Capítulo 18

2.6K 216 5
                                    

Pov. Alice

Estava na plantação, quando senti algo me incomodando. Não sei o que é, mas tenho a sensação de que algo ruim está pra acontecer. Sei que não é comigo, mas com alguém importante pra mim. Parece que Lily também tem essa sensação, porque está de mal humor e bastante inquieta. O bom é que já temos tudo pronto para voltar para casa.

Quando Lara me disse que não havia nada para cozinhar, já que Edward não havia feito o pedido, não pensei duas vezes, peguei a bebê e caminhonete. E aqui estamos, com alimentos que dará para cerca de uma semana e Lara está feliz.

- "O que está acontecendo?" - Lara me pergunta quando se senta no banco de trás na caminhonete junto com Lily.

- "Não sei, só tenho um mal pressentimento. É melhor você colocar o sinto de segurança, eu vou dirigir rápido mas com cuidado."

Vejo ela se assegurar que Lily está bem presa no bebê conforto e depois colocando o cinto de segurança. Respiro fundo e piso no acelerador.

Chego em casa em 10 minutos mas o que chama atenção é que Conde está em frente a porta principal relinchando furioso. Quando ele me vê, vem em direção da caminhonete, é como se ele quisesse me avisar que algo de ruim está acontecendo dentro da casa.

- "Lara fique com Lily, acho que aconteceu algo ruim dentro da casa. Chame os meninos para descarregarem as coisas da caminhonete." - digo e ela assente enquanto tira a bebê do bebê conforto.

Entro em casa e a primeira coisa que vejo é uma pequena bolsa de couro e não precisa ser um gênio para saber que essa bolsa é de Aline. Se eles não estão na sala com certeza estão no escritório, já que não acho que estejam no quarto. William me jurou que jamais me magoaria ou me trairia, e eu confio nele.

Ao entrar no escritório, fico surpresa com o que eu vejo. Aline está sentada no colo de William o beijando. Quando termina o beijo, observo que o corpo de William está estranho e eu não gosto disso. Então uma raiva percorre cada partícula do meu corpo quando vejo que ela o acaricia.

- "Solte ele agora, cachorra!" - eu digo.

Ela se surpreende ao me ver e não está esperando quando eu agarro o seu cabelo e a tiro de cima de William.

Me aproximo dele, ele me vê e quando ele olha nos meus olhos, eu não gosto do que vejo. Eles estão vermelhos e não brilham como sempre fazem. Quando acaricio o seu rosto, ele suspira e fecha os olhos.

- "William abre os olhos.... William?"

Maldita seja!

- "Ele está bem, só está drogado." - Aline diz enquanto massageia sua cabeça.

- "O que você deu a ele?" - eu grunhi.

Me aproximo dele tentando reconhecer o cheio do que ela lhe deu. Há um cheiro que me é familiar, mas não consigo assegurar o que é.

- "É uma erva que eu consegui com uma indígena. Ela pegou uns pedaços de pau e o moeu até que ele virou um pó. Ele só vai ficar imobilizado por algumas horas. Bom, foi isso o que ela disse."

- "Quanto você deu a ele? Qual era essa erva?" - digo enquanto balanço William para que ele acorde, mas nada acontece.

- "Dei todo o frasco e não me lembro do nome da erva. Algo não sei de que santo."

Fecho os meus olhos com força. Tomara que não seja a que eu estou pensando.

- "Monte santo ou pau-santo?"

- "Acho que ela disse que se chamava pau-santo." - arregalou os meus olhos totalmente surpresa.

- "Você é idiota ou o que? Essa erva é perigosa. Inclusive chega a ser mortal."

Me aproximo dela e lhe dou uma bofetada em ambos os lados da cara. Agarro os seus cabelos e caminho com ela até a porta. Eu a empurro e ela vai de joelhos. Entro na casa, pego sua bolsa e jogo nela. Não me importei nenhum pouco quando a bolsa bateu em seu rosto.

