twenty seven butterflies

dressed in black from head to toe

Logo quando acordamos, nossa mente precisa um milésimo de segundo para se situar e nos mandar a informação de onde estamos e o que aconteceu na noite anterior, muitas vezes até isso ocorrer de fato ficamos com um completo branco presente em nossos cérebros, um vazio que nos faz ficar confusos sobre onde estamos, o que temos para fazer no dia, o que fizemos antes de dormir, e todo esse tipo de coisa. Camila gostava desse mísero segundo em que nada lhe vinha a mente assim que despertava, gostava da ideia de ter uma amnésia temporária para logo depois tudo já a atingir, achava estranhamente interessante nossa mente se embaralhar e se perder mas logo depois recuperar tudo em um piscar de olhos. Era nesse sopro que ela mais se sentia em paz, ao abrir os olhos após dormir boas horas e não se lembrar nem qual a data do seu próprio aniversário praticamente, se sentia em paz e livre de toda a bagunça de sua vida.

Um milésimo de segundo.

Era todo o tempo de paz que ela tinha.

Passou tão rápido que ela desejou dormir de novo só para ter sua memória apagada por pouco, mais uma vez no dia. Pois agora já estava sentada na mesa da cozinha segurando uma xícara de chá com as duas mãos e os olhos fixos em um ponto aleatório que não sabia dizer exatamente qual era. Deu um pequeno pulo quando ouviu batidas na porta e logo respirou fundo se forçando a focar no pingo de paciência e calma que ainda lhe restavam.

– Oi. – Disse Keana com um tom desanimado assim que entrou pela porta.

– Oi, obrigada por vir.

A garota murmurou um "uhum" e se sentou à mesa bem a frente de onde a xícara de Camila estava.

– Vamos acabar logo com essa briga? Eu não aguento mais ficar assim, você sabe que eu odeio – para a surpresa dela, Keana foi a primeira a falar algo.

– Você sabe que sempre voltamos a nos distanciar por conta desse assunto porque sempre varremos tudo para de baixo do tapete. –Camila colocou sua xícara de lado e se forçou a manter uma postura madura por mais que quisesse surtar e gritar tudo o que andava enterrando dentro de si apenas para não magoar a outra garota. – Você sabe que é complicado para mim falarmos disso, mas acho que agora precisamos.

– Por que?

– Porque você anda me escondendo coisas!

– O que? – Questionou indignada. – Está dizendo que eu estou te traindo?

Camila suspirou pesado.

– Eu não disse isso... Mas você de fato está me escondendo alguma coisa, e você sabe muito bem do que e de quem eu estou falando.

– De novo vamos falar sobre a Sophia? É sério?

O estômago de Camila se revirou, sentiu um arrepio pelo corpo inteiro e sua expressão se fechou no mesmo instante.

– Já disse que não gosto de ouvir o nome dela! – Gritou.

– Então como vamos falar sobre isso? Como vamos resolver toda essa situação se você não gosta que falemos claramente sobre tudo?

– Eu não sei!

– Pare de gritar!

Ficaram em silêncio se encarando, Camila sentindo que estava a beira de um ataque, e Keana completamente neutra. A discussão prolongou por mais alguns suspiros impacientes e gritos de ambas as partes, Camila odiava falar sobre isso, nunca havia se sentido tão insegura em sua vida como e sentia sobre esse assunto. Sophia era uma garota que costumava ser apaixonada por Keana na época da escola e agora haviam se tornado amigas, isso deixava Camila em uma posição em que nunca tivera ficado antes, odiava ouvir o nome da garota, ou se quer pensar nisso. Tinha um pressentimento muito ruim, uma intuição muito forte sobre isso. Keana não a entendia, dizia que não existia nada mais do que amizade entre elas, mas sempre estava escondendo quando conversava com ela, não dizia quando saía com ela... Por mais que ela confiasse no caráter de sua namorada e soubesse que ela nunca a trairia, não podia impedir a si mesma de ficar completamente insegura.