazível da cerveja lhe tocava a língua, olhou ao seu redor e viu como o lugar era aconchegante. Era iluminado por lâmpadas amarelas espalhadas por lugares estratégicos, e assim como o piso era de madeira, igualmente eram as paredes e o teto causando um visual do jeitinho que ela gostava... Mas acima de toda a decoração e o clima contribuindo para que ela se sentisse em um filme oitentista, o que realmente a cativou em todo aquele cenário foi algo não muito distante de si, talvez uns cinco bancos à direita. A garota usava uma calça verde musgo e uma jaqueta preta um pouco maior que seu tamanho, em mãos uma garrafa de cerveja assim como Camila, bebendo lentamente e olhando para a pequena televisão pendurada logo a frente de ambas. Sentiu seu interior se desesperar quando seus olhares esbarraram-se um no outro, e ela subitamente desviou a procura de algo mais interessante para observar. Céus, o que tinha acabado de acontecer?

Tomou um enorme gole de sua bebida, e depois mais outro, e em seguida mais um... Começou a se sentir impaciente e resolveu checar o horário para ver se estava muito adiantada ou se a tal garota que estava atrasada demais, bufou e logo foi interrompida de buscar seu celular no bolso traseiro da calça quando uma voz se fez presente do seu lado direito.

– Pode aumentar o volume, por favor? – Era a garota cativante falando com o homem atrás do bar, apontando para a televisão.

Camila ficou tonta por olhar para o lado tão rapidamente, mas pôde ter total noção do que estava tocando assim que a primeira melodia se fez presente em seu ouvido. Can't Help Falling In Love, do Elvis. Suspirou pela ironia de seus pensamentos estarem sendo fortemente confirmados no momento: Ela realmente estava em um filme fora de sua década... ou ela simplesmente sonhava alto demais e desejava veemente que pudesse um dia viver o conto de fadas que tanto ansiava, que se colocava em situações que não existiam de fato. Fechou os olhos por breves segundos e então cantarolou a frase que viria a seguir.

Take my hand...

Take my whole life too. – Se assustou com o timbre rouco ao seu lado seguindo sua melodia, mas assim que seus olhares encontraram-se mais uma vez ela foi obrigada a sorrir.

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