- "Sua imbecil, isso doeu." - Aline grunhiu pra mim e eu a ignoro

- "Edward, me ajude a levar William para a caminhonete. Charme quantos homens precisar mas faça o mais rápido possível. William não está bem." - ele assente e vai com mãos dois homens para dentro da casa. - "Lara fique com Lily e não deixe que nada aconteça a ela." - ela também assente e vai com a bebê para dentro de casa. - "Lucian, vá atrás do meu pai e peça para ele trazer o chefe de polícia e depois peça para ele me procurar na casa de Dona Nila. Tomás, pegue essa cachorra que está se queixando no chão e não deixe ela fugir. Se for necessário tranque ela na dispensa. Se ela fugir, você me paga." -

Não sei de onde saiu essa parte de mim mas estou furiosa. Sem questionar nada, os dois fazem o que eu pedi sem pensar duas vezes.

Segundos depois, os homens saem em companhia de Edward carregando William e o colocam na caminhonete, digo para Edward dirigir até a sua casa, mas antes de irmos digo a Conde; que está desesperado por causa do seu dono, para ir para o estábulo.

Subo na parte de trás da caminhonete, acomodo a sua cabeça em minhas pernas. Edward começa a dirigir. Durante toda a viagem falo com o meu marido mas ele não reage, lágrimas querem sair mas eu não deixo, preciso ser forte.

Minutos depois chegamos na cabana de Dona Nila. Ela abre a porta para nós quando vê William nessas condições.

- "O que aconteceu?" - Dona Nila me pergunta e Edward me observa.

- "O envenenaram com pau-santo." - assim que eu digo, ela abre amplamente os olhos e começa a procurar algumas coisas. - "Edward vá para a fazenda e quando o chefe de polícia chegar, diga a ele que vamos denunciar Aline por tentativa de homicídio." - ele assente, me dá um abraço e até vai.

Me coloco do lado de William enquanto Dona Nila começa a preparar alguma coisa com as ervas.

- "Tranquila minha menina, ele vai ficar bem. Está é só a primeira etapa para que seja mortal. Você agiu bem." - diz enquanto faz o meu marido bebê algo.

Ao escutar essas palavras as lágrimas que eu estava segurando, saem sem que eu possa deter.

- "Se acalme pequena, não é bom para os seus bebês você ficar desse jeito." - eu olho para ela sem entender.

- "Como...?"

- "Como eu sei? Sua aura mudou e posso distinguir duas novas crescendo em seu ventre, embora haja uma quarta."

- "Mas segundo os médicos são gêmeos."

- "Não estou falando dos seus filhos. Essa luz vem de fora. É o seu anjo da guarda." - eu suspiro. - "Pegue algo para você comer na mesa. Você vai se sentir melhor. Teremos que esperar várias horas e você precisa se alimentar." - ela me diz e eu assenti com a cabeça.

Me dirijo até a mesa, há de tudo para comer, eu me sento em uma cadeira e começo a comer. Essa será uma longa tarde e espero que valha a pena. Não posso perdê-lo, não agora. Penso enquanto acaricio o meu ventre ainda plano.

 
Observação:
Pau-Santo significa "madeira sagrada". O início do uso desta maravilhosa madeira perde-se no tempo, sendo utilizada em rituais indígenas da Pachamama (Mãe Terra), para limpar a casa e o corpo dos pacientes, nas igrejas católicas, nas procissões do Cristo Morado, nos trabalhos com plantas de poder, como a Wachuma, e nas manifestações espirituais dos habitantes da região, tanto dos descendentes do Tawantinsuyo (Império Inca), como dos descendentes dos espanhóis, os quais respeitam e utilizam de maneira religiosa o Pau Santo. Esta árvore também está presente no ritual dos casamentos indígenas. O casal deve plantar uma muda dessa árvore em ausência de testemunhas para ligar os seus destinos e para que a união seja pela eternidade.

 


LIVRO 2: Olhares de Amor - O Perdão (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